O que se passa? Por que esses jovens estão nas ruas? Eles têm sede de quê? Eles têm fome de quê? E eles protestam contra o quê mesmo?
Não, não protestam contra o aumento na passagem dos ônibus e metrô. Que ninguém acredite nisso, porquanto muitos deles têm carro e não andam de ônibus nem de metrô.
Ninguém me contou. Eu estava lá e vi o protesto no entorno do estádio, antes do jogo da seleção brasileira contra o Japão.
Um dos manifestantes tirou o ingresso do bolso e o rasgou. Lá se foi, no mínimo, 190 reais picados – pensei eu, que fiz de tudo para comprar o ingresso e não consegui.
E aquele jovem de classe média rasgou assim o ingresso para protestar contra…contra o aumento do preço da passagem no ônibus e metrô?!
Foi não; o protesto é contra não sei o quê. E assim, protestando contra não sei o quê, o país está sob suspense. Em qualquer lugar desses 27 estados pode eclodir um protesto a qualquer momento.
Uns não sabem e outros sabem, mas esqueceram ou se fazem de esquecidos, como começou o famoso movimento de maio de 1968, na França.
Começou assim, com um protesto contra não sei o quê.
Esse movimento de maio de 1968, na França, se irradiou pelo mundo seguindo os rastros de uma transformação que as autoridades não perceberam, ou perceberam e reagiram assim mesmo.
1960, a década revolucionária.
1) A revolução musical com ícones iguais aos Beatles, Rollingt Stones, Bob Dyllan, Jimy Hendrix, Jani Joplin, Pink Floyd...
2) revolução sexual promovida pela descoberta da pílula anticoncepcional.
Enfim, a revolução de modas e costumes do movimento hippies.
E um reitor de uma universidade em Paris decidiu proibir os homens de frequentarem o alojamento das mulheres, e vice-versa.
Foi por isso, e só por isso, que eclodiu o famoso movimento de maio de 1968?
Oficialmente sim. Mas, é claro que se tratou apenas do estopim. Naquele ano, a juventude precisava chutar o pau da barraca e chutou.
E continuará chutando, todas as vezes em que achar necessário.
E as autoridades brasileiras, o que fazem?
Ah, iguais ao reitor da universidade de Paris que proibiu os homens de frequentarem o alojamento das mulheres e, com isso, fez eclodir a revolta de maio de 1968, as autoridades brasileiras procuram a causa pisando sobre ela.
Não temos educação, nem saúde, nem segurança pública.
Mas gastamos R$ 150 bilhões para oferecer o circo, que está guarnecido por uma polícia apta para combater o terrorismo internacional, mas incapaz de prender o punguista.
Mata-se gente igual se mata mosquito. Mata-se um menor de 2 anos no colo do pais e corre-se para o abraço da galera.
Queimam-se pessoas vivas como quem queima entulho.
Eu acho que já chegou a hora de a gente saber: esse pessoal tem sede de quê? Tem fome de quê?