Brasília – A indicação de Guilherme Palmeira para governador de Alagoas foi a última a ser confirmada pelo governo militar; na época, 1979, não havia eleição direta e pesava contra a indicação de Guilherme o fato de ele ser irmão do líder estudantil e preso político, Vladimir Palmeira.
Também havia o lobby que o então presidente da ARENA, Francelino Pereira, fazia em favor da indicação do então deputado federal Geraldo Bulhões, para governador de Alagoas.
Todos os demais governadores já haviam sido indicados e a demora na confirmação do nome de Guilherme levou o então governador Divaldo Suruagy a apelar para o major Luiz Cavalcante, que na verdade era general e presidente regional da ARENA, forçando o encontro com o então presidente da República, general Ernesto Geisel – que gostava do Suruagy e era amigo do major Luiz.
Na audiência entre os três, o general Geisel disse que haviam lhe indicado o deputado Geraldo Bulhões para governador e perguntou o que eles – Suruagy e o major Luiz -, achavam da indicação. Coube ao major Luiz responder, dizendo que se tratava de um “bom nome, mas o Guilherme somava mais dentro do partido”.
Assim, foi confirmado o nome de Guilherme para governar Alagoas.
AS VIAGENS DE GUILHERME A BRASÍLIA
Viajei várias vezes com o governador Guilherme Palmeiras para Brasília, para o Rio de Janeiro e Recife, onde ia participar das reuniões da SUDENE ( Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste ). Testemunhei vários encontros dele nos ministérios e também com o vice-presidente da República, Aureliano Chaves.
Em Brasília, o Guilherme incumbia-me e ao jornalista Nilson de Miranda com a tarefa de localizar o irmão, Vladimir Palmeira, que morava na Asa Norte. Guilherme queria encontrar o irmão, que chegava ao hotel onde ele estava hospedado sem despertar atenção, e os dois ficavam horas conversando.
Nas audiências nos ministérios, chamou-me a atenção o encontro com o ministro da Indústria e Comércio, Camilo Pena. O então governador alagoano foi-lhe pedir apoio para a implantação da unidade de produção de MVC e PVC no pólo cloroquímico de Alagoas.
Depois de ouvir o relato de Guilherme e do então secretário de Planejamento e coordenador do pólo, Evilásio Soriano, o ministro Camilo Pena abriu a gaveta do birô e entregou ao Guilherme o dossiê que o Movimento pela Vida, criado em Alagoas, havia enviado pedido para o governo federal impedir a implantação das unidade de MVC e PVC, sob alegação de que ela seria erguida num terreno de mangue.
Era mentira, mas o tal Movimento pela Vida, deliberadamente ou não, fazia o jogo em favor do Rio Grande do Sul, que também pleiteava a implantação de unidades de MVC e PVC, e dependia da autorização do governo federal.
Ganhou o Rio Grande do Sul.
Guilherme ficou chocado, mas não podia fazer mais nada. Era a própria voz de um movimento alagoano jogando contra os interesses do estado, criando fake news ou notícias falsas.
Apesar desse revés em relação a consolidação do pólo cloroquímico alagoano, o governo Guilherme Palmeira foi o mais profícuo da história de Alagoas. Foram várias obras realizadas, entre elas a adutora do Sertão, que levou água a área urbana de cidades que não possuíam o abastecimento regular.
Deputado estadual, prefeito, governador e senador, Guilherme Gracindo Soares Palmeira, primo do saudoso ator Paulo Gracindo, aposentou-se como ministro do Tribunal de Contas da União e era figura conhecida e respeitada, com cadeira cativa, no famoso Bar Piantella, na Asa Sul de Brasília, onde deixa a cadeira eternamente vazia.
Vá em paz, Guilherme, o Aldir Blanc está esperando você para o brinde eterno.
Nossos sentimentos à família do conciliador Guilherme Palmeira. O Brasil tem ficado cada vez mais carente de pessoas dessa envergadura moral.