Brasília – O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, permanece dando as cartas e lendo a sorte do governo Michel Temer – que, se for confirmado no cargo, já se sabe: Cunha será o primeiro-ministro “imexível”.
Mesmo afastado e proibido de frequentar a Câmara, Cunha nomeou ministro do Temer e, num feito inédito na história da República, escolheu o líder do governo na Câmara e Temer, que tinha outro nome para liderar o seu governo, teve de engolir calado.
Cunha também escolheu o relator do processo que pede a cassação dele na Câmara e quando soube que precisaria do aval de Temer, não hesitou em ir ao Palácio do Jaburu e aguardar, todo refestelado na poltrona para os íntimos, que Temer voltasse da viagem a Goiânia.
Pensemos na cena, num exercício de simples imaginação.
– Cunha, você aqui?!
– Estava lhe aguardando, Temer. Quero dizer que escolhi o relator do processo contra mim. Vai ser o irmão Ronaldo Fonseca, pastor da minha igreja aqui em Brasília, e pessoa da minha mais alta confiança. O que você acha, Temer?
– Perfeito, Cunha. Se você escolheu, então está escolhido. Quem sou eu para contestá-lo. Você é o cara, Cunha!
Resolvido o problema, que nunca foi de fato problema, Temer e Cunha foram então assistir a partida de futebol entre as seleções da Argentina e do Chile.
Mas, não pensem que o poder de Eduardo Cunha se restringe apenas sobre o governo Temer. Pelo menos até agora, Cunha tem demonstrado que também tem poder sobre o juiz Sérgio Moro, que há dois meses está com todas as provas contra a mulher e a filha de Cunha por se beneficiarem do dinheiro da corrupção depositado na Suíça, e nada decidiu até agora.
Aliás, o assunto saiu do noticiário e até mesmo a Operação Lava Jato já pulou de fase deixando a fase que apura as denúncias contra o Cunha para trás. Isso comprova que o Cunha é mesmo o cara do governo Temer.
E o Temer, mais perdido que cego em tiroteio, também voltou atrás no propósito de acabar com o Bolsa Família. Imaginem que a presidente eleita, Dilma Rousseff, havia concedido o reajuste de 9% para o Bolsa Família, mas para vigorar só a partir de setembro, e foi alvo de pesados ataques.
Pois bem, além de manter o Bolsa Família, o Temer anunciou que vai reajustá-lo em 12% e para vigorar já agora em julho!
Ué! Mas o rombo não é de R$ 170 bilhões e como o Temer vai conceder o reajuste de 12% para o Bolsa Família e de mais de 40% para o Judiciário?
Vamos, pois, voltar à pergunta: alguém sabe dizer por que o Temer tem tanto medo do Cunha?