Monthly Archives: novembro 2013

Ufa! Zumbi estudou em Recife e não precisou de cota…
   20 de novembro de 2013   │     12:12  │  6

Brasília – O jornalista Cláudio Abramo negava a tão propalada “Ética Jornalística” com uma alfinetada cruel:

– “Não existe Ética do Jornalista, nem Ética do Médico, nem Ética do Advogado. O que deve existir é a Ética do Cidadão, porque antes de ser jornalista, médico ou advogado, todos devem ser cidadãos”.

Certíssimo!

Felizmente os gênios não precisam de diploma; o jornalista Claudio Abramo na verdade era marceneiro e ele mesmo dizia que não chegou a concluir o que se chama hoje de 2º grau.

Mas falava fluentemente cinco idiomas e promoveu a revolução gráfica e editorial no jornalismo impresso brasileiro. E deixou essa pérola sobre a Ética, pela qual me inspiro para escrever sobre a “Consciência Negra”.

Nos anais da revista Veja tem uma entrevista com a finada Hebe Camargo, acho que na década de 1980, quando ela fala sobre racismo.

A Hebe na verdade era morena e decidiu virar loira no final da década de 1950 e assim ficou até a morte. A resposta à pergunta de Veja foi:

-“O próprio negro se discrimina. Eu não conheço um negro famoso casado com uma negrinha”.

Silêncio total.

Não sei se hoje haveria um levante contra a fala da Hebe, mas a verdade é que ela mandou todo mundo pensar melhor na questão do racismo.

Os judeus se entenderam porque se uniram; são raríssimos os casos de judeu casado com não judeu. Não sei se a questão é por aí, mas é de bom alvitre repará-la.

Ética e Consciência não devem fazer parte de movimentos raciais porque são questões – como colocou o genial Claudio Abramo – da cidadania. Quem não tem Ética nem Consciência não é cidadão.

E quanto mais se fala sobre Consciência Negra menos parece que temos adquirido. Uma atriz global negra e casada com um negro se diz mãe de filho “bicolor” porque “ela é mais branquinha”.

Mas não me incomoda o que pensa essa atriz negra, nem o cabelo loiro ou a face da negra tingida de pó de arroz; na condição de negro, o que me incomoda é que na luta por essa “Consciência” tenhamos descambado para a humilhação das cotas.

Cota para negro é o reconhecimento do racismo e é também a capitulação do negro. Pior: é a institucionalização da incapacidade como pecado original do negro.

Afinal, a luta é por igualdade ou privilégios?

Ah! Ia esquecendo de dizer que Zumbi e o irmão dele estudaram no Colégio Jesuíta em Recife e não precisaram de cota.

Que bom, não é?

Ufa! Lá vem a Marina Silva descendo a ladeira…
   19 de novembro de 2013   │     9:17  │  0

Brasília – A ex-senadora e ex-ministra Marina Silva obteve 20 milhões de votos para a presidência da República, mas não teve condições de arregimentar 400 mil adeptos para a sua Rede de Sustentabilidade.

Será que já descobriram quem é a verdadeira Marina Silva?

Então, como explicar que não tenha conseguido reunir 400 mil seguidores se obteve 20 milhões de votos?

Pode ser porque esse não é um caso para a Matemática; tem algo acima dos números. Com um discurso radical que ela mesma sabe ser inexequível, Marina quer chegar à presidência da República com uma capa de idoneidade jamais vista.

Uma santa imaculada, embora já tenha cumprido vários mandados eletivos.

O resultado da pesquisa do Ibope divulgado nesta terça-feira, 19, mostra uma Marina ladeira abaixo. É verdade que o jogo não começou, mas também é verdade que já se descobriu as incoerências da Marina.

Exemplo: em Goiás a Marina não quer o apoio do Ronaldo Caiado porque o Ronaldo Caiado representa “os latifundiários”. Mas, em Pernambuco, a Marina quer o apoio dos usineiros.

Marina saiu do PT e foi para o PV, e saiu do PV para criar o partido para chamar de seu e não conseguiu as assinaturas suficientes. E como sabia que não tinha conseguido o número legal de assinaturas, a proposta para o Tribunal Superior Eleitoral foi aceitar o pedido de registro e conferir o número de assinaturas depois.

Assinaturas que sabiamente não existiam no número legal.

Sem o partido para chamar de seu, Marina procurou o melhor gancho para esticar a sua rede. Refugou o PPS, pois é sem futuro, e foi se embalar no PSB dos usineiros socialistas na esperança de o governador Eduardo Campos ceder-lhe a vez.

A queda de Marina também pode ser contabilizada à confusão mental sobre o tipo de governo que faria na hipótese de ser eleita presidente, e ela respondeu que juntaria o que o governo FHC fez de bom com o que o governo Lula fez de bom.

Ou seja: não tem programa de governo. Ou tem programa, mas é inexequível. Ou ainda: pode ser exequível, mas levará o país à bancarrota, como a proposta para destruir o agronegócio nacional baseada no discurso escroto do ambientalista.

Ufa! Ainda bem que já descobriram que a Marina Silva não é, assim, nenhuma Consul.

Faltam 149 dias para o mensalão do PSDB prescrever…
   18 de novembro de 2013   │     15:03  │  8

Brasília – No feriado da República os brasileiros e as brasileiras foram sacudidos com um naco de esperança no horizonte quase perdido da nação: agora, quem roubar vai para a cadeia.

Mas será que vai mesmo todos eles, ou apenas alguns?

Eis o problema: não há certeza de que a decisão do Supremo Tribunal Federal mandando prender os condenados do mensalão é a primeira pedra na fileira do dominó.

Infelizmente, não há e esse naco de esperança corre o risco de ser mais uma frustração à frente. Há outros processos oriundos de operações policiais em conjunto com o Ministério Público Federal dormitando nas prateleiras do Supremo.

Exemplo: a partir desta segunda-feira, 18, faltam 149 dias para o mensalão do PSDB prescrever. Se ninguém abrir os trabalhos o processo caduca e a punição prescreve, o que será lamentável.

Será lamentável se o processo do mensalão do PSDB prescrever porque os brasileiros e as brasileiras ficarão sem saber como tudo começou. Sim, porque o mensalão não começou com o PT.

Aliás, o Marcos Valério é um “operador free-lancer” do mensalão e tudo começou em Minas Gerais no governo do PSDB. Em tempo: Valério é mineiro.

Se deu certo com o PSDB, então coube ao PT contratar o “operador free-lancer” e imitar o adversário – até porque, como ensinava o grande Raul Seixas, se você quer entrar no buraco do rato, de rato você terá que transar.

Ou, mais precisamente, eles usaram as armas do inimigo.

Mas, como até agora só o mensalão do PT foi julgado e o processo do mensalão do PSDB está a 149 dias de prescrever corre-se o risco de concluir que um pode fazer e o outro não.

E aí o naco de esperança se esvai e a esperança continuará perdida.

Em Alagoas tem o exemplo da “Operação Taturana”; tudo certinho, tudo devidamente apurado e até agora não há indício sequer tênue de que será julgado.

Em contrapartida, o deputado federal Natan Donadon está preso por ter praticado o mesmo crime, no que se refere à essência, ou seja, desvio de dinheiro da Assembleia Legislativa de Rondônia, mas infinitamente menor no que se refere ao montante desviado.

Em Alagoas, somando a taturana com o escândalo mais recente de 70 milhões de reais desviados, passa-se dos 300 milhões de reais o total do crime, enquanto o Donadon desviou apenas 8 milhões de reais!

E já foi julgado e está preso. Coitado do Donadon…8 milhões de reais…uma titica comparando com o que desviaram em Alagoas!

São esses opostos que incomodam.

Ah! É preciso dizer que o processo do mensalão tinha como primeiro alvo o ex-presidente Lula, mas se ouviu a prudência recomendando não atacar o mito e eles acataram.

Ora pois, depois de o presidente dos Estados Unidos ter definido o Lula como “o cara” e depois da liderança que o homem de nove dedos nas mãos assumiu por competência a prudência tem razão e as elites incomodadas quedaram-se na sanha diabólica.

Afinal, mexer com o Lula é mexer com o povo e todo artista sabe que deve ir sempre aonde o povo está.

Sim, mas afinal, quando é que vão julgar os outros processos?

A volta de João Goulart e os 50 anos do golpe
   16 de novembro de 2013   │     1:00  │  8

Brasília – Na véspera de completar 50 anos do golpe de 1964, a cicatriz da história é reaberta com a exumação dos restos mortais do presidente João Goulart – que foi deposto e banido.

Os mais novos conhecem a história pela história e os mais velhos vivenciaram essa história, seja como observadores ou protagonistas.

Mas a perseguição a João Goulart data de muito antes do golpe; é preciso lembrar que Goulart foi ministro do Trabalho de Getúlio Vargas – que, pressionado, teve de exonerá-lo.

Com forte vinculo no movimento sindical, Goulart se fez na política e em 1961 desbancou Milton Campos, que era o vice de Jânio, e se elegeu vice-presidente da República.

Jânio tentou dar o golpe com a renúncia, imaginando que não iriam aceitá-la, e ele voltaria ao governo como ditador disfarçado.

Mas aceitaram e o plano de Jânio falhou.

Não foi fácil para João Goulart assumir o governo; a crise instalada pela reação da direita escudada nos militares quase levou à convulsão nacional, até surgir a ideia do Parlamentarismo.

Seis meses depois, Goulart conseguiu reinstalar o Presidencialismo e aguçou a ira da direita preocupada com a “República Sindicalista” que – dizia – Goulart iria implantar.

E Goulart titubeava procurando uma brecha para aquietar os adversários. Para se resguardar, nomeou o amigo general Amaury Kruel para comandar o Exército em São Paulo.

E, quanta ironia, foi o general Amaury Kruel quem garantiu o golpe ao se passar de última hora para o lado dos golpistas.

Apeado do poder, Goulart foi para o exílio.

E volta agora na forma de esqueleto para dá forma ao fantasma que ainda assombra 50 anos depois.

Qual o resultado mais viável para essa exumação? E se Goulart morreu mesmo de enfarte, a história finalmente poderá jazer em paz?

A República mesmo, só tem 20 anos. Viva a República!
   14 de novembro de 2013   │     10:25  │  3

Brasília – Passados 124 anos da proclamação da República, e somente agora nas últimas duas décadas é que o brasileiro experimenta a estabilidade política combinada com a estabilidade econômica.

Os pais e os avós de muitos de nós não vivenciaram isto. Nunca, na história deste país, a sociedade brasileira viveu 20 anos ininterruptos de estabilidade política.

O suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954, adiou por dez anos o golpe que instalou o governo militar – que durou até 1984, ou seja, 20 anos.

Nesses 124 anos, com exceção dos últimos 20 anos, a história da República brasileira ficou marcada por períodos de agitações que levaram a governos duros que até podem ser chamados de ditadores – que se regiam por uma Constituição sob medida.

Mas, o que aconteceu? Que milagre é esse que já dura 20 anos?

O milagre tem vários santos. Vamos enumerar: se o Fernando Collor quando foi presidente não tivesse deixado uma reserva cambial perto de 60 bilhões de dólares, o Itamar Franco não teria lastro para mandar o Fernando Henrique Cardoso fazer o Plano Real com o câmbio ao par.

Também foi o Collor que escancarou o mercado interno e fez surgir um novo tipo de empresariado brasileiro, que se move pela competição. Até o governo Collor, o empresariado nacional vivia às custas da União, no mínimo, como beneficiário das medidas que o protegia da competição.

Quando disse que os automóveis nacionais eram carroças, o Collor chutou o pau da barraca e atraiu contra si a ira dos que jamais tinham sido incomodados; o mercado até então sempre se regulou pelas medidas protecionistas, e o Collor acabou com a farra.

Gostem dele ou não, mas deixar de reconhecer esse mérito é pura mesquinhez.

Há 20 anos que o nome do dinheiro brasileiro é o mesmo e isto também é inédito. Já se chamou de tostão, mil-réis, pataca, cruzeiro novo e velho, cruzado e também já se misturou com outras “moedas” que circulavam à marginalia, tais como a URV e o dólar, com os quais muita gente numa época recente fechava os seus negócios.

Nos últimos 20 anos um ex-operário chegou ao poder; uma ex-guerrilheira está no poder, e as instituições nacionais não sucumbiram como pregavam os antepassados durante a paranoia anti-comunista.

É como se a taboca do foguete onde muitos partiram segurando pelo rabo retornasse à terra, depois de cumprir com a missão.

O Collor deixou a base para o Plano Real, o Itamar fez, o Fernando Henrique aplicou, o Lula aperfeiçoou e a Dilma está mantendo e nisso já se vão 20 anos!

Parece-me que finalmente o Brasil encontrou a República que precisava. Mas não vamos nos queixar pela demora, porque a República que foi proclamada em 1889 deveu-se a uma dor-de- cotovelo do marechal Deodoro.

Seguinte: o marechal Deodoro não saiu às ruas para proclamar a República e sim para derrubar o ministério chefiado por Ouro Preto.

É sabido que a Marinha pertence ao rei e depois da Guerra do Paraguai espalharam a notícia de que Ouro Preto iria acabar com o Exército. Deodoro não gostou e reagiu.

Mas não queria derrubar Pedro II; queria apenas trocar o comando do ministério, e Pedro II aceitou nomeando o gaúcho Silveira Martins.

Pronto! Foi o fim da picada.

O Deodoro era apaixonado pela Baronesa de Triunfo, no Rio Grande do Sul, e ela optou por Silveira Martins – que Deodoro tomou por desafeto, sem sarar a dor-de-cotovelo.

E como Pedro II não recuou da escolha, perdeu o trono e o jeito foi implantar a República – que, 20 anos depois, já estava velha.