Monthly Archives: março 2013

O espetacular resgate de presos políticos em Maceió, em 1968
   30 de março de 2013   │     12:12  │  5

Poucas pessoas ainda hoje sabem que, em Pariconha, antigo povoado emancipado de Água Branca no extremo Oeste de Alagoas, um grupo de agricultores liderou um movimento guerrilheiro que surpreendeu a repressão na época.

Foi em 1968 que se descobriu o movimento.

A história é a seguinte: o ex-deputado estadual e conselheiro aposentado do Tribunal de Contas, Roberto Torres, era prefeito de Água Branca e me contou que o então governador Lamenha Filho foi inaugurar o grupo escolar em Pariconha.

O que deveria ser uma solenidade oficial comum se transformou no maior bate-boca entre um popular na platéia e as autoridades presentes.

Surpreendido com a reação daqueles agricultores sertanejos de aparência frágil, mas muito bem informados cobra a conjuntura política nacional, Lamenha Filho desabafou para Roberto Torres – segundo o próprio Torres me contou:

-“Isto é uma semente. Quando chover vai nascer mais”.

Logo após esse episódio, a repressão política fez uma incursão em Pariconha e prendeu alguns desses agricultores – e alguns deles nem eram agricultores; eram sim ativistas que fugiram de São Paulo para escaparem da prisão política.

Entre os que não eram agricultores estava o Aldo Arantes, goiano, que foi deputado federal pelo PC do B de Goiás. O Aldo fugiu de São Paulo para escapar da repressão e veio se esconder no Sertão alagoano, ele, a mulher e a filha.

Os três foram presos e trazidos para a delegacia da Dopse, que funcionava na Rua Cincinato Pinto, numa casa vizinha à atual sede da Secretaria de Agricultura. Mas, para sorte deles, a repressão não descobriu quem na verdade era o Aldo Arantes e, antes de descobrir, os presos foram resgatados numa operação espetacular em Maceió.

Mas, como o Aldo Arantes, e depois a Socorro Gomes, que foi deputada federal pelo PC do B do Pará, vieram para o Sertão alagoano, mais precisamente para Pariconha?

Isso o José Correia, um dos agricultores e nativos que participou do movimento, me contou:

-“A gente se conheceu em São Paulo. Nós fomos trabalhar em São Paulo e acabamos nos envolvendo na luta política. Eu mesmo achava bonito quando a gente embolava as bolas de gude na pista para ver a cavalaria patinar e cair. Quando a coisa apertou lá (São Paulo) a gente correu de volta para Pariconha”.

Mas não é só isso; em Pariconha já havia uma base da AP (Ação Popular), ligada à Igreja Católica, e que ajudou na fundação de sindicatos rurais. Foram 14 sindicatos, contou-me Correia, fundados em Alagoas com a ajuda da AP.

O que eles pretendiam a partir do movimento de Pariconha ficou na interrogação. Só sei que o Ronaldo Lessa, então estudante de Engenharia da Ufal, foi preso depois de pichar o muro do Teatro Deodoro com a frase: “Liberdade para o pessoal de Pariconha”.

E agora vem o mais espetacular: a fuga da Dopse. A fuga foi uma derrota que a repressão política em Alagoas engoliu constrangida e que o Zé Correia, que participou do resgate, me conta orgulhoso:

-“A gente tramou tudo nos mínimos detalhes. A fuga foi num domingo, dia de jogo, um clássico entre o CSA e o CRB. Nós colocamos soníferos no café dos policiais, sem que eles notassem. A garrafa de café ficava na portaria e os policiais estavam entretidos ouvindo o jogo pelo rádio. O sonífero foi preparado pelo doutor Rocha, irmão do advogado José Moura Rocha. Nós esperamos os policiais adormecerem, pegamos a chave, abrimos a cela e liberamos todo mundo. Quem deu fuga ao pessoal foi o Eduardo Bonfim, que ficou ali na rua das árvores estacionado num fusquinha esperando o Aldo, a esposa e os filhos”.

Gente, depois desse episódio em Pariconha deu-se em Alagoas um fato no mínimo curioso: a convocação de reservistas para servirem numa companhia exclusivamente dedicada ao combate à guerrilha.

Era a 1ª Companhia do então 20º Batalhão de Caçadores, que virou a 1ª CG ( Companhia de Guerrilha) formada por reservistas, ou seja, soldados que já tinham prestado o serviço militar e foram convocados como voluntários.

Foi a primeira e, até agora, a única convocação de reservistas após a II Guerra Mundial. E aconteceu em Alagoas.

 

 

O monstro despertou e assusta o governo do PT
     │     9:02  │  0

A inflação é igual ao crime, que ninguém conseguirá acabar; no máximo pode se controlar sem jamais vacilar na vigilância. Qualquer vacilo é fatal.

Nunca, na história deste país, a sociedade viveu um período tão longo de estabilidade econômica. Desde 1994 a inflação, ou o “monstro” de quem se fala, esteve sob controle.

E o que aconteceu para o monstro ser despertado?

Aconteceram vários sacolejos na cama do monstro, mas o mais grave deles é a política de crescimento econômico baseada na expansão do crédito.

Como dissemos antes, hoje se compra um carro como quem compra fubá fiado na bodega do bairro. Para estimular o consumo, o governo reduziu o IPI e ampliou os prazos de financiamento.

Num primeiro momento foi tudo uma beleza, mas agora vêm as conseqüências: as estradas abarrotadas de carros, o consumo de combustíveis aumentou na mesma proporção e não dá mais para refazer o caminho.

A presidente Dilma está indócil com a oposição, sobretudo com o PSDB, que parece apostar na velha política do quanto pior melhor.

E tudo isto porque, de acordo com os compêndios mais triviais da Ciência Econômica, para se combater a alta da inflação só existe um mecanismo – que é restringir o crédito, ou seja, como ensinava o saudoso professor Luis Fernando Oiticica Lima, da Ufal, conter a liquidez.

E enquanto a oferta de crédito se mantiver nesse atrativo, o máximo que o governo do PT poderá fazer é maquiar os números, ou seja, fingir que o monstro da inflação não despertou e que não ameaça  economia.

Mas, isto, já se fez antes e não deu certo.

O pior é que o monstro despertou às vésperas do ano eleitoral de 2014, o que levou a presidente Dilma ao dilema: crescer ou não crescer?

Se crescer, ou seja, se mantiver a política de crescimento econômico a qualquer custo, a presidente Dilma estará fustigando o monstro.

E se optar por estancar o crescimento econômico, a presidente Dilma estará indo de encontro ao pragmatismo econômico do PT e à própria linha de ação do partido nesses quase 16 anos de poder.

Para quem quer se reeleger essa hipótese é um desastre, que a oposição torce para que não ocorra porque quanto pior melhor.

A 1ª Páscoa do Francisco e o crescimento dos ateus no mundo
   28 de março de 2013   │     11:54  │  12

Pela pesquisa divulgada na revista “Super Interessante”, a redução do rebanho católico no mundo coincidiu com o aumento do número de ateus.

O resultado foi esse:

Cristianismo ( catolicismo, protestantismo, judaísmo) são 32,2% da população do mundo.

Islamismo (muçulmanos ) são 21,7% da população do mundo.

Hinduísmo são 12,5%.

Budistas são 5,9%.

Outras religiões são professadas por 12,6% da população mundial.

E 15,1% da população mundial são de ateus.

A Igreja Católica com mais de 2 mil anos de existência enfrentou várias crises; muitos papas foram assassinados, mas ainda mantém a hegemonia entre os cristãos de todo o mundo – apesar de vir perdendo fiéis.

E foram crises tão sérias, ao longo da história, entre elas o caso do papa Bonifácio VII, que foi assassinado, e o seu sucessor, Bonifácio VIII, que lhe seguiu os passos, se desentendeu com Felipe ( O Belo) e morreu louco se maldizendo de Deus.

Nada, porém, pareceu abalar o Vaticano como a crise atual. Talvez isso se dê pela facilidade como se desenvolve as seitas religiosas, e algumas delas alcunhadas de igrejas, e a decepção de alguns fiéis que foram atraídos pela teologia da prosperidade e abandonaram a teologia da penitência.

Igual a qualquer aglomerado humano, a Igreja Católica não poderia passar incólume à disputa pelo poder nem às correntes conservadoras e reacionárias se confrontando com a ala progressista.

E para completar vieram à tona os casos de pedofilia, que sempre existiram, mas eram mantidos em segredo.

De natureza econômica, a questão do celibato terá de ser discutida. Diz-se que o celibato tem natureza econômica porque se trata de uma prevenção: ao permitir que o padre se case, o Vaticano terá de assumir a responsabilidade sobre a esposa e a prole dele.

E aí…

Lá no Clube de Jovens Católicos do Bom Parto, o bairro operário de Maceió, a gente tinha a liberdade de discutir com o frei Afonso – que era alemão e morava com o frei Caetano, pároco da Igreja dos Martírios, na casa paroquial em frente à praça.

O frei Afonso era da OFM ( Ordem dos Franciscanos Menores ) e parecia não gostar de usar a batina; a gente só via o frei Afonso de batina na missa.

Ele considerava o celibato um erro, mas dizia que não dava para contestá-lo porque acabou virando dogma.

Mas, alguma coisa está mudando. Ou pelo menos está surgindo sinais de que virão mudanças por aí e isto a começar pela escolha do nome Francisco para o papa.

Para mim, o nome Francisco foi escolhido antes de se conhecer o cardeal que seria papa. O que me leva a pensar assim é que, quando o repórter perguntou aos irmãos do cardeal brasileiro Vicente Scherer que nome ela adotaria se fosse escolhido papa o irmão respondeu:

Acho que ele vai adotar Francisco. Ele é devoto de São Francisco.

Não é à toa que Deus tenha mandado São Francisco salvar a igreja Dele. E salvar não apenas porque parte do rebanho se debandou para outras religiões, mas porque o percentual de 15,1% de ateus remete aos primórdios do Cristianismo.

Para o Vaticano, pior do que assistir o rebanho virar evangélico é  vê-lo perder a fé.

Nessa primeira Páscoa do papa Francisco, que tenham todos uma Boa Páscoa! Sejam católicos, evangélicos ou ateus.

A oposição achou o monstro para assustar a presidente Dilma
     │     11:03  │  1

O pragmatismo do PT, inclusive na economia, deixou a presidente Dilma no dilema: crescer ou não crescer, eis a questão!

E como manter o crescimento econômico com o monstro da inflação despertando?

O dilema da presidente Dilma me remete à Universidade Federal de Alagoas, em meados da década de 1970, com as aulas do saudoso professor de Economia I e II Luiz Fernando Oiticica Lima – que ensinava:

-“Para combater a inflação é necessário restringir a liquidez, os meios de pagamento”.

Por liquidez entenda-se o poder de compra e por meios de pagamento o somatório de todo o dinheiro depositado nos bancos, mais o dinheiro no bolso da população – ou embaixo do colchão.

A tônica do PT foi o crescimento econômico, a geração de empregos, a expansão do crédito. E o crédito expandiu tanto, que é possível comprar um carro como quem compra fubá fiado na bodega do bairro.

E assim, pelas aulas sábias do Luiz Fernando, não dá para manter o monstro dormindo. A inflação é igual ao crime – que ninguém acaba e sim controla. Qualquer vacilo e o monstro da inflação desperta do seu sono que não é letárgico.

A oposição aguça o despertar do monstro, ora atacando a Petrobras, ora espalhando que o governo não vai mexer na taxa de juros – que seria, no ensinamento do saudoso Luiz Fernando, restringir a liquidez.

De fato, para quem quer se reeleger em 2014 trata-se de uma medida antipática. Além de antipática, vai de encontro à política econômica e ao pragmatismo econômico do PT; seria a mesma coisa que reconhecer ter seguido o caminho errado.

Ou seja: no lugar de expandir o crédito terá agora de restringi-lo; dificultá-lo ao máximo para evitar que a oferta de dinheiro pressione a alta dos preços, como trata a Lei da Oferta e da Procura.

E por falar na sucessão em 2014, a oposição encontrou o mote para fustigar a presidente Dilma; basta fazer ilações sobre as palavras dela e a Bolsa de Valores reage negativamente.

E o pior é que a presidente Dilma, com o pavio curto, engole a corda.

Feliciano e a democracia de uma versão só
   27 de março de 2013   │     12:38  │  9

Você pode não concordar com o que o deputado Feliciano diz, mas não deve impedi-lo jamais de ter a liberdade de se expressar.

Afinal, não foi pela liberdade de expressão e pelo estado democrático de direito que muitos lutaram e muitos morreram?

E que democracia é esta de uma versão só?

Quero reiterar que não concordo com o deputado Feliciano, nem acredito no pastor Feliciano. Noé e o dilúvio, para mim, são tão verdadeiros quanto a Caipora e o Saci Pererê.

Mas, mesmo se Noé e o dilúvio não fossem lenda ou ficção religiosa; mesmo se Noé tivesse existido, que honra que é descender de uma raça amaldiçoada por ele!

Imagine um pai que se embriaga, dá alteração em casa e fica nu. Este pilantra não tem autoridade moral.

Outra coisa é que eu procurei na Bíblia e não encontrei nada relacionado a isso que o pastor Feliciano diz; pelo menos na minha Bíblia não tem.

O pastor Feliciano está sendo processado pelo Supremo Tribunal Federal por estelionato e que responda pelo crime.

Até ser condenado, nada o impede de assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias na Câmara Federal; nem mesmo o seu posicionamento homofóbico e racista.

Nem isso!

É exatamente na comissão que se vai debater essas diferenças e, para ser legítima, a comissão tem sim de estar composta por Felicianos e Bolsonaros – ainda que não se concordem com eles.

A lei garante ao deputado Feliciano a presidência da comissão e a lei tem que ser respeitada, senão vira anarquia – e é isto o que se assiste com as manifestações de faniquitos por parte de alguns ativistas.

Estamos perigosamente caminhando para a anarquia.

Lembrem-se: quando se impede o outro de falar é porque perdemos os nossos argumentos. Quem se levanta contra o deputado Feliciano, para impedi-lo de se manifestar está indiretamente anunciando que teme os seus argumentos – logo, o argumento contrário ao dele é falho.

É isso?

Não existe democracia de uma versão só, e é imperioso para a sociedade que prevaleça o debate e que se vença pela argumentação.

A Câmara Federal, o partido do deputado Feliciano e o próprio deputado Feliciano estão corretos em reagir a não ceder. Se cederem se desmoralizam.

Essa é uma questão de preservar as instituições, porque só quem tem direito de interromper a liberdade de alguém é a Justiça e somente só a Justiça.

E ainda assim, baseada no processo onde se tem o direito ao contraditório. O resto é ditadura das minorias.