Quem nasceu primeiro em Alagoas: o coco ou a cana?
   4 de janeiro de 2014   │     14:40  │  9

Das 27 usinas de açúcar que existiam até meados da década de 1980 em Alagoas, mais da metade apagou o fogo. Faliu.

E as que restaram foi porque os seus proprietários diversificaram a atividade ou se expandiram para outros Estados em busca de terra plana e produtividade.

O ciclo da cana-de-açúcar chegou ao fim em Alagoas somente agora porque até então não havia a atuação do Ministério Público do Trabalho – o que permitia a contratação dos “corumbas”.

Os “corumbas” são os trabalhadores avulsos, e a esmagadora maioria de sertanejos, que vinham trabalhar no corte da cana num regime de semi-escravidão imposto pelos empreiteiros – que arrendavam as terras das usinas.

Eis aí um dos motivos de se ter mantida a seca fora do controle, embora o município sertanejo alagoano mais distante da beira do Rio São Francisco diste só 80 quilômetros em linha reta.

É que, se resolvessem o problema da seca no Sertão não teria mão-de-obra para cortar a cana, pois a estiagem no Sertão coincide com o inicio da moagem da cana.

A fiscalização do Ministério Público do Trabalho pesou mais no custo de produção porque o problema da baixa produtividade sempre foi compensado com a “warrantagem” – que é uma espécie de subsídio que o governo federal paga aos produtores nordestinos cuja produtividade é inferior ao Sudeste e ao Sul.

Os empreiteiros ou gatos foram diminuindo porque a ação do Ministério Público do Trabalho minimizou os seus lucros; todo empreiteiro possuía um barracão que mantinha o peão sempre devendo e esse sistema foi combatido – além de se exigir a Carteira assinada.

Os usineiros alagoanos alegam que gastam 1 mil real para produzirem uma tonelada de cana e recebem apenas 850 reais – ou seja, eles afirmam que acumulam o prejuízo de 150 reais por tonelada de açúcar.

Parece que Alagoas somente agora está entrando numa nova Era, e que vai haver uma nova depuração e daquelas 27 usinas que existiam até meados da década de 1980 só deverá sobreviver meia-dúzia.

Enquanto isso, Estados sem tradição canavieira, como o Piauí e Goiás, estão expandindo a produção e tudo dentro dessa modalidade de capitalismo onde o que impera é a tecnologia e a terra plana.

O interessante é que ocorre agora com a cana ou que ocorreu com o coco. E não por coincidência, depois do pau-brasil, foram os dois primeiros produtos agrícolas da história de Alagoas.

Nem o coco nem a cana são produtos originários de Alagoas; sequer são produtos brasileiros, mas é difícil de saber quem chegou primeiro no Estado – se o coco ou a cana.

E assim como o ciclo do coco selecionou naturalmente os que deveriam sobreviver, também a cana-de-açúcar fará o mesmo.

E, infelizmente, deixando um rastro de desemprego e ruínas.

COMENTÁRIOS
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  1. Alagoas, eterna capitania hereditária

    Não qual dessa dua pragas, mas sei que de Pernambuco até Rio Grande do Norte, essas nojeiras já estão dando lugar a indústrias e desenvolvimento.

  2. jonas freitas

    Tem que se pensar em uma diversificação em nossa agricultura.Acabou a monocultura da cana de açúcar em Alagoas.Não vamos com essa de monocultura do capim…Chega de monocultura…Vamos diversificar…Terras nos temos, inteligência nos temos…Educação para se desenvolver…Vamos deixar de ser bundão.

  3. senae

    Os barões do açúcar choram de barriga cheia. Nunca deixaram de viajar pra o exterior mesmo devendo os tubos ao fisco.E quem foi cobrar teve um triste fim. Dizem os historiadores que a miséria nasceu com a exploração desses ciclos. As ligas camponesas, os sindicatos e as cooperativas conhecem de có e salteado essa conversa de cambiteiro.

  4. JAQUES JACINTO BRANCO

    A cana-de-açúcar foi trazida para Brasil no século XVI por Martim Afonso de Souza e o côco foi trazido pelos portugueses da Costa do Mafim – Afica.

  5. LUCIANO

    CARO COLUNISTA;INFELISMENTE OS GESTORES DO NOSSO ESTADO SÃO MUITO BONS PARA DESVIAR DINHEIRO E OU APIMENTAR PRECONCEITOS SOBRE A CLASSE PRODUTIVA DE ALAGOAS. SOU DO RAMO. ACHO QUE AS USINAS ESTÃO COM OS DIAS (OU SAFRAS !!!)CONTADOS. MAS ALAGOAS TEM COMO MUDAR NOSSO QUADRO AGRÍCOLA, BASTAVA TER POLÍTICOS QUE ESQUECESSE AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES E AS MANEIRAS DE COMPRAR VOTOS E PENSASSEM EM NOSSO ESTADO. UM ABRAÇO.

  6. breno

    Enquanto os usineiros alagoanos esbanjavam e esnobavam os do sul investiam em tecnologia e hoje enquanto as usinas de alagoas entram pelo ralo as do sul prosperam.

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