Brasília – Ainda hoje, 55 anos depois, nenhum vereador brasileiro por mais votos que tenha obtido conseguiu ultrapassar a votação dada ao “Cacareco”.
Detalhe: o “Cacareco” não era humano e sim um rinoceronte, que estava em São Paulo e foi o vereador mais votado no Rio de Janeiro na eleição de 1959.
Deu-se o seguinte: o zoológico paulista pediu o rinoceronte emprestado ao zoológico carioca, mas não queria devolvê-lo. Os cariocas se revoltaram com a “moleza” das autoridades do Rio de Janeiro em exigir a devolução do rinoceronte, batizado de “Cacareco”, e votaram nele para vereador.
É o vereador mais votado da história da eleição brasileira até hoje.
Na época o eleitor escrevia o nome do candidato; se fosse hoje, com o voto eletrônico, o protesto seria a abstenção ou voto branco e nulo.
As eleições municipais este ano repetiram o protesto em favor do “Cacareco”, com o crescimento geométrico das abstenções, votos brancos e nulos, que mais uma vez registraram número recorde.
No Rio de Janeiro, as abstenções com os votos brancos e nulos suplantaram a votação do prefeito eleito Marcelo Crivella; e o mesmo aconteceu em São Paulo com a eleição do prefeito João Dória.
Ambos perderam para as abstenções, votos brancos e nulos, que é esse candidato incógnito que tem aparecido em crescimento a cada eleição desde 2006.
E entre esses não estão apenas as classe rica e média alta, que optam pelo lazer, mas a classe média remediada que se desencantou.
O pobre que votou no João Dória fê-lo pela expectativa de melhora que o encanto gera, assim como o crente que votou no Crivella se encanta pela expectativa de salvação – ainda que ninguém até hoje tenha provado que se salvou.
A outra parte que votou no Crivella repetiu o voto “Cacareco”, ou seja, o voto de protesto carioca.