por Aprigio Vilanova*

O general da reserva Hamilton Mourão (PRTB-AM), vice candidato à presidencia na chapa de Jair Bolsonaro (PSL-RJ), é o protagonista da mais nova polêmica na campanha eleitoral. Mourão afirmou que “as crianças criadas por mães e avós, em áreas carentes, são uma fábrica de elementos desajustados”.  

A polêmica é só mais uma no histórico de declarações do general da reserva. Mourão já declarou que índios são indolentes, que africanos são malandros, classificou os países emergentes como ‘mulambada’, além, é claro, de intitular o chefe de tortura na ditadura militar, Carlos Brilhante Ustra, como herói nacional.

A repercussão as declarações foi imediata. O assunto virou um dos mais comentados nas redes sociais, movimentando declarações contrárias a declaração preconceituosa do general da reserva. Basicamente, Mourão, culpou a pobreza e as mulheres pelo problema da violência e do narcotráfico.  

É preciso explicar que um dos grandes problemas que alimentam cada vez mais a entrada de jovens no narcotráfico não tem nada a ver com a composição familiar. O narcotráfico se alimenta na desigualdade social, na falta de oportunidades e perspectivas do jovens que crescem nas periferias das cidades brasileira. Para ficar, apenas, em dois fatores. 

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres já são maioria como chefes dos lares no Brasil. Cerca de 11,6 milhões de pessoas é o contingente de mulheres que vivem sozinhas com seus filhos. Quando calculado o número de casais com filhos, o número chegou a 6,8 milhões, em 2015. 

Mourão concedeu entrevista, nesta terça (18), negando que tenha feito crítica às mulheres, para o candidato esta é uma constatação. O candidato parte de uma observação assentada, apenas, no senso comum para explicar a causa do crime organizado no país. Tanto não explica, como acaba revelando a mentalidade que impera de criminalização da pobreza.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a partir do censo escolar de 2011, constatou que existem 5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do pai na certidão de nascimento. O levantamento também apontou o Rio de Janeiro como o estado com o maior número de crianças nesta situação, são cerca de 663.375.

A declaração de Mourão, com forte cunho machista, foi mais um tiro no pé na campanha de Bolsonaro que tenta a todo custo desconstruir seu comportamento misógino. A reação a declaração de Mourão gerou indignação até em setores da direita, a jornalista Raquel Sheherazade publicou em seu Twitter aderindo a campanha criticando a declaração e aderindo a campanha das mulheres contra Bolsonaro.

O movimento organizado por mulheres do país inteiro tem causado grande repercussão nas redes. O grupo criou uma página no Facebook e em menos de dois já contavam com 2 milhões de mulheres inscritas, foi o suficiente para hackers simpatizantes de Bolsonaro invadirem e atacarem as integrantes, inclusive com a ameças. O tiro saiu pela culatra.

*Jornalista formado na Universidade Federal de Ouro Preto – MG

 

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