Monthly Archives: dezembro 2013

Por que é tão fácil assaltar banco em Alagoas?
   12 de dezembro de 2013   │     14:31  │  6

Brasília – As noticias que chegam de Alagoas são sempre tenebrosas; ora são os indicadores sociais negativos, ora a violência que faz a própria polícia de vítima.

Mas, no que se refere aos assaltos a bancos em ano pré-eleitoral, nada mais surpreende porque tem sido sempre assim.

Assalto a banco em ano eleitoral é coisa de Alagoas.

É coisa de Alagoas porque tem no Estado uma agência bancária que “não pode mais ser assaltada” e, pelo menos até hoje, não foi.

Será que isto se deu mediante acordo entre as partes?

Refiro-me a agência do Banco do Brasil em Boca da Mata, que antes era assaltada praticamente uma vez por semana.

A direção nacional do BB cogitou de fechar a agência e, a partir daí, nunca mais foi assaltada. Se os assaltantes também não se apiedaram diante da ameaça de fechamento, então deve ter havido algum acordo entre as partes.

É isto o que fica para o entendimento, diante do fato de que nenhum assalto a banco em Alagoas em ano pré-eleitoral é apurado; nenhum dinheiro foi recuperado e os possíveis assaltantes presos sempre estão lisos.

Em 2003 assaltaram a inexpugnável agência do BB em Palmeira dos Índios. Diz-se inexpugnável porque a sua localizada dificulta a ação dos bandidos.

Ocorre que, no dia do assalto, a viatura policial que todos os dias fica estacionada na frente da agência, no dia do assalto, não estava lá.

Deve ter sido coincidência.

Agora é a agência de Mata Grande. Imagine que Lampião, que se fez cangaceiro na região, cogitava saquear a cidade que conhecia muito bem e desistiu devido aos obstáculos topográfico – Mata Grande é uma verdadeira bacia; a cidade está cercada por morros e possui apenas três saídas facilmente dominadas.

Mas o que era obstáculo para o bando de Lampião, não é para o bando dos soldados eleitorais que assaltam bancos. A agência do BB em Mata Grande está substituindo a agência do BB em Boca da Mata em frequência de assaltos.

Coincidência, não é, se tratar de agências do BB localizadas em “Mata” – uma em Boca, e a outra em Grande.

E pelo ritmo da frequência modulada, até a eleição do ano que vem a agência do BB em Mata Grande será assaltada mais cinco vezes.

E, iguais às vezes anteriores, tudo assim numa boa. Ninguém será preso e o dinheiro levado sumirá na “fogueira da prosperidade”. De votos!

O Uruguai legalizou o remédio pra dor de mulher em Maceió
   11 de dezembro de 2013   │     14:47  │  1

Brasília – O personagem bíblico Nabucodonossor costumava “fumar uma erva” e, fingindo-se em êxtase, começava a rastejar imitando uma serpente.

Washington, a Capital dos Estados Unidos, foi construída em duas grandes fazendas de maconha que pertenciam ao general George Washington e Thomaz Jeferson.

A canabis sativa, que varia de nome de acordo com a região, está na história e é besteira pelejar contra quem faz parte da história – e, ainda mais, bíblica.

O presidente do Uruguai, José (Pepe) Mojica, percebeu isto; ele mesmo deu entrevista ao canal fechado da Globo dizendo que nunca fumou maconha, mas não é hipócrita para deixar de reconhecer que o problema não é a maconha e sim o comércio do tráfico – que leva à corrupção policial e outros crimes.

– “O que eu quero é controlar quem usa e quem planta e, com isso, eliminar de vez o traficante” – disse o presidente Uruguaio.

E advertiu:

– “Mas não fiquem pensando que no Uruguai se pode fumar maconha livremente, porque não é verdade. Vão se arrepender quem pensar assim”.

Só o tempo vai poder dizer se o presidente Uruguaio está certo ou não; qualquer opinião agora é pura ilação.

A questão crucial, que país nenhum conseguiu até hoje equacionar, é o fato de o combate às drogas não ter obtido resultado positivo. Pelo contrário, no começo era apenas a maconha e, no rastro do combate à maconha, no lugar de extingui-la, surgiram outras drogas pesadas.

Antes era só a maconha, e hoje é a maconha, a cocaína, a heroína, o haxixe, o ópio, a merla, o crack e as drogas químicas LSD e ecstasy.

E mais as drogas vendidas nas drogarias com as tarjas pretas, cujo efeito no organismo é incomensuravelmente maior.

Em Maceió, até o começo da década de 1960, a maconha era vendida livremente no mercado público, na ala dos raizeiros, com o sugestivo nome de “remédio para dor de mulher”.

Dizem que chá melhor para a TPM ninguém jamais produziu.

Até o final da década de 1970 existiam em Maceió apenas quatro “bocas de fumo”, que só vendiam maconha.

Hoje são milhares que vendem de tudo: o que de último possa existir no mundo das drogas rolando mundo afora, se pode comprar em Maceió.

É interessante porque todos os dias a polícia, nos 27 estados, prende em média “dois traficantes” por dia.

Vejamos o caso de Alagoas. Dois traficantes por dia são iguais a 730 traficantes por ano, e isto seguidamente, ou seja, entra ano e sai ano.

E ninguém consegue acabar com o tráfico.

Aliás, nem mesmo os traficantes do Rio de Janeiro conseguiram impedir que o “crack” entrasse na cidade. E olha que eles fizeram de tudo para impedir.

Para o traficante carioca o “crack” era “um inimigo” porque, sendo de uso compulsivo, leva o viciado a praticar crimes para adquirir dinheiro e comprar a droga. E, praticando crimes, o viciado em “crack” atrai a polícia.

Além disso, o preço é baixo.

Na década de 1980 o carioca foi surpreendido com centenas de latas do Leite Ninho, de 2 quilos, cheia de maconha que davam costa nas praias.

A versão da polícia, que a imprensa acreditou e espalhou, foi de que um navio havia se livrado da carga para escapar da abordagem.

O Gilberto Gil compôs a música Novidade, que diz assim:

A novidade veio dar à praia

Na qualidade rara de baleia

Metade o busto de uma deusa Maia

Metade o seu rabo para a ceia…

A novidade era a guerra, entre o feliz e o esfomeado.

O feliz era quem conseguia achar a lata; o esfomeado era o quem madrugou na praia e não achou nada.

E o Gil arremata:

Ó, mundo tão desigual…

A versão da polícia estava errada; foi uma desculpa arranjada às pressão para explicar “o fenômeno” das latas de Leite Ninho cheias de maconha.

Na verdade, as latas de Leite Ninho com maconha foi a última tentativa que os traficantes cariocas fizeram para evitar que o “crack” entrasse na cidade.

Pensavam eles que, abarrotando a praça com a canabis de graça, expulsariam o “crack” por eliminação. Ledo engano.

Até os traficantes cariocas perderam para o “crack” e tiveram que aceitá-lo. E se até os traficante cariocas perderam para o “crack”, quem haverá de vencê-lo mantendo-se esse modelo de combate às drogas que estimula outras  drogas e a corrupção do agente público incumbido de combatê-la?

Vem aí a PP. Você sabe o que é a PP?
   10 de dezembro de 2013   │     17:42  │  3

Brasília – Alguém descobriu que rola muito dinheiro nos eventos esportivos, sobretudo o futebol, e nos shows musicais – especialmente o ramo sertanejo.

São eventos privados, daí esse alguém teve a ideia de questionar a participação da força pública na segurança de um evento privado.

Filosoficamente esse alguém está mais ou menos certo porque o evento é privado, mas destinado ao público que, por lei, tem o direito Constitucional ao lazer e à cultura.

O episódio repugnante com a briga das torcidas do Atlético – PR e do Vasco da Gama acendeu a discussão. Mas, embaralhou tudo.

O Ministério Público, que teria proibido a presença da polícia dentro do campo, alega que a ordem não foi bem assim; e o coronel da PM que comandava a tropa sustenta que cumpriu a ordem da MP à risca.

E como sempre, ninguém se entende.

Para tentar remendar o soneto ruim, o MP de Santa Catarina adota uma medida que é tão eficiente quanto cortar o vento – que foi proibir a torcida organizada do Atlético de assistir jogos por um determinado período.

Vejam só: a torcida não pode entrar, mas o torcedor pode. Basta não vestir ou usar nada que o identifique.

A prova maior de que nada se fez até agora, além da pirotecnia, é que alguns dos que se envolveram na briga são velhos conhecidos; são reincidentes.

Esses mesmo que estão presos agora, já, já, quando a amnésia nacional acometer a todos, estarão livres para praticarem os mesmos atos.

A questão, me parece,  não é resolver o problema da violência nos estádios de futebol, mas criar a PP.

E o que é PP?

PP é a sigla da Polícia Privada, um filão que surgiu como a luz na escuridão de quem tateava para encontrar um meio de também ganhar algum – afinal, nos eventos esportivos e culturais rola muita grana.

E imagine a perspectiva de faturamento da Polícia Privada. Num estádio de futebol com capacidade média de público, como em Joinvile, seriam necessários 90 homens.

E, quem tem 90 homens, terá de ter na verdade o dobro, pois há de obedecer a exigência de folga, férias, etc.

A PP será uma força paramilitar, uma força de aventureiros comandada por…

Sim, quem vai comandar a PP?

Essa discussão sobre segurança em eventos esportivos e culturais privados faz lembrar a ação nefasta de quem mandou acabar com as subdelegacias de bairros e depois virou dono de empresas de segurança e vigilância privada.

Mais esperteza, impossível.

Dilma devolve o poder a João Goulart, amanhã de manhã
     │     8:28  │  4

Brasília – A presidente Dilma devolverá amanhã “in memória” o mandato do presidente João Goulart, usurpado por um golpe militar-civil em 1964.

Isto porque o Congresso Nacional de hoje considerou o ato que o afastou do governo ilegal.

Para a solenidade foi convidado o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal.

Para quem testemunhou a época, ainda que igual a mim contasse com 13 anos de idade, é uma volta à reflexão da história para a contabilidade dos erros e acertos.

Meu pai, o Tenório, era secretário do Sindicato dos Ferroviários de Alagoas e junto com o hoje procurador de Justiça, Luciano Chagas, e na época um jovem secundarista, editava o jornal “A Voz do Ferroviário do Nordeste”.

O pai do Luciano, “seu Claudino”, era um dos gerentes da Refesa em Alagoas e o Luciano, além de procurador de Justiça, é também jornalista.

Pois bem. Os ferroviários lutavam pelas reformas de base prometidas pelo presidente João Goulart e, especialmente, pelo reajuste de 110% que ele havia prometido à categoria.

Em 1963, acho que uns sete meses antes do golpe, os ferroviários realizaram o III Congresso Nacional da Categoria, em Fortaleza. Meu pai, brizolista e janguista, foi e o jornal que ele e o Luciano Chagas editavam fez o maior sucesso.

Na volta do Congresso, lembro-me bem que numa reunião com os amigos ele contava das propostas apresentadas e que levavam à reação armada para defenderem as reformas de base – e, no caso dos ferroviários, também o reajuste de 110%.

– “O Jaime Miranda foi o único que pedia calma, que apontava para outras saídas e que alertava sobre as provocações” – contava o Tenório.

Um dos amigos de meu pai, que eu conheci e lembro-me apenas como Jota Jota, era mecânico da Rede Ferroviária na oficina de Jaboatão.

O Jota Jota já havia protagonizado um episódio interessante na eleição em 1961. Foi o seguinte: meu pai era ator amador de teatro e trabalhava numa peça promovida pelo saudoso professor Coelho Neto, em benefício da Federação Espírita de Alagoas. Meu pai fazia o papel de um padre.

O Jota Jota saiu de Jaboatão para conseguir às pressas uma batina emprestada, pois o Miguel Arraes iria fazer um comício em São José do Egito e lá o padre era adversário; mais que isto, durante a homilia pregava contra Miguel Arraes.

O Jota Jota era uma figura magérrima, tabagista inveterado, e de estatura menor. A batina da peça não lhe caiu bem, mas ele não voltou sem cumprir a missão. Não foi por falta de um padre que o Miguel Arraes deixou de fazer o comício em São José do Egito.

Meu pai apelou para o sobrinho e meu primo-irmão, Ailton Villanova, que era afilhado do padre Brandão Lima, e conseguiu convencê-lo a emprestar a batina. Não sei qual foi o argumento usado pelo Ailton, mas como padre Brandão Lima gostava muito dele, não foi difícil de convencer.

E, para felicidade geral, a batina do padre Brandão Lima coube na medida no corpo do Jota Jota, que sabia Latim – na época ( 1961) a missa era celebrada em latim – e dizem que fez o maior sucesso no comício.

E quando o pároco de São José do Egito descobriu que aquele padre que elogiou tanto Miguel Arraes num palanque, na verdade, não era padre, o Miguel Arraes já tinha sido empossado governador de Pernambuco.

Com a devolução simbólica do poder ao presidente João Goulart, nesta quarta-feira, 11, o que me vem na memória foi a conclusão do meu pai muito tempo depois:

– “O Jaime Miranda tinha razão: havia outros meios de se lutar sem precisar de armas, igual à batina que o Jota Jota vestiu para ajudar a eleger o Miguel Arraes”. 

Danou-se! E a culpa foi da polícia…
   9 de dezembro de 2013   │     7:23  │  13

Brasília – Na postagem abaixo havia a duvida sobre quem é o culpado pelas cenas macabras na briga das torcidas do Vasco da Gama e do Atlético – PR. Agora não há.

Mas, ao contrário do que muitos podem pensar, eu não culpo apenas o coronel, embora ele tenha incorrido no erro grave de faltar com a verdade – quando disse que a ordem para a PM não entrar em campo foi do Ministério Público.

E o Ministério Público de Santana Catarina desmentiu.

Todos sabiam, e não apenas o coronel, que se tratava de um jogo complicado onde a rivalidade estava na arquibancada com as torcidas, e entre os cartolas que disputam o poder no Vasco da  Gama.

O diretor do Atlético, Antônio Lopes, é uma invenção do Eurico Miranda, que é desafeto do Roberto Dinamite.

Todos sabiam de tudo e nada fizeram para prevenir. Felizmente ninguém morreu, mas me parece ter alguém ansioso por um cadáver para finalmente agir.

Eu defendo que a PM seja remunerada pela segurança nos estádios, mas alegar se tratar de um evento privado para não atuar é “omissão de socorro e negligência premeditada”.

O Shopping também é “um evento privado” e quer dizer então que a polícia não vai intervir lá em caso de necessidade, porque “é um evento privado”?

E no Comércio? Também não pode porque a Rua do Comércio é de “empreendimentos privados”, logo, a segurança é da conta dos comerciantes. É assim?

Acho, defendo e até faço sugestão para a remuneração da PM mobilizada para esses “eventos privados”. Todos nós já pagamos a “taxa de embarque” em aeroporto e na rodoviária, então  poder-se-ia criar a “taxa de segurança”.

Por que não? Eu defendo.

O valor seria embutido no preço do ingresso e quanto mais torcedor nos estádios, mais a PM ganharia. E sabe-se que, quanto maior for a segurança nos estádios, mais torcedor haverá – e isto viraria um ciclo vicioso positivo.

Mais torcedor, mais arrecadação, mais taxa de segurança, mais a PM ganharia seja no futebol ou qualquer outro evento.

Ocorre que, antes disso, é imperioso se consertar algumas coisas que influenciam negativamente para o êxito do projeto. É preciso entender – e alguns eu acho que esqueceram – que violência maior do que entre as torcidas na Inglaterra jamais houve.

Muitas mortes e foi tema de filme os embates entre os torcedores ingleses. E como se resolveu lá?

Com a lei, apenas com a lei.

Na Inglaterra, o torcedor flagrado brigando no estádio primeiro cumpre uma pena leve – que é se apresentar na delegacia no dia do jogo da sua equipe e lá ficar até o  término da partida. Se não cumprir vai para o xadrez.

Eu fico imaginando aqui no Brasil, com essa lei. O cara iria se apresentar na delegacia, e a polícia estaria em greve.

 

Brasília – Sobre o lamentável episódio da briga entre as torcidas do Vasco e do Atlético Paranaense, o culpado se manifestou como réu confesso.

E quem é o culpado?

Pelo que o coronel comandante do batalhão de Joinville falou, o culpado é ele. O coronel repetiu várias vezes que “o evento é privado, logo, a segurança interna é particular”.

Fico de cá a pensar: será que a questão é dinheiro?

Disse o coronel que o Ministério Público de Joinville “foi provocado” e entrou com uma Ação Civil Pública para impedir que a PM realizasse a segurança interna no estádio porquanto o evento é privado – repetiu o coronel.

E quem foi que “provocou” o MP a tomar tal iniciativa? Será que foi o coronel?

Agora pensem: ninguém de sã consciência vai questionar a onipresença e a onisciência da polícia. Não se trata disso; nenhuma polícia no mundo vai saber onde o crime vai acontecer.

Porém, o jogo Vasco da Gama e Atlético Paranaense todos sabiam que seria um embate que iria mexer com os nervos; que iria agitar as emoções; que poderia gerar confrontos – e disto nenhuma autoridade pode alegar que não tinha conhecimento.

Um lutava para não cair e o outro lutava para subir. Já por aí, o bom senso aconselhava cautela; isolar uma torcida rival com uma corda é o mesmo que amarrar cachorro com linguiça.

E nesse particular, só por incompetência, por irresponsabilidade ou por negligência é que alguém poderia deixar de tomar as devidas precauções.

E como incompetência, irresponsabilidade ou negligência são faltas graves no serviço público – logo, o culpado de tudo é o coronel ou o Ministério Público?