Facas, tiros, planos, bombas e sequestro nas eleições no Brasil
   7 de setembro de 2018   │     4:51  │  17

por Aprigio Vilanova*

A história brasileira está repleta de atentados que marcam o processo político e eleitoral nacional. São facadas, tiros, bombas, sequestros e assassinatos. Exemplos não faltam e é nessa experiência que o brasileiro como homem cordial, conceito criado por Sérgio Buarque de Hollanda, cai por terra.

Os registros da violência política que marca a história brasileira nos faz chegar a conclusão que o acirramento não é exclusivo deste momento polarizado que vivemos. Este só revela que o brasileiro está longe de vivenciar o processo político, em um estado democrático, como o momento de debates de ideias e de exercício do contraditório.

O respeito as diferenças é fator sine qua non na busca de uma sociedade saudável que encare os adversários ideológicos apenas como adversários e não como inimigos a serem abatidos. A democracia exige, essencialmente, o exercício diário da tolerância, como afirmou Voltaire, filósofo iluminista francês:

“Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”

Voltaire, filosófo iluminista francês

A frase dita por Voltaire se encaixa perfeitamente no momento de acirramento entre as forças políticas brasileiras. E é sempre bom lembrar que a violência se revela através de várias facetas, física, simbólica e discursiva. O discurso virulento é também uma forma de violência com alto poder de proliferação.

Nenhum ato violento é justificável, assim como o discurso que alimenta o ódio e se retro-alimenta deste sentimento é igualmente abominável. Há muito a sociedade brasileira nutrida pela ignorância, e a grande mídia tem sua parcela de culpa, mergulhou em um estado de total ausência de respeito ao ponto de vista divergente.

É fato que o Brasil não tem tradição democrática, os períodos em que a democracia vigorou são insignificantes comparado aos 129 anos do período republicano, recheados de golpes e truculência. O Brasil se revela na política, principalmente na política, um país por demais violento e intolerante.

Os fatos evidenciam essa débil tradição democrática e de respeito aos adversários, principalmente se os adversários no poder forem do campo progressista. Estes períodos são sempre sucedidos de momentos de intolerância que, não raro, descamba para períodos de extremismo, quando não de ditadura.

Foi assim com Getúlio Vargas, em seu período democrático; foi assim com João Goulart, em 1964; foi assim com Lula e, por conseguinte, com Dilma Rousseff, em 2014. Em comum, além das forças movidas pela elite, estão os diversos setores da mídia tradicional brasileira contribuindo decisivamente para a desestabilização do país. Desestabilizaram. 

O escritor e cartunista, Millor Fernades, já fazia seu diagnóstico do papel que a imprensa brasileira desempenhava e continua desempenhando. Não mudou muita coisa dos tempos de Millor para cá, vaticinou Millor:

“A imprensa brasileira sempre foi canalha. Eu acredito que se a imprensa brasileira fosse um pouco melhor poderia ter uma influência realmente maravilhosa sobre o País. Acho que uma das grandes culpadas das condições do País, mais do que as forças que o dominam politicamente, é nossa imprensa. Repito, apesar de toda a evolução, nossa imprensa é lamentavelmente ruim. E não quero falar da televisão, que já nasceu pusilânime”.

Não foram poucas as vezes que a imprensa jogou contra o interesse nacional. Aliás, se estudarmos a história nacional, veremos que esta é uma prática que costumeira do fazer jornalístico brasileiro, parece uma espécie de código genético que revela as características da mídia nacional. O caso do golpe parlamentar sofrido por Dilma e o modus operandis de nossa imprensa é revelador.

O atentado sofrido por Bolsonaro precisa ser investigado em todas as suas possibilidades. O candidato tem, em seu discurso e comportamento, a intolerância e a exaltação a personagens nefastos de nossa história. Bolsonaro nunca cansa de rasgar elogios ao torturador Carlos Brilhante Ustra, personagem das mais execráveis de nossa história.

Assim como também não cansa de destilar ódio aos petistas e aos militantes dos partidos políticos de esquerda ou do campo progressista. Recentemente, em comício no Acre, convocou seus seguidores a expulsar os petistas e , por conseguinte, as pessoas com inclinação à esquerda, a bala. E esta não é a primeira vez que o candidato convoca seus eleitores ao confronto.   

O atentado a bala sofrido pela caravana de Lula, quando percorria o Paraná, foi alvo de piadas por parte dos filhos de Bolsonaro. Desacreditaram da versão divulgada e atribuíram o ocorrido a uma armação orquestrada pelo Partido dos Trabalhadores no intuito de promover Lula e reafirmar a narrativa de perseguição ao ex-presidente.

Vejamos alguns episódios:

Atentado a Prudente de Moraes

Em 1897, Prudente de Moraes espera para recepcionar, no Rio de Janeiro, as tropas que retornam do massacre a Canudos. O presidente estava com boa parte de seus ministros, entre eles o ministro da Guerra, Marechal Bittencourt, quando, do meio da multidão, surge Marcellino Bispo de Mello, também militar, que, na tentativa de atingir o presidente, acabou ferindo de morte o marechal Bittencourt que tomou a frente para defender Moraes.

Plano Cohen

Em 1937, o general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, alagoano de São Luis do Quintunde, então chefe do Estado-Maior do Exército brasileiro, descobriu o Plano Cohen, documento que revelava um plano dos comunistas brasileiros, juntamente com  organizações comunistas internacionais, cujo o intuito era derrubar Getúlio Vargas e implantar uma ditadura comunista no Brasil.

O documento falso foi forjado pelo então capitão Olimpio Mourão Filho, o mesmo do golpe de 64, e serviu como fundamento para a implantação do Estado Novo, em 1937.  

Atentado da Rua Toneleiro

É o episódio aconteceu, em 1954, na rua Toneleiros, no Rio de Janeiro, e teve como alvo principal, o jornalista Carlos Lacerda, principal opositor ao presidente Getúlio Vargas.

O fato, ainda hoje, levanta discussões e pouca certeza existe sobre o que realmente aconteceu. A história oficial revela que, na volta para casa, Lacerda, acompanhado de dois seguranças, foram vítimas de uma emboscada a bala. No atentado morreu Rubens Vaz e Carlos Lacerda foi atingido no pé.

O atentado foi creditado a guarda presidencial de Getúlio Vargas, mais precisamente Gregório Fortunato. Lacerda, principal líder da oposição a Vargas, foi a público e acusou Getúlio como o responsável pelo atentado.

Bomba no aeroporto em Recife

O marechal do exército, Arthur da Costa e Silva, candidato a presidência nas eleições indiretas, visita o Recife, em 1966. Ao chegar ao aeroporto de Guararapes, a comitiva de Costa e Silva resolve mudar o trajeto e não passa pelo saguão onde apoiadores os aguardavam. Na dispersão dos presentes do aeroporto foi encontrada uma mala que explodiu e matou dois e feriu um terceiro que teve que amputar a perna.

Os militares atribuíram o incidente a grupos de esquerda que organizaram o ataque terrorista para matar o general Costa e Silva. Mas com o decorrer das investigações ficou provado que a bomba foi colocada pelos militares para causar uma comoção social e, assim, jogar a população contra os grupos que se opunham a ditadura militar.

Sequestro de Abílio Diniz

O empresário, Abílio Diniz, foi vítima de um sequestro as vésperas da eleição de 1989. Os jornais de pronto associaram o PT ao sequestro do empresário. As notícias davam conta que membros da cúpula petista estavam envolvidos. Os sequestradores foram fotografados com a camisa da campanha de Lula à presidência, logo após a eleição a relação foi desmentida.

Os sequestradores afirmaram que agentes da Polícia Civil os obrigaram a vestirem blusas com a imagem de Lula. Tempos depois, o governador de São Paulo, Orestes Quércia, disse que sofreu pressão para que as investigações fosse conduzidas para incriminar o PT.

*Jornalista formado na Universidade Federa de Ouro Preto-MG

COMENTÁRIOS
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  1. PROGRESSISTA PORRETA

    QUE TEXTO MAIS INFORMATIVO! DIGNO DE ELOGIOS. MAS OS POBRES DE DIREITA AQUI NÃO SABEM AVALIAR UMA BOA LEITURA. PREFEREM IGNORAR O TEOR INFORMATIVO LITERÁRIO PRA, AO INVÉS, FAZER CRITICAS QUE NÃO LEVAM A NADA. MAS ATÉ AÍ COMPREENSIVO. POIS SÃO POBRES DE COMPREENSÃO. SÃO IGNORANTES IGUAIS AO MitU ANTA. O SRº APRIGIO ESTAR DE PARABÉNS.

  2. HELICOCA

    HÁ EXATOS TRÊS ANOS, EM SETEMBRO DE 2015, BOLSONARO APARECE EM VÍDEO, QUE ESTÁ BOMBANDO NA WEB, DESEJANDO QUE DILMA MORRESSE DE INFARTO OU CÂNCER.

    DILMA DESEJA QUE BOLSONARO SE RECUPERE.

  3. CARLOS FRANCISCO DE FARIAS

    Como é que um “jornalista” continua falando em golpe parlamentar? Meu amigo você não está informando a verdade,você está querendo jogar os esquerdopatas contra a justiça.

  4. JAIR BOLSONARO

    Eu discordo do que você diz, por isso defenderei sua morte e o impedimento do seu direito de dizê-lo.

  5. joatas

    Deixa eu adivinhar !!! Na opinião do autor do texto Celso Daniel foi morto pela direita né?

    Progressista é aquele cara que veste camisa de Che Guevara na faculdade de ciências humanas? Que idolatra o castrismo de Fidel? Que defende Maduro? Aliás, onde está a nova Constituição da Venezuela? Não foi pra isso que dissolveram o Parlamento, eleito democraticamente?

    É o carinha que bateu palmas para o Foro de São Paulo que defendeu Ortega e 2 dias depois uma brasileira, nordestina, pernambucana, foi morta pela esquerda que quer ser ditadura a força? É o cara que fala em “respeito aos votos”, mas que, igualmente ao PT, apoia o fato de Morales ignorar o plebiscito boliviano, lançar-se candidato a par da Constituição e, da mesma forma de respeitou as urnas no plebiscito, certamente irá respeitar nas eleições?

  6. João José Pedro Santos Rocha Silva

    Até onde vai a alienação petista? Como no nazifacismo vocês agora atribuem a culpa a vítima. Que comparações são essas meu rapaz – “Foi assim com Getúlio Vargas, foi assim com João Goulart, em 1964; foi assim com Lula e, por conseguinte, com Dilma Rousseff, em 2014.” Vaticinou Millor:
    “A imprensa brasileira sempre foi canalha. você é exemplo perfeito disso.

  7. Sueli

    Tudo que vai volta. É a lei de Deus, se você planta flores, você recebe flores, se você planta ódio… Você recebe ódio. #QueMitoEEsse

  8. kuka

    É muito contraditório o depoimento do agressor ao Bolsonaro,
    Foi Deus quem me mandou fazer isso !!! Será que Deus ia mandar matar logo o Candidato que levantou a Bandeira da Moralidade diante do caos Social que vive o Brasil depois da passagem funesta do PHÊ THÊ no comando do nosso País. A Sociedade quer uma resposta clara desse atentado

  9. Maciel

    Jornalista,
    Como se dizia antigamente, nota 100 para seu texto. Há um claro paradoxo na avaliação que os lado golpista da História faz diante das situações, quando se apresentam. Contra a Caravana da Cidadania, para eles, os golpistas, o filho do Bolsonaro afirmava tratar-se de armação. Quando ocorre algo com o pai dele, aí é o caso de lançar ilações. Adeus coerência.

    1. joatas

      A diferença é que nem foi no ônibus que o Lula estava e nem tão pouco a altura do tiro acertaria alguém? Seria o atirador alguém com o braço engessado? Já Bolsonaro foi atingido. Assim como no passado Celso Daniel (ninguém fala nele, quanto desrespeito).

      1. Aécio Neves-PSDB

        Se lembre que você em Dilma não votou, FOI EM MIM QUE VOCÊ VOTOU! E que tem que ser um que A GENTE MATE ANTES!

      2. ex-COXINHA

        DEVE EXISTIR UMA CERTA ANSIEDADE NOS BOLSOMINIONS SOBRE O QUE JAIR BOLSONARO VAI ESCREVER NA PRÓPRIA MÃO DELE SOBRE TANTOS HOMENS E AINDA POR CIMA ARMADOS NÃO TEREM EVITADO AQUELE ATAQUE.

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