Brasília – Pode.
– Mas, e o Eduardo Cunha não renunciou à presidência da Câmara?
– Há controvérsias.
– Que controvérsias?! Todo mundo viu ele renunciar. Até chorar o Cunha chorou…
– Há controvérsias…
– Você só sabe dizer que há controvérsias e não me dá resposta às perguntas…
– Não seja por isso. Vamos lá. Você já ouviu falar em Napalm?
– Não.
– Napalm é uma bomba que os Estados Unidos inventaram e que explode antes de tocar ao solo. Foi usada na Guerra do Vietnam para tentar vencer os obstáculos geográficos na selva, com grandes árvores, que impediam a visibilidade dos pilotos.
– E o que isso tem a ver com o Cunha?
– O Cunha é a bomba de Napalm do governo Temer. Se explodir leva o governo antes de o governo colocar os pés no chão. Entendeu?
– Misericórdia…
– É por isso que o Cunha continua dando as cartas…
Sintetizado nesse diálogo imaginário, o poder do ex-presidente ( ex-presidente?) da Câmara, Eduardo Cunha, é tão grande que ele conseguiu dividir o próprio governo Temer no que se refere à disputa pela presidência da Câmara.
Cunha ensaiou aquele teatro da renúncia à presidência da Câmara e igual a um ator até chorou – chorou lágrimas de coxia, claro -, e poucos entenderam o significado prático da renúncia. Sim, porque o significado teórico foi o de passar a impressão ( falsa, claro) de que não manda mais na Câmara.
Na prática, Cunha continua mandando. E manda também no governo Temer, com tanto poder, que dividiu o próprio governo.
Veja o exemplo:
O deputado Rodrigo Maia (DEM) é genro do ministro (apelidado de secretário) Moreira Franco, um dos “generais” do Temer. O genro do Moreira Franco é candidato a presidente da Câmara, mas o Temer não pode se engajar na disputa e pedir votos para ele, embora isso seria até a demonstração da gratidão humana por Rodrigo Maia ter sido, desde o início, favorável a derrubada da presidente Dilma.
E por que o Temer está sendo ingrato com o Rodrigo Maia e, especialmente, com o sogro dele?
Porque o candidato do Cunha é o deputado Rogério Rosso, não é o Rodrigo Maia. Entendeu?
Voltando ao diálogo imaginário:
– Pode isso, Arnaldo?
– Pode. O Rogério Rosso na presidência da Câmara vai fazer só, e somente só, o que o Cunha determinar. Já com o Rodrigo Maia a situação é diferente, até porque, sendo ambos oriundos do Rio de Janeiro, o Cunha perderia espaço no Estado. Entendeu?
– Então o Temer deve bater na mesa e impor a candidatura do Rodrigo Maia, porque essa conversa de que o governo não se envolve na disputa em outro Poder é balela, é conversa para enganar os otários. É ou não é?
– É.
– Diga-me então, por que o Temer não faz isso e manda o Eduardo Cunha se entender com a justiça e explicar os crimes que praticou?
– Ah, isso eu não sei não. É melhor perguntar lá no Posto Ipiranga…
Moral da história: o irmão-pastor-deputado Ronaldo Fonseca entrou em cena para salvar o Cunha e o processo contra ele só será julgado em agosto.
E que nem o Temer, nem ninguém, ouse contrariar o Cunha porque se isso acontecer o Cunha acunha a República.
Misericórdia…