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Dilma aponta saída para o Brasil: no povo e no fundo do mar
   24 de junho de 2013   │     17:21  │  3

Pelo que a presidente Dilma disse na reunião com os governadores e prefeitos, a solução para o problema do país está com o povo e no fundo do mar.

Ela anunciou que vai convocar um plebiscito para que o povo decida sobre a reforma política. Pelo o que se sabe, o plebiscito é uma consulta onde o povo vota sim ou não.

Sim é pela reforma política e eu acredito que só por ignorância, erro na tecla, ou sacanagem é que alguém votará Não.

A reforma política está atrasada desde 1889, porque quem proclamou a República foram os monarquistas.

Aproveitadores, fisiologistas e cínicos, é verdade, mas foram os monarquistas.

Até a nossa Bandeira Nacional, ainda hoje, presta homenagem à Monarquia. O Brasil é a única República cujo pavilhão homenageia a Monarquia.

O verde e o amarelo da nossa bandeira, que eles ensinaram pra gente que representavam as matas e as riquezas, na verdade representa a união da Casa de Áustria com os Bourbons, de cujo casamento nasceu a princesa Leopoldina.

Como foram os monarquistas quem proclamaram a República, eles mantiveram a homenagem.

Então, a reforma política no Brasil deveria ter sido feita em 1889.

Os próprios partidos chamados de esquerda, que poderiam ensejar alguma coisa de real e legítimo, foram uma tragédia. Os comunistas se aliaram a burguesia na década de 1940 e 1950, com a UDN, e na década de 1980, ao apoiarem Tancredo Neves.

E nessa multrifusia política não escapa ninguém: nem a direita, que nunca mudou de lado, nem a esquerda, que tem mudado de lado de acordo com a biruta.

Mas quem é que vai fazer a reforma política?

– Uma Constituinte, anunciou Dilma.

E quem é que vai poder participar dessa Constituinte?

– Ah, isso a Dilma não sabe. É melhor perguntar lá no Posto Ipiranga.

E a questão da educação, o que a Dilma propõe? A Dilma propõe que o Congresso Nacional aprove a aplicação do dinheiro do pré-Sal exclusivamente na educação, na ciência e na tecnologia e na valorização do professor.

E sobre os 39 ministérios, o mais longo ministério da história de todas as repúblicas do mundo, o que a Dilma falou?

Nada.

Reduzir o tamanho do governo e enxugar a máquina pública é item que não entra em pauta. Daí, sinceramente, a reunião da presidente Dilma me pareceu aquela jogada no futebol quando a partida está perto de acabar e  faz-se um lançamento à linha de fundo, para alguém ficar segurando a bola até o apito final.

Trocando em miúdos: ganhando tempo.

Dilma sanciona lei que dá mais autonomia a delegados. Agora só falta a PEC 37
     │     12:10  │  5

Enquanto os cães ladram, a caravana passava com o texto sancionando pela presidente Dilma dando mais autonomia para os delegados de polícia.

Foi aprovada e sancionada a lei 12.830, que blinda os delegados de polícia. O próximo passo agora é a PEC 37, que enterra o Ministério Públicos em todos os níveis, ou seja, estadual e federal.

A nova lei garante que só o delegado só poderá ser afastado da presidência do inquérito por decisão do seu superior imediato, no caso o diretor de polícia.

O mesmo se dá na questão da transferência de delegacias.

O alívio geral é que a presidente Dilma vetou o texto que garantia ao delegado de polícia o livre arbítrio, ou seja, o delegado poderia conduzia a investigação dependendo do seu “livre conhecimento técnico-jurídico”.

O senador Pedro Taques (PDT-MT), que é procurador de justiça, esbravejou contra o texto porque o delegado poderia se recusar a atender atos do Ministério Público.

Bom, agora, para tocar fogo no circo, só falta a PEC 37 ser aprovada.

As reformas que a classe média exige
   22 de junho de 2013   │     22:20  │  0

Não terminou nada ainda; o pior pode estar para acontecer se não decifrarem os recados das ruas.

Por exemplo: nada de PEC 37. Pode colocá-la no lixo porque se for aprovada será outra confusão.

E é bom rever o projeto que retira dos psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas, psicanalista, etc., o direito geral e irrestrito de clinicar.

Concordo que só os médicos foram efetivamente preparados para medicar, até porque quem procura o psicólogo ou o psicanalista é porque quer se tratar com conversa; se quisesse se tratar com remédio procuraria o psiquiatra.

Digo isso porque, embora respeite os profissionais, mas estão aí três categorias que com certeza jamais vou precisar: psiquiatra, psicanalista e psicólogo. Desde cedo entendi que o órgão mais importante do corpo humano é o fígado e não o coração; e que a cabeça é você quem faz.

Mas reconheço que tem gente que precisa; ou acha que precisa.

E também estão aí esses profissionais que estudaram e se esforçaram para se formar e não vão admitir agora essas restrições, que os colocam em plano secundário no sistema de saúde.

A sociedade criou essas necessidades e se acostumou com elas.

Vêm outros recados da classe médica:

1)A reforma política, que não sai do papel porque se sair mais da metade dos atuais congressistas não se reelege.

2)A reforma tributária, que não sai do papel porque nenhum estado quer ceder nada.

3)A reforma do judiciário, que não sai do papel porque se sair muita gente ficará vulnerável à lei.

O mais grave é que o “fim da corrupção”, outra bandeira da classe média nas ruas, está diretamente vinculado a essas reformas.

A corrupção no Brasil tomou essa proporção porque as leis são flexíveis e existem na Justiça vários atalhos pelos quais se procrastinam as sentenças.

Estamos diante do impasse: é renovar ou se preparar para outros protestos da classe média. 

 
 

A revolta da classe média na Copa do Fim do Mundo
   21 de junho de 2013   │     12:04  │  4

Acompanhei a manifestação em Brasília num primeiro momento por ângulo privilegiado, de cima para baixo, na carona de uma equipe da TV Record; depois desci e subi para a Esplanada, só para ver o perfil do manifestante.

A ideia me surgiu depois da prisão do estudante de Arquitetura em São Paulo, por ter depredado o patrimônio público.

Como um estudante de Arquitetura pode fazer uma coisa dessas? Foi a primeira pergunta; a segunda foi entender que um estudante de Arquitetura não é beneficiário do programa Bolsa Família.

Logo, aqueles jovens naquela multidão que a polícia calculou em 35 mil pessoas invadindo a Esplanada dos Ministérios só podem ser da classe média.

E são.

E concluo baseado no que já li sobre Sociologia que o erro do governo do PT foi esquecer a classe média.

Vamos raciocinar:

A classe pobre não se revoltou porque tem o Bolsa Família e o bolsa não sei –mais – o quê; e a classe rica, que já não é mesmo de se revoltar, está satisfeita com o status quo.

No máximo a classe rica tem reclamado das taxas de juros e, de vez em quando, consegue uma redução aqui e ali.

No grosso, quem está pagando a conta é a classe média. São impostos que não acabam mais e os preços aumentando na conta do seu lazer.

A manifestação que eclodiu e surpreende nada mais é do que a revolta da classe média. Não foi um pé-de-chinelo analfabeto das quebradas que depredou o patrimônio público em São Paulo.

Foi um estudante de Arquitetura, que é o curso superior predominantemente da classe média alta pra cima!

Os cientistas sociais já estão analisando por aí, com certeza. Mas tem ainda o “agravante” de o movimento ter sido deflagrado concomitantemente com a realização de um evento futebolístico internacional.

Jamais se imaginava isso.

E ainda há quem não acredite no que está vendo; ainda há quem não tenha entendido o recado da classe média, igual ao Pelé fez, ao mandar o povo voltar para casa e aplaudir a seleção brasileira.

Agora volte.

A classe pobre não tem acesso às informações que a classe média e a classe rica têm sobre o que de fato significa uma Copa do Mundo. A classe rica sabe e se cala, porque está participando do bolo.

A classe média sabe e reagiu para a surpresa geral.

É o seguinte: o senhor Joseph Blater é um cidadão respeitado que vai ganhar 4 bilhões de reais com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo no Brasil.

Nunca uma Copa do Mundo rendeu tanto à FIFA, quanto esta no Brasil.

E, antes de o espetáculo começar, a classe média entrou em campo para fazer o primeiro gol nessa Copa do Fim do Mundo!

Os podres poderes. Ou: o dia que o menino do Facebook chorou
   20 de junho de 2013   │     19:18  │  1

O estudante Jymmi Lima, que convocou o protesto em Brasília, não resistiu e chorou.

Por que tá chorando, Jymmi.

E ele, emocionado e entre soluços:

Cara, eu pensei que só tinha mil amigos. E são mais. São cinco, dez…vinte mil, cara!

Os mil amigos que o Jymmi contava para ele é o número de amigos que ele mantém adicionados no Facebook, e para os quais postou o convite para o primeiro protesto em Brasília na semana passada.

E vieram mais de 5 mil, segundo a própria polícia.

Esses protestos que eclodiram em todo o país deixaram as autoridades perplexas, não só pelo ineditismo de não ter sido convocado por partidos políticos, mas porque é o primeiro com base na mobilização pelas redes sociais da Internet.

E, ainda mais, convocado concomitantemente com a realização de um evento futebolístico que, no passado recente, se tornaria empecilho ao êxito do protesto. Caiu por terra, então, o conceito de que o brasileiro só reclamava na derrota da seleção brasileira.

As autoridades brasileiras sentiram que não é mais assim; sentiram que o caso é serio. E não sabem como reagir porque a pauta de reivindicações traz implícita uma insatisfação generalizada com os poderes constituídos – os três poderes.

Ou podres poderes.

O Executivo, o Legislativo e o Judiciário que estão aí decepcionaram a sociedade, que decidiu contratacar protestando nas ruas.

A presidente Dilma despachou o secretário Gilberto Carvalho para discutir com o Congresso Nacional a “mudança de prioridades” nas obras do governo.

Ora, se uma das reivindicações das ruas é educação e saúde de qualidade, e se o governo admite mudar as suas prioridades, então a educação e a saúde nunca foram prioridades para o governo.

Era tudo balela; era tudo promessas vãs de campanha.

A insatisfação generalizada passa pelo governo (Executivo) que não prioriza as ações sociais, pelos políticos (Legislativo) que não cumprem o que prometem, e pela justiça (Judiciário) que é demasiadamente lenta e tardia.

E nos três poderes há ainda a corrupção, que tanto envolve o político que superfatura obras, como o delegado envolvido com crimes e o juiz que vende sentença. Os três poderes estão igualmente atolados nesse mar de lama.

As autoridades estão assustadas e isto é bom para o país que se pretende construir. Porque enquanto os homens exercem seus podres poderes, a sociedade padece com a falta de saúde pública, educação de qualidade e honestidades nos poderes.

Que estão sim podres.