Aprigio Vilanova* (continuação do post de domingo passado)

De nada entenderemos a renúncia de jânio Quadros e o golpe que derrubou João Goulart e instaurou a ditadura militar, se não compreendermos o período democrático(1951 a 1954) de Getúlio Vargas a frente da presidência do país.

Getúlio foi eleito, em 1951, em uma eleição que teve como adversários Cristiano Machado, do Partido Social Democrático (PSD), candidato apoiado pelo presidente Marechal Dutra, e o brigadeiro Eduardo Gomes, da União Democrática Nacional (UDN).

Getúlio foi eleito, na coligação com o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e Partido Social Progressista (PSP), com cerca de 49% dos votos, contra o brigadeiro Eduardo Gomes (UDN) que obteve 29,7%. Vargas recebeu aproximadamente 4 milhões de votos, mais de um milhão e meio de votos a frente de Eduardo Gomes.

A UDN contesta a vitória alegando que Vargas não conseguiu a maioria absoluta, mas a Justiça Eleitoral desconsidera a contestação da UDN. Getúlio e seu vice, Café Filho, que também obteve a maioria dos votos, tem suas vitórias corroboradas pela Justiça Eleitoral. 

O principal opositor de Vargas, jornalista Carlos Lacerda, lançou no jornal Correio da Manhã: “O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar!”.

A campanha de Getúlio foi marcada com a plataforma de recuperação da economia e das perdas salariais ocorridas durante o governo Dutra. O ministro do Trabalho era João Goulart (Jango) e após duas greves gerais, Getúlio aceita a proposta de Jango e concede aumento de 100% no salário mínimo.

Os empresários brasileiros iniciam uma campanha para desestabilizar o governo e começam a acusar Vargas de aproximação do comunismo. A insatisfação, entre os empresários, gera uma articulação para promover um golpe de estado e derrubar Getúlio.

Vargas cria a Petrobras, em 1953, instituindo o monopólio da exploração, refino e transporte do petróleo, cria também o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE (1952) e propõe a criação da Eletobras. 

As reivindicações dos trabalhadores e as greves promovidas por setores organizados do operariado nacional fez surgir o discurso, das elites nacionais, de que Vargas se associara aos sindicatos para implantar um regime socialista.

Parte do empresariado e a imprensa, quase que totalmente, liderada por Carlos Lacerda, iniciam um processo de desestabilização do governo. Em 1954, na rua Toneleiros, no Rio de Janeiro, o jornalista Carlos Lacerda, principal opositor ao presidente Getúlio Vargas, sofre um atentado. 

O fato, ainda hoje, levanta discussões e pouca certeza existe sobre o que realmente aconteceu. A história oficial revela que, na volta para casa, Lacerda, acompanhado de dois seguranças, foi vítima de uma emboscada a bala. No atentado morreu Rubens Vaz e Carlos Lacerda foi atingido no pé.

O atentado foi creditado a guarda presidencial de Getúlio Vargas, mais precisamente Gregório Fortunato. Lacerda, principal líder da oposição a Vargas, foi a público e acusou Getúlio como o responsável pelo atentado.

Em agosto de 1954, as Forças Armadas, sob a liderança do candidato perdedor das eleições de 50, brigadeiro Eduardo Gomes, lançam um manifesto exigindo a renúncia de Vargas. Getúlio se recusa a obedecer e, dois dia após o manifesto, se suicidada, no Palácio do Catete, com um tiro no peito. O suícidio gera uma comoção nacional e acaba por adiar o golpe militar em dez anos.

*Continua no próximo domingo

**Clique aqui e leia o texto do domingo passado

*Jornalista formado na Universidade Federal de Ouro Preto – MG

 

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