Causou estranheza a indicação do economista Adriano Pires para a presidência da Petrobras, em substituição ao general Joaquim Silva e Luna.

Pires é consultor de empresas que têm negócios com a Petrobras, e isso é público e notório, e também é conhecido no Congresso Nacional como lobista que atua em favor dessas empresas para as quais presta assessoria remunerada.

Não é crime ser lobista, e nos países sérios a atividade do lobista é regulamentada, mas, não se tem conhecimento de um lobista que tenha sido indicado para presidir uma empresa – a mais importante empresa do país -, para onde convergem os seus interesses.

Essa é a questão.

Mas, e o presidente Bolsonaro não sabia disso? O presidente não sabia que Pires era um lobista?

Sabia.

E o Pires não agiu por foro íntimo ao recusar o convite, pelo contrário, ele estava até comemorando a indicação, e só recusou o cargo porque foi forçado pela reação negativa dos acionistas da Petrobras, principalmente os acionistas estrangeiros.

A notícia da sua indicação para presidir a Petrobras não foi bem aceita – Bolsonaro o havia convidado para o cargo no começo de março -, e isso já havia sido alertado, não só pelo motivo já exposto, mas porque ele defende a privatização da empresa, o que contraria setores do próprio governo.

Bolsonaro já disse que, por ele, venderia a Petrobras, mas essa disposição não poderia se confundir com o convite para um lobista assumir a presidência da empresa, porque sinaliza estar em curso esse desejo.

Além disso, confundia-se com a fábula da raposa nomeada para administrar o galinheiro.

É certo que há uma incoerência na política de preços praticados para os derivados do petróleo no país, ninguém entende como o preço do barril do petróleo está caindo e, no entanto, os preços dos combustíveis e do gás de cozinha no Brasil seguem na contramão, aumentando.

Todavia, não será sinalizando que está em curso o processo de privatização da empresa, que o governo vai resolver esses problemas. O que ficou implícito é que o governo procura se livrar da responsabilidade que ele tem sobre a política de preços, uma vez que não tem coragem de mudá-la.

Sim, essa política o Bolsonaro herdou do governo Temer, e não pode mudá-la, porque foi exatamente para impor essa política de preços visando prioritariamente o lucro para os acionistas, que foi dado o golpe contra a presidente Dilma.

Seria como se todo o esforço para o golpe tivesse sido em vão.

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