Brasília – Ficou o dito pelo não dito, na primeira reunião do governo com as lideranças sindicais – a exceção da CUT e da CGT, que não reconhecem o governo.
O próprio presidente Michel Temer presidiu a reunião, que contou com a participação do ministro da Fazenda e o czar da economia, Henrique Meireles.
Ato contínuo a reunião, o ministro Romero Jucá anunciava que havia transferido para daqui a 30 dias a discussão sobre a mudança do indexador da dívida dos estados e municípios com a União.
O indexador, ou seja, o mecanismo de correção da dívida é o juro composto que incide sobre o juro simples e por isso os estados e boa parte dos municípios já pagaram a dívida e ainda continuam devendo.
O governo quer usar a negociação do indexador como moeda de troca para o apoio às medidas duras que serão adotadas. A idade para aposentadoria, por exemplo, vai aumentar e as entidades sindicais que aceitaram se reunir com o governo assinalaram que aceitam a mudança desde que sem efeito retroativo, ou seja, só vale daqui para a frente.
Mas, a ausência da CUT e da CGT preocupa ao governo porque a CUT reúne o maior número de sindicatos de trabalhadores e tem maior poder de mobilização.
Se não bastassem esses problemas, Temer enfrenta a desconfiança do PSDB quanto ao compromisso que ele assumiu para não disputar eleição presidencial e cumprir apenas o mandato-tampão de dois anos.
O PSDB vive o dilema de ajudar Temer a governar e depois ser traído por Temer, que se lançaria candidato a presidente se lograr hesito no governo.
A República brasileira do golpe virou o samba do crioulo doido. Temer ainda não sabe por onde começar e, se isso não bastasse, ainda tem o ministro da Justiça, Alexandre de Morais, que deixou escapar na entrevista à Folha de S Paulo a inconfidência sobre a mudança no critério de escolha do procurador-geral da República.
Ou seja, no lugar de os procuradores escolherem os três nomes para o presidente da República nomear o procurador-chefe, o presidente da República é quem vai escolher os três nomes para que os procuradores decidam quem deve chefiá-los.
E, de fato, a Constituição deixa brecha para esse procedimento.