E agora, José?
   30 de abril de 2014   │     15:13  │  3

Brasília – Uma das maiores aberrações já vista após o fim da República Velha, em 1930, foi ouvir e ver o jurista Afonso Arinos dizer que o Sarney era legalmente o presidente da República, após a morte do Tancredo Neves.

Pela televisão e com a Constituição Federal para enfeitar e amenizar o absurdo, o jurista Afonso Arinos afirmou categoricamente que o Sarney era o presidente da República.

Não era.

O renomado jurista brasileiro parecia constrangido e acho até que sua morte foi apressada devido ao vexame a que foi submetido, e pelo qual atirou na lama toda uma história de respeito à lei.

De todos os envolvidos, só o general Figueiredo agiu corretamente. O general se recusou a passar a faixa presidencial para o Sarney e a imprensa venal deturpou o gesto nobre alardeando que se tratava de uma grosseria.

Mentira; a atitude do general Figueiredo representava a fidelidade e a coerência; a fidelidade à Constituição Federal e a coerência de quem aprendeu a respeitar a lei.

O Tancredo Neves faleceu antes de tomar posse e prestar o juramento; logo, o Tancredo era o presidente do fato que ainda não havia gerado o Direito – e, sendo assim, o seu vice era o vice do nada.

O correto seria convocar nova eleição, mas a tradição política nacional baseada nos golpes contaminou os civis – que não titubearam em lançar mãos do golpe e rasgaram a Constituição.

Moral da história: se em 1964 se inaugurou com um golpe militar-civil o período dos governos militares, em 1984 inaugurou-se com um golpe civil-militar o período dos governos… dos governos…período de que governos mesmo?

Podemos dizer: período dos governos da Constituição Federal estuprada? Acho que sim.

Veio então a tão ansiada eleição direta para presidente da República, que antes mesmo de se contar os votos já se vislumbrava a consequência das desordens políticas – algo assim como o desfecho de tudo aquilo que advém do golpe.

A eleição direta para presidente da República, em 1989, trouxe a conta do blefe. O principal líder da oposição, o homem mais forte da “Nova República”, o Ulisses Guimarães, amargou o distante sétimo lugar.

Quem se elegeu presidente foi o governador de um Estado pequeno e pobre, e ainda, equidistante dos caciques da “Nova República”, isso para não dizer antagônico.

A eleição de Fernando Collor para a presidência da República causou alvoroço e quando o Collor se aproximou do Leonel Brizolla, aí causou desespero. Eleito presidente da República com 41 anos de idade, o Collor instituiu uma marca histórica.

E ao se apresentar embarcado num supersônico para vencer a barreira do som ou exercitando-se em corridas matinais exibindo vitalidade, o Collor deu com pau no vespeiro.

Ainda que possa ter contribuído para afugentar as vespas, o certo é que a permanência do Collor na presidência da República incomodava de uma forma e de outra, ou seja: incomodava independentemente e o único recurso era apeá-lo do poder.

Mas tudo teria de ser feito de modo a fingir, e fingir bem, que se agia em nome da legalidade; que era a lei e não eles que estava tirando o Collor do poder.

E não foi difícil, até porque pior foi em 1984 quando tiveram de convencer a nação da legitimidade da posse do Sarney, apesar do flagrante estupro constitucional.

E como tudo que começa errado descamba a errar, o impeachment imoral contra o Collor descambou para a imoralidade da posse do Itamar Franco. Ora pois, ninguém vota para vice-presidente, nem para vice-governador ou vice-prefeito, logo, o cargo de vice é unicamente um apêndice e não gera direitos.

Mas, passados mais de 20 anos do outro golpe civil-militar de 1992, a Justiça fez a “mea-culpa” e inocentou o Collor – que foi julgado por que mesmo?

 

COMENTÁRIOS
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  1. fred

    Aqui em nosso pais se atropela a lei, e ninguem ou melhor alguns tentam dizer a verdade e a nossa sociedade analfabeta cala-se, pois ele não tem poder, pois na sua maioria vende seu voto e sofre, pois o poder maior(conhecimento) eles ou elas não tem.Essa gente quando no poder esquece as promessas, veja o caso do nosso LULA, veja as propostas em 2002 e tirem suas dúvidas.

  2. breno klinger

    Sem dúvida o melhor candidato ao governo de Alagoas, mas não acredito que ele queira governar um estado tão avacalhado como o nosso.

  3. Valerya

    Parabéns pelo texto. lendo suas palavras me veio a mente a tão falada frase “todos somos inocentes ate que se prove o contrario” essa conhecida frase foi inversamente usada no caso Collor, que teve que lutar por anos para provar sua inocência ja provada antes pelo tribunal. Sim, isto me soa como perseguição política ou perseguição por ego ferido de algum opositor. Me questiono se alguém ainda tem duvidas sobre a inocência do nosso ex presidente e atual senador por Alagoas. Este homem que tanto fez pelo desenvolvimento do pais e que se tivesse concluído sua gestão como presidente muito mais poderia ter feito. Collor Alagoas esta com voce.

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