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A República mesmo tem só 20 anos de proclamada
   14 de novembro de 2013   │     9:32  │  0

Brasília – Passados 124 anos da proclamação da República, e somente agora nas últimas duas décadas é que o brasileiro experimenta a estabilidade política combinada com a estabilidade econômica.

Os pais e os avós de muitos de nós não vivenciaram isto. Nunca, na história deste país, a sociedade brasileira viveu 20 anos ininterruptos de estabilidade política.

O suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954, adiou por dez anos o golpe que instalou o governo militar – que durou até 1984, ou seja, 20 anos.

Nesses 124 anos, com exceção dos últimos 20 anos, a história da República brasileira ficou marcada por períodos de agitações que levaram a governos duros que até podem ser chamados de ditadores – que se regiam por uma Constituição sob medida.

Mas, o que aconteceu? Que milagre é esse que já dura 20 anos?

O milagre tem vários santos. Vamos enumerar: se o Fernando Collor quando foi presidente não tivesse deixado uma reserva cambial perto de 60 bilhões de dólares, o Itamar Franco não teria lastro para mandar o Fernando Henrique Cardoso fazer o Plano Real com o câmbio ao par.

Também foi o Collor que escancarou o mercado interno e fez surgir um novo tipo de empresariado brasileiro, que se move pela competição. Até o governo Collor, o empresariado nacional vivia às custas da União, no mínimo, como beneficiário das medidas que o protegia da competição.

Quando disse que os automóveis nacionais eram carroças, o Collor chutou o pau da barraca e atraiu contra si a ira dos que jamais tinham sido incomodados; o mercado até então sempre se regulou pelas medidas protecionistas, e o Collor acabou com a farra.

Gostem dele ou não, mas deixar de reconhecer esse mérito é pura mesquinhez.

Há 20 anos que o nome do dinheiro brasileiro é o mesmo e isto também é inédito. Já se chamou de tostão, mil-réis, pataca, cruzeiro novo e velho, cruzado e também já se misturou com outras “moedas” que circulavam à marginalia, tais como a URV e o dólar, com os quais muita gente numa época recente fechava os seus negócios.

Nos últimos 20 anos um ex-operário chegou ao poder; uma ex-guerrilheira está no poder, e as instituições nacionais não sucumbiram como pregavam os antepassados durante a paranoia anti-comunista.

É como se a taboca do foguete onde muitos partiram segurando pelo rabo retornasse à terra, depois de cumprir com a missão.

O Collor deixou a base para o Plano Real, o Itamar fez, o Fernando Henrique aplicou, o Lula aperfeiçoou e a Dilma está mantendo e nisso já se vão 20 anos!

Parece-me que finalmente o Brasil encontrou a República que precisava. Mas não vamos nos queixar pela demora, porque a República que foi proclamada em 1889 deveu-se a uma dor-de- cotovelo do marechal Deodoro.

Seguinte: o marechal Deodoro não saiu às ruas para proclamar a República e sim para derrubar o ministério chefiado por Ouro Preto.

É sabido que a Marinha pertence ao rei e depois da Guerra do Paraguai espalharam a notícia de que Ouro Preto iria acabar com o Exército. Deodoro não gostou e reagiu.

Mas não queria derrubar Pedro II; queria apenas trocar o comando do ministério, e Pedro II aceitou nomeando o gaúcho Silveira Martins.

Pronto! Foi o fim da picada.

O Deodoro era apaixonado pela Baronesa de Triunfo, no Rio Grande do Sul, e ela optou por Silveira Martins – que Deodoro tomou por desafeto, sem sarar a dor-de-cotovelo.

E como Pedro II não recuou da escolha, perdeu o trono e o jeito foi implantar a República – que, 20 anos depois, já estava velha.

 

 

 

Por enquanto, o crime tem compensado sim!
   13 de novembro de 2013   │     10:09  │  0

Brasília – O poeta satírico Gregório de Matos era mais que um poeta; era um profeta satírico, pois imagine o que ele escreveu no século 17:

Nesse mundo é mais rico quem mais rapa ( rouba )

Quem mais limpo se faz tem mais carepa (sujeira)

Ao nobre a língua o vil decepa

E o velhaco maior sempre tem capa.

Mostre o brio da nobreza o mapa,

Quem tem mãos de agarrar ligeiro trepa

E quem dinheiro tiver pode ser papa.

O poeta Gregório de Matos escreveu isto nos meados dos anos 1600, pouco mais de um século depois de Cabral ter “descoberto o Brasil”. É ou não é um profeta satírico?

Muito tempo depois, no começo da década de 1960, o músico e poeta satírico Juca Chaves compôs uma música que diz assim:

Vamos fazer contrabando/ contrabando de café/

Vou montou um novo bando/ Vou dizer como é que é/

Basta ser homem de idade/ Do ex-distrito federal/

Frequentar a sociedade e a coluna social/

Contrabando nessa terra/ É negócio de colher/

Político sempre erra/ Isto é: quando ele quer/

Brasileiro de malícia/ Deve ser contrabandista/

Quem apanha da polícia/ É estudante e comunista/

Sinceramente, se a corrupção e se os desvios de conduta estão no cancioneiro popular, será que ainda dá para se indignar com essa avalanche de denúncias de irregularidades no serviço público brasileiro?

Será que ainda tem algo demais para alguém se indignar com a Assembleia Legislativa de Alagoas, envolvida em seguidos atos escusos?

Ou é recomendável se indignar com a impunidade?

Parece-me que todos nos contaminamos pela indecência. Uma senhora colocou o filho no colo só para furar a fila do banco; o filho que ela exibia no colo, tão logo foi atendida, ela colocou de volta no chão para correr a aprontar nas peraltices pela agência enquanto, quem sabe satisfeita pela esperteza, imaginava que atrás de si tinha um bando de otários e otárias.

A outra, e também era uma mulher, não ligou a seta para indicar que ia entrar à direita nas proximidades do Rádio Center e atropelou um cidadão que confiou que ela iria passar direto pela W 3.

São exemplos de pessoas que, com certeza, vivem a criticar os políticos. E esses exemplos não são exclusivos de Brasília; tem muita gente assim também em Alagoas e no resto do país.

Não sei se é assim, mas eu acho que nós estamos apontando para o alvo errado seja por desconhecimento ou por covardia. Ninguém jamais haverá de  evitar o crime, mas me parece que está faltando alguém que demonstre que o crime não compensa.

Porque, até agora, está compensando.

O que é o constrangimento de ser preso temporariamente se o motivo da prisão já rendeu uma mineradora, 35 apartamentos em São Paulo, fazenda, hotéis, carros de luxo e apartamento em Nova Iorque e Miami?

Não é nada.

Médico cubano pede um cavalo para ir até onde o povo está
   11 de novembro de 2013   │     12:43  │  12

Brasília – Na revista Isto É da semana passada  ( Nº 2294) tem uma entrevista que todos deveriam ler, especialmente os médicos brasileiros que criticam e boicotam o programa Mais Médicos.

Para mim, a entrevista foi um afago no ego por vários motivos:

1) É a entrevista de um médico. Mais que médico, um cientista que preside um dos maiores e melhores hospitais da América Latina.

2) Na entrevista, esse médico diz o que eu disse em postagens anteriores. Ou seja: não é  a “falta de condições de trabalho” que impede o médico brasileiro de trabalhar no interior.

3) E, para minha satisfação, eu entrevistei o dr. Cláudio Lottenberg, em 2001, para a GAZETA DE ALAGOAS. Escrevi uma página com ele tratando da clonagem humana.

Em 2001, o dr. Cláudio Lotenberg tinha 41 anos de idade e já era presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira, que mantém em São Paulo o Hospital Albert Einistein.

O dr. Lotenberg é oftalmologista e está hoje com 53 anos de idade. A jornalista Mônica Tarantino, que o entrevistou, perguntou-lhe o que achava do programa Mais Médicos. Leiam a resposta do dr. Lotenberg:

-“É um programa que nasce como uma iniciativa de curto prazo, voltado para suprir carências. A presença dos médicos em localidades onde não havia ninguém para atender a população trará bons resultados. Eles irão dar assistência a pessoas que sofrem, sem saber, de males como pressão alta e diabetes. Isso não demanda tecnologia, mas um médico bem preparado. Outro acerto é o fato de a sociedade se mobilizar em torno do reconhecimento de que a falta de médicos e a sua distribuição são um problema.”

Que lindo, não?! Que lindo e quão importante saber que, apesar da medicina mercantilista brasileira, onde o importante é a doença e não a saúde, tem profissionais do quilate do dr. Lotenberg!

E sabe o que o dr. Lotenbergh disse mais? Ele disse:

– “Os profissionais do exterior não vão competir em São Paulo. Eles estarão no interior do país, como no Acre, Estado onde o governador não consegue intensivistas nem por 25 mil reais!

Vamos repetir: o governo do Acre oferecia salário de 25 mil reais, quase o teto constitucional, e nem assim conseguia os médicos que faltavam no interior.

Chega a ser até criminosa a reação contrária ao programa Mais Médicos. Só um profissional venal e que exerce a medicina mercantilista pode ser contra a presença de médicos no interior do país e nas quebradas das cidades.

No domingo, nos encontramos eu e os companheiros jornalista Jorge Henrique, assessor do ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, e a jornalista Nadja Piauitinga, assessora do ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Ela contou-me os bastidores da chegada de médicos em comunidades carentes; contou-me sobre o pedido do médico cubano que optou por trabalhar numa tribo e do outro médico cubano que, no lugar de pedir um carro, pediu um cavalo para chegar às comunidades instaladas em locais íngremes.

A entrevista do dr. Lotenberg lavou-me e enxugou-me a alma. Eu disse, digo e repito que a questão não é “falta de condições de trabalho”. Isso é conversa.

A questão é que a medicina mercantilista vive da doença – que dá lucro. Eles não estão e nunca estiveram interassados com a saúde, porque a saúde dá prejuízo.

Imagine o borracheiro que não tem cliente porque a rodovia está um verdadeiro tapete e não tem pregos nem pedras na rua. Com certeza, o borracheiro vai protestar.

Mas ele tem razão?

Viva pois os médicos estrangeiros! E que os cubanos, especialistas na anti-medicina mercantilista, façam a cabeça de todos nós na direção de uma medicina onde o importante seja a saúde.

A aflição do PT e o novo na eleição em Alagoas
   9 de novembro de 2013   │     13:33  │  1

Brasília – O ex-presidente Lula entende a aflição do PT alagoano, mas insiste em que o partido se mantenha aliado do PMDB mesmo assim.

É que, coligado ao PMDB, o PT corre o risco de não eleger ninguém à Câmara Federal e, no caso, a reeleição do deputado federal Paulão.

O peso da legenda (PMDB) é um fardo pesado demais para Paulão carregar. No processo eleitoral vigente, nem sempre se elege o que tem mais votos.

Em 2002 teve um caso inédito, com a votação do filho do senador Fernando Collor para deputado federal. Arnon obteve quase 60 mil votos e não se elegeu, quando teve deputado ( Augusto Farias) eleito com pouco mais de 30 mil votos.

Além de votos, o candidato precisa saber com quem vai se coligar. E até mesmo os mais espertos nessa matemática eleitoral, igual ao ex-deputado federal João Caldas, às vezes caem na armadilha.

Caldas reconhece que fez um mau negócio quando se filiou ao PSDB. Ele acha que perdeu a eleição aí e, o pior, é que ajudou a eleger outros candidatos da sigla.

Lula disse ao Paulão que o senador Renan não será candidato ao governo, mas é preciso ouvir isso da própria boca do senador – que já avisou que só tratará do assunto em março que vem.

O PT quer a garantia de que manterá uma vaga na Câmara e isso passa pelo apoio do PMDB.  E isso não deve ser problema insolúvel.

A tendência de se dá à disputa pelo governo do Estado o toque de modernidade é evidente; no cenário político o novo já desabrochou com Rui Palmeira, Renan Filho e Luciano Barbosa.

Renan Filho e Luciano foram excelentes prefeitos; Renan Filho colocou as contas da Prefeitura de Murici em ordem e avançou com o pólo de confecções; Luciano implantou em Arapiraca as primeiras escolas em tempo integral de Alagoas.

A situação financeira de Alagoas é a pior entre os 27 estados; Alagoas ocupa o último lugar no ranking do Nordeste, numa inversão brutal de valores com o Piauí – que cresceu e deixou de ser o último.

E diz-se que, para salvar o Estado, é imperioso contar com alguém em Brasília com prestigio para abrir as portas. 

Você troca a Praça dos 3 Poderes pela Praça dos Martírios?
   7 de novembro de 2013   │     10:14  │  1

Brasília – Por duas vezes a presidente Dilma sugeriu ao senador Renan Calheiros disputar o governo de Alagoas, mas já é fato que ela hoje não tornaria a sugerir. E o motivo é óbvio: Dilma precisa de Renan em Brasília.

Nas duas vezes em que a presidente sugeriu que Renan disputasse o governo do Estado, ela se movia pela injeção da facção do PT que tramava contra a eleição de Renan para a presidência do Senado.

Essa facção do PT chegou a firmar um acordo com o PMDB, na Câmara, para se alternarem na presidência da Casa achando que poderia fazer o mesmo no Senado. Não deu certo, o próprio senador Renan ao mesmo tempo em que apoiava o acordo, lembrava que não se estendia ao Senado.

E não se estendeu. Na presidência da Câmara o PT foi substituído pelo PMDB, mas na presidência do Senado o comando se manteve com o PMDB – que elegeu Renan com uma votação acima do que ele mesmo havia estimado.

Aliás, no processo de definição da candidatura de Renan à presidência do Senado, foi que a presidente Dilma sentiu que não mais deveria se mover pela injeção dessa facção do PT anti-Renan.

Dilma tinha acabado de jogar a última cartada na tentativa de evitar que Renan chegasse à presidência do Senado, quando propôs ao senador licenciado e ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que voltasse ao Senado e se candidatasse a presidente com o apoio dela.

A resposta que Dilma ouviu de Lobão fê-la entender que Renan era mesmo o cara no processo. Lobão respondeu à Dilma:

– “Eu volto para o Senado, Dilma. Mas para votar no Renan pra presidente”.

Com a habilidade que o coloca como um dos 15 homens mais influentes da política brasileira, Renan desmontou o “grupo dos 8”, do qual ninguém falou mais; todos esqueceram.

O “grupo dos 8” era os oito senadores do PMDB que se apresentaram como “independentes” e desses restam hoje apenas dois: Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos.

E ainda assim, Simon e Jarbas não agem por convicção e sim por necessidade. O caso do Jarbas Vasconcelos é mais grave porque ele não deve se reeleger e não tem outro caminho a seguir na tentativa de salvar o mandato.

E tem ainda o fato do irmão do Renan tê-lo derrotado na disputa pela Prefeitura de Olinda.

Se contra fatos não há argumentos, a presidente Dilma chegou à conclusão de que o melhor para ela é que o senador Renan fique na Praça dos 3 Poderes porque a outra praça, lá em Alagoas, é dos Martírios.

Literalmente.