iBrasília – Com quantos golpes se faz uma República? Essa é a pergunta difícil de responder, porque se for a República brasileira ninguém pode responder.
De 1889 até hoje são mais de 20 golpes; há até golpe dentro do golpe.
Também é interessante o fato de os melhores presidentes dessa República brasileira dos golpes terem sido perseguidos.
São eles: Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek, João Goulart e, agora, o Lula.
Os quatro guardam entre si a identidade política coincidente, por terem se aproximado das classes consideradas inferiores.
Getúlio se matou, Juscelino sofreu uma oposição radical e Goulart foi apeado do poder mediante o golpe sórdido recheado de traição e covardia.
Por isso é difícil responder com quantos golpes se faz uma República, porque o exemplo brasileiro é sui generis.
O PRIMEIRO GOLPE
O marechal Deodoro deu o golpe e derrubou Pedro II, depois o Floriano Peixoto deu o golpe e derrubou Deodoro.
Na primeira eleição livre para presidente da República, Floriano não conseguiu impedir a eleição de Prudente de Moraes nem dar o golpe e derrubá-lo. Mas, Prudente de Moraes escapou de morrer graças ao ato heroico de um major que se pôs à frente e recebeu o tiro disparado por um cabo – que estava em forma, durante a solenidade militar de recepção aos combatentes de Canudos.
Detalhe: o cabo era alagoano.
O CAFÉ SEM LEITE
O presidente Washington Luiz rompeu com a aliança São Paulo-Minas Gerais para se suceder no poder, mas para dar o golpe e tomar o poder a oposição necessitava de um fato de repercussão nacional capaz de levar à comoção.
E esse fato aconteceu com o assassinato de João Pessoa, um crime passional que foi transformado em fato político para oferecer o estopim do golpe. Derrubaram o Washington Luiz.
Veio a era Getúlio Vargas, que se divide entre a censura política e as conquistas sociais. E também pelo avanço industrial concomitante com o populismo. Getúlio também foi apeado do poder, em 1945, mas voltou eleito e consagrado pelo povo.
O populismo de Vargas deu munição para a oposição tramar a sua derrubada, até força-lo a se matar.
MUDANÇA DA CAPITAL
O governo de Juscelino Kubistchek foi marcado pela mudança da Capital do País para Brasília, uma cidade construída na prancheta e transportada para a realidade em tempo recorde. Perder a condição de Capital do País aguçou a ira dos cariocas, que empreenderam a campanha virulenta contra Juscelino.
Sem mais argumento para combater a ideia que se materializava, a elite chegou ao ridículo de profetizar que o Lago Paranoá não iria encher. Quando encheu, Juscelino escreveu ao mais ácido dos seus opositores, o Gustavo Corção, só para dizer: “Caro Gustavo. Encheu.”
CAIU, CAIU1 1º DE ABRIL
A eleição de Jânio Quadros deixou a elite em alerta. Jânio também tinha forte apelo populista, ainda que um populismo tresloucado.
E quando Jânio apresentou o pedido de renuncia pensando que não iriam aceitar e ele voltaria fortalecido, estava pavimentado o caminho para o golpe de 1º de abril de 1964.
As turbulências no governo João Goulart eram como ataques programados visando a preparação para o golpe.
Todavia, os tenentes que na década de 1930 apoiaram a derrubada do presidente Washington Luiz eram, na década de 1960, generais. Acima deles havia dois marechais: Castelo Branco e Costa e Silva, e, como antiguidade é posto, os dois foram os primeiros presidente pós golpe.
Em 1969 os generais deram o golpe no golpe e assumiram o poder.
OS MARTíRES DA REPÚBLICA BRASILEIRA DOS GOLPISTAS
Sucederam, então, como verdadeiros mártires da República brasileira dos golpistas, os seguintes presidentes: Washington Luiz, Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek, João Goulart e o Lula.
Eles guardam entre si a identificação com a política voltada para o social e a expansão industrial. Não é por acaso que a Petrobras está na berlinda nessa trama para pegar o Lula e impedi-lo de voltar à Presidência da República em 2018.
Afinal, não se deve esquecer que se trata da República Brasileira dos Golpes, com mártires e algozes.