De Francisco a Zumbi, de coroinha a líder de Palmares
   20 de novembro de 2018   │     4:11  │  2

por Aprigio Vilanova

Pouco se sabe acerca da vida de Zumbi dos Palmares, os documentos são escassos, mas é possível fazer, a partir dos registros históricos existentes, uma síntese da trajetória do líder guerreiro e último chefe do quilombo que virou a maior referência na resistência negra contra o sistema escravagista durante o período colonial.

Os registros escassos encontrados por historiadores em documentos no Arquivo Histórico Ultramarino dão conta que Zumbi, filho de dois escravizados fugidos, nasceu em Palmares, tendo sido logo capturado e entregue ao padre Antonio de Melo, vigário da vila de Porto Calvo, que o criou e batizou como Francisco.

O padre Antônio educou Zumbi lhe ensinando Latim e Português. Zumbi chegou a ser coroinha o auxiliando nas missas, antes de fugir para Palmares aos 15 anos. Apesar de ter domínio do Português e Latim não há registros escritos de Zumbi acerca do cotidiano em Palmares. 

Resistência

O Quilombo dos Palmares é considerado o principal núcleo de resistência do povo negro na luta contra a escravização das Américas, tendo sido Zumbi o seu líder mais representativo. Palmares foi o maior e mais importante quilombo da história colonial e Alagoas, á época pertencente a Capitânia de Pernambuco, esteve no centro da luta contra o sistema escravagista.

Na Serra da Barriga ficava a sede do Quilombo dos Palmares, tendo funcionado como a sua capital e denominada de Cerca Real dos Macacos. Palmares era uma espécie de República confederada, cada mocando escolhia seu líder através de assembleias, estes líderes formavam um conselho que decidiam sobre os temas mais importantes e sobre a escolha do grande líder. Zumbi, antes de virar o grande líder, chefiou um desses mocambos. 

O historiador Décio Freitas, no livro “Palmares – A Guerra dos Escravos”, afirma que: “Macaco, sobre a Serra da Barriga, era a mais importante. Possuía 1.500 casas e uma população de cerca de oito mil habitantes. Estrategicamente era quase inexpugnável e por isso veio a se converter na capital da república negra. Amaro possuía mil casas e uma população avaliada em 5 mil habitantes. Subupira, Osenga, Zumbi, Acotirene, Tabocas, Acotirene, Danbrabanga e Andalaquituche, são algumas das povoações palmarinas”. 

O Quilombo dos Palmares resistiu por mais de um século a diversas investidas da Coroa portuguesa. Estima-se que no auge de Palmares cerca de 20 mil pessoas compunham a República Negra, mas é importante lembrar que a população palmarina não era composta exclusivamente por negros, mas existia também índios, mestiços, brancos pobres e marginalizados.

Ainda segundo Décio Freitas, as expedições foram “Comandadas por alguns dos melhores chefes militares da época, mais de trinta expedições – provavelmente o número passou de quarenta – marcharam contra Palmares, no mais prolongado e árduo esforço bélico da história colonial, à parte o da luta contra os holandeses. Na história das Américas, só perde em importância para a de Haiti. Um historiador como Oliveira Martins, que certamente não pecava por simpatia para com os escravos, viu em Palmares uma Ilíada e batizou Macaco, a capital palmarina, de Tróia Negra”. 

Após as dezenas de  tentativas fracassadas, o governador da Capitania de Pernambuco, João da Cunha Souto Maior, resolveu apelar aos trabalhos do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho que se encontrava no Piauí. Mas, somente na segunda tentativa de destruir Palmares é que Jorge Velho consegue êxito e concretiza o genocídio. A frente de nove mil homens coloca em prática o massacre e o fim de Palmares, mas Zumbi escapa.  

Morte de Zumbi

O líder Palmarino consegue fugir do cerco de Domingo Jorge Velho e se refugia na serra Dois Irmãos, onde hoje está situada a cidade de Viçosa. O esconderijo só foi revelado um ano após o massacre por Antônio Soares, guerreiro sobrevivente de Palmares, preso, torturado e  forçado a delatar o refúgio de Zumbi e dos últimos sobreviventes. Zumbi foi assassinado em 20 de novembro de1695, aos 40 anos.

Após a morte o corpo de Zumbi é levado a Porto Calvo e de lá segue para Recife para ser esquartejado e exposto em praça pública para servir de exemplo intimidador para outros escravizados que tentassem se rebelar com o governo colonial . 

Dia de Zumbi e da Consciência Negra

A data remete, segundo a história oficial, a morte de Zumbi dos Palmares. Em 2003 uma lei federal criou o dia da Consciência Negra. A Lei 12.519, de 2011, que instituiu o 20 de Novembro como  Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, no calendário oficial, é fruto de uma longa luta do Movimento Negro brasileiro.

Quilombo

Quilombo, palavra de origem bantu, significa povoação, no Brasil adquire o significado de comunidades surgidas a partir da reunião de negros fugidos para resistirem ao escravismo colonial, modo de produção que imperou no processo de colonização no Novo Mundo. Neste sentido, os quilombos representavam a superação da coisificação que o escravismo impôs e a reconquista da própria humanidade sequestrada pelos europeus.

*Jornalista formado na Universidade Federal de Ouro Preto – MG

COMENTÁRIOS
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  1. PROGRESSISTA PORRETA

    ESSE JAIR SE ACOSTUMANDO SÓ PODE SER UM DESSES POBRES DE DIREITA MEDÍOCRE QUE SÓ SABE DESTRATAR O BLOGUEIRO. NÃO PASSA DE UM BABACA MESMO ENGANADO A TODO ESTANTE POR FAKE NEWS REACIONÁRIOS.

  2. Jair se acostumando

    Jornalista comunista, você sabe dizer quantas arrobas um escravo precisava pesar para poder se tornar líder num desses quilombos?

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