Brasília – O jornalista Cláudio Abramo negava a tão propalada “Ética Jornalística” com uma alfinetada cruel:
– “Não existe Ética do Jornalista, nem Ética do Médico, nem Ética do Advogado. O que deve existir é a Ética do Cidadão, porque antes de ser jornalista, médico ou advogado, todos devem ser cidadãos”.
Certíssimo!
Felizmente os gênios não precisam de diploma; o jornalista Claudio Abramo na verdade era marceneiro e ele mesmo dizia que não chegou a concluir o que se chama hoje de 2º grau.
Mas falava fluentemente cinco idiomas e promoveu a revolução gráfica e editorial no jornalismo impresso brasileiro. E deixou essa pérola sobre a Ética, pela qual me inspiro para escrever sobre a “Consciência Negra”.
Nos anais da revista Veja tem uma entrevista com a finada Hebe Camargo, acho que na década de 1980, quando ela fala sobre racismo.
A Hebe na verdade era morena e decidiu virar loira no final da década de 1950 e assim ficou até a morte. A resposta à pergunta de Veja foi:
-“O próprio negro se discrimina. Eu não conheço um negro famoso casado com uma negrinha”.
Silêncio total.
Não sei se hoje haveria um levante contra a fala da Hebe, mas a verdade é que ela mandou todo mundo pensar melhor na questão do racismo.
Os judeus se entenderam porque se uniram; são raríssimos os casos de judeu casado com não judeu. Não sei se a questão é por aí, mas é de bom alvitre repará-la.
Ética e Consciência não devem fazer parte de movimentos raciais porque são questões – como colocou o genial Claudio Abramo – da cidadania. Quem não tem Ética nem Consciência não é cidadão.
E quanto mais se fala sobre Consciência Negra menos parece que temos adquirido. Uma atriz global negra e casada com um negro se diz mãe de filho “bicolor” porque “ela é mais branquinha”.
Mas não me incomoda o que pensa essa atriz negra, nem o cabelo loiro ou a face da negra tingida de pó de arroz; na condição de negro, o que me incomoda é que na luta por essa “Consciência” tenhamos descambado para a humilhação das cotas.
Cota para negro é o reconhecimento do racismo e é também a capitulação do negro. Pior: é a institucionalização da incapacidade como pecado original do negro.
Afinal, a luta é por igualdade ou privilégios?
Ah! Ia esquecendo de dizer que Zumbi e o irmão dele estudaram no Colégio Jesuíta em Recife e não precisaram de cota.
Que bom, não é?