É da favela não, nêga Juju/
Nasceu no rancho/
Na terra do sururu/
Já foi assim e não é mais; a terra do sururu agora é Sergipe. Não sei se é praga ou castigo, mas faz tempo que Alagoas está perdendo de goleada para o vizinho ao Sul – que é menor em tamanho, mas tem uma responsabilidade política de fazer inveja.
A Lagoa Mundaú, que até o começo da década de 1970 era o hectare mais produtivo do país, agora é a grande fossa de Maceió assoreada por dejetos e excremento humano.
Em 1968, a Fundação Estudos do Mar, do Ministério da Marinha, registrou que a Lagoa Mundaú produziu 12 toneladas de sururu por hectare, o que na época equivaleu a 24 vezes a produção de proteína bovina no Rio Grande do Sul.
Mas de lá para cá veio a derrocada e hoje a maior parte do sururu que se consome em Alagoas vem de Sergipe.
Quer dizer: Sergipe irrigou o semi-árido primeiro, atraiu mais empresas e atraiu também o molusco cujo habitat formado pelo complexo Mundaú era o mais propício.
Era.
Talvez cansado do descaso e sufocado pela poluição, o sururu se mudou para Sergipe e no lugar de beber água do rio Mundaú, que deságua na lagoa do mesmo nome, bebe agora a água do Vaza-Barris.
É interessante como as coisas boas se completam e premiam a todos, quando há responsabilidade, competência, honestidade e interesse. E também amor e patriotismo.
Em Sergipe, as duas forças políticas que estão no poder são antagônicas. O atual governador Marcelo Déda é do PT e o atual prefeito de Aracaju, João Alves, é do DEM.
Pois bem. Em 2005 era o inverso: Alves governador e Déda prefeito. Eu viajei com o empresário Luiz Carlos Barreto para entrevistar o governador João Alves e perguntei como ele, na condição de adversário do prefeito, tinha resolvido o impasse para a urbanização da orla de Atalaia.
E o então governador João Alves explicou que o projeto de urbanização previa apenas 30 barracas padronizadas na orla e havia lá 60 barraqueiros, que se recusavam a se retirar. Foi ai que ele procurou o prefeito e deixando de lado as divergências políticas propôs a solução – que o Marcelo Déda topou na hora.
Seguinte: o governador ofereceu 2 mil e 500 reais a quem quisesse sair. Dos 60 barraqueiros, 45 aceitaram a grana e desocuparam a área.
E assim o então prefeito petista, com a ajuda do adversário do DEM, pode tocar a obra na orla de Atalaia.
Daí, a resposta para a pergunta sobre o que Sergipe tem que Alagoas não tem pode estar na culinária tradicional alagoana – que migrou.
Ora, se o sururu que só precisa de lama e 0,3% de sódio para se desenvolver optou pela lama do vizinho do Sul, quem é que vai duvidar que nem a lama do Norte presta mais?