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Denuncia de JHC só vale a pena se a alma não for pequena
   6 de novembro de 2013   │     15:03  │  3

Brasília – Está na imprensa nacional: Justiça afasta os 8 deputados que compõem a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Alagoas.

Mas afastou pra quê?

Afastou para apurar o desvio de 70 milhões de reais.

Sim, e daí?

E daí?… E daí?…

Pois é; e daí? Será que esse novo processo não vai se juntar ao processo velho da “Operação Taturana”, que até hoje não teve homem no mundo capaz de fazê-lo andar?

Já se passaram cinco anos da “Operação Taturana”, na qual foram afastados 12 deputados, e até agora nada se julgou.

Nem mesmos os denunciados que perderam o direito à imunidade parlamentar foram julgados. E há o risco de o crime prescrever.

As denuncias do deputado João Henrique Caldas levaram à ação do Ministério Público e à decisão da Justiça pelo afastamento, mas até a fase final tem uma distância enorme.

Fica-se até sem entender direito como o Direito funciona no país, por conta dos dois pesos e das duas medidas para mercadoria – ou crime – igual.

Exemplo: em menos de três anos o deputado federal Natan Donadon foi julgado e preso por ter desviado 8 milhões de reais da Assembleia Legislativa de Rondônia, quando foi presidente da Casa.

E 5 anos da “Operação Taturana” já se passaram e nem sinal de punição para os denunciados pelo desvio de um valor que é mais de 30 vezes o que o Donadon desviou.

Fica-se então a indagar se tudo isso vale a pena:

1) Vale a pena a denuncia do deputado João Henrique Caldas?

2) Vale a pena a manchete dizendo que a Justiça afastou a Mesa Diretora?

Isto porque, em relação à “Operação Taturana”, nada daquilo até agora valeu a pena. E tudo aquilo que aconteceu na “Operação Taturana” corre o risco de prescrever por culpa de uma morosidade que não existiu em relação ao deputado Donadon – autor do mesmo crime, mas punido.

Ou seja: só vale à pena se a alma não for pequena.

A polícia que mata e a reprovação nacional
   5 de novembro de 2013   │     8:08  │  8

Brasília – De cada 10 brasileiros, 7 não confiam na polícia que tem – e olhem que temos muitas. Temos até Polícia Ferroviária, ainda que o trem esteja fora da linha faz tempo.

O resultado da pesquisa nacional sobre a credibilidade das nossas polícias é negativo para as policias em geral, mas pode ser positivo para a sociedade no que se refere a encontrar a resposta para a pergunta que não quer calar: por que tanta violência?

Por que não se consegue controla a violência, se Nova Iorque e Cali conseguiram?

Ainda de acordo com a pesquisa, o Brasil é o país onde mais morre gente no confronto com a polícia. São 5 mortos por dia; no ano passado a polícia matou 1890 pessoas.

É estatística de uma guerra sem fim.

Mas isto não é de agora. Na década de 1980, o extraordinário jornalista Caco Barcelos escreveu o livro sobre a polícia que mata.

O promotor Hélio Bicudo promoveu em São Paulo uma cruzada contra a violência policial e no que adiantou se restringiu a ocasião; depois tudo voltou a ser pior.

No Rio de Janeiro, a Favela da Rocinha foi ocupada por 700 policiais que não conseguem controlar a situação porque, além dos traficantes, tem as milícias.

Os milicianos são policiais e ex-policiais que impõem dificuldades para venderem facilidades, que vão da proteção passando pelo tráfico e homicídios.

Quem paga tem proteção e quem não paga vira alvo da bandidagem, até ceder à extorsão. Tem sido assim e sempre será, pelo menos até quando o modelo atual de segurança pública for mantido.

O modelo atual de segurança pública favorece ao crime, especialmente à corrupção, e o policial honesto se torna vítima do desonesto.

Em Alagoas, não faz tempo, um grupo de policiais bandidos se mataram entre si; imaginem o que eles não praticaram com os que não pertenciam à gangue.

A corrupção policial não é um mal brasileiro nem alagoano, e jamais será extirpada definitivamente, daí ser imperioso manter a vigilância para evitar que se transforme em regra e leve a esse resultado inadmissível: 71% dos brasileiros não confiam na polícia que tem.

Será que estamos esperando que se chegue a 100% para alguém tomar uma providência?

A violência começa com o Estado
   4 de novembro de 2013   │     11:35  │  20

Brasília – Tem um filme com o Al Pacino, cujo nome não me recordo agora, em que ele faz o papel de um policial incumbido de investigar e prender policiais corruptos em Nova Iorque.

Na trama, ele tromba com a “testa da corrupção policial” em Nova Iorque e é ameaçado de “voltar a vestir farda”, ou seja, voltar ao policiamento comum nas ruas.

É ficção, pois não, mas não muito distante assim da realidade. Há 20 anos Nova Iorque era a cidade mais violenta e a que possuía a policia mais corrupta.

E agora, 20 anos depois, eu ouvi o sociólogo e professor da UnB, Arthur Trindade, anunciar pela CBN de Brasília que Nova Iorque estava perto de se tornar a cidade mais segura do mundo!

O que se passou?

O santo do milagre chama-se investimento em educação. A partir daí tudo ficou mais fácil; o tempo integral nas escolas e as atividades esportivas e culturais são a condição “sine qua non” no combate a violência.

No Brasil, a única experiência que eu conheço está em Canoas, no Rio Grande do Sul. Em 2011 eu estive lá e me surpreendi com a ausência de meninos de rua – quase não os vi; e um policiamento presente em cada esquina em que se passa.

Eu estava acompanhado do Carlos, gaúcho, e cunhado do companheiro jornalista Lawrence Lima, e ele me pôs a par da situação.

Seguinte: Canoas fica na região metropolitana de Porto Alegre e lá, em Canoas, estavam os dois bairros mais violentos da região.

E essas duas regiões de Canoas foram trabalhadas com tanta competência, que a cidade está sendo apontada como a mais segura do país.

Canoas já não “exporta” mais a criminalidade.

E tudo também passou pelo investimento em educação. É besteira pelejar nessa discussão sobre recuperação; sobre combate à violência, sem passar pelo investimento       em educação.

Não é mais policial na rua que vai resolver o problema da violência, até porque o Brasil tem polícia demais. Brasília, por exemplo, é a cidade que tem o maior número de policiais por habitante, e no entanto a violência aqui também está fora de controle.

Depois de investir em educação e resgatar os rebotalhos humanos segregados nos guetos, é que se pode discutir o modelo de polícia que a sociedade precisa. Sim, porque o modelo atual com tantas policiais faliu, ó, faz tempo.

Hoje eu quebro essa Mesa. Quebra nada!
   1 de novembro de 2013   │     10:35  │  7

Não, isso não é a repetição de um filme; não é o repeteco de nada que já aconteceu, porque uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa – ainda que eles continuem fazendo as mesmas coisas. Erradas.

A “Operação Taturana” parece que foi ontem, mas isso só para o eleitor. Para os deputados envolvidos nas irregularidades, essa noção de tempo e de espaço simplesmente não existe e daí não dá para acreditar na recuperação da Casa.

Depois de um escândalo vem outro, depois do outro mais outro, e assim caminha a Assembleia. E que ninguém venha dizer que a culpa é do eleitor, porque a culpa é da impunidade.

Se os denunciados na “Operação Taturana” tivessem sido exemplarmente punidos, nada disso estaria acontecendo agora. A punição exemplar e ágil serviria de proteção à sociedade contra as novas traquinagens com o dinheiro público.

Então, a culpa não é do eleitor e que fique bem entendido.

Mas, e há esperança de que finalmente a Assembleia tomará vergonha e o alagoano poderá se orgulhar da sua representação estadual?

Há não. Nenhuma esperança, porque a estimativa mais próxima para se decidir sobre a “Operação Taturana” é daqui há 5 anos, ou seja, lá para 2018. E mais esse novo processo acresça-se aí uns 20 anos mais pra frente, o que é tempo para se prescrever alguns dos crimes ou até esquecê-los mesmo diante de novas irregularidades que vão acontecer.

E assim caminha a Assembleia Legislativa alagoana.

O mínimo que se poderia fazer era afastar a Mesa Diretora denunciada, mas nem isso assegura à sociedade a proteção contra a pilhagem. Há o risco de a estrutura do escalão inferior continuar a pilhagem ou de todos serem reconduzidos aos seus lugares.

Isto, sem contar que o dinheiro que foi não voltará jamais! A não ser que alguém decida: hoje em quebro essa Mesa.