A cidadania dos covardes
   2 de setembro de 2013   │     12:51  │  2

O Silvério dos Reis estava endividado com o fisco português e pra se safar denunciou os inconfidentes mineiros, que armaram o protesto contra a corte.

Silvério ficou na história como traidor, mas hoje seria absolvido com base na chamada “delação premiada”.

Somos assim; fazer o quê?

Instituímos a denúncia anônima e se criticamos os políticos por terem direito à “imunidade parlamentar”, que, de ordinário, se confunde com impunidade, também tapamos a cara quando saímos às ruas para protestar.

Êi, que cidadania é esta? Não sei; só sei que é assim.

Vivemos nos escondendo atrás de máscaras ou atrás das imunidades. Criticamos a imunidade parlamentar, mas lutamos com unhas e dentes pela imunidade sindical, pela qual garantimos o emprego sem os riscos do mercado – que admite e demite, num processo lógico do capitalismo.

Mas porque correr tal risco, se nós podemos lançar mão da imunidade sindical?

E tudo isto com a maior naturalidade, pois os outros que não têm a oportunidade de se esconder e se proteger que se lixem! E ainda mantemos o discurso da moralidade, da ética, da lisura, da honestidade porque a hipocrisia ficou para ser exercida e não discutida.

Muito menos extinguida.

Vamos sair às ruas para exercer os nossos direitos de cidadãos, mas tapamos a cara. Vamos criticar os políticos, mas somos piores que eles – os políticos só se escondem atrás da imunidade; eles não escondem o rosto.

Ou melhor: os políticos dão a cara a tapa e nós, cidadãos covardes, escondemos as nossas caras até mesmo para exigir o que achamos ser os nossos direitos.

Direitos? Mas que tipo de direito é este?

É um direito fascista, por certo; é a cidadania dos covardes. Vamos jogar pedra na geni, mas deixem que a Geni saiba que fomos nós que atiramos as pedras.

Vamos gritar aos quatro cantos, mas não deixem que nenhum dos quatro cantos saiba que fomos nós que gritamos.

Vamos denunciar, mas tudo anonimamente porque assim poderemos manter disfarçada a verdadeira motivação da denúncia – que pode ser a inveja, a pirraça, a vingança dissimulada.

Vamos às ruas protestar no dia 7 de setembro, mas com a cara tapada pois assim estaremos exercendo o pleno direito à cidadania dos covardes.

Porque o importante é o anonimato, ainda que o protesto tenha sido convocado para se exigir transparência.

Transparência nos outros, pois não, porque para nós cidadãos covardes tem de ser tudo na surdina, no anonimato, na cara tapada.

Êita povinho brasileiro! Marcado e feliz! 

COMENTÁRIOS
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  1. PELEGO SINDICAL

    Bob, e imaginar que o Pai Lula achou pouco e liberou R$ 100.000.000,00 por ano, para essa pelegada sindical se esbaldar e, mais grave ainda, sem obrigação de prestar contas a ninguém.
    E lembrar que o rico dinheirinho é dos nossos escorchantes impostos, dói na alma.
    Porisso q a pelegada não deixa o Sindicato, a não ser na bala, como foi não foi acontece.
    Lembra quando aqueles vagabundos do Sindipol, acabaram com o desfile de 7 de setembro de 2011 ?
    E pasme, eram policiais q teem obrigação de garantir a Lei e “respeitar” a pátria.
    É de fazer chorar.

    Pobre Brasil.

  2. senae

    A cidadania dos covardes começou com a desocupação da Corte quando correu das tropas de Napoleão. E somos descendentes dela. Infelizmente. Da civilização europeia somos a escória. Fomos colonizados por quem? Degradados e marginais cuspidos de PORTUGAL. O regime político do Brasil teria que ser exercido por homens de bem. Mas, onde? cadê? Como toda a civilização de corajosos e covardes finda nos mausoléus e museus, a expectativa é que com a renovação da humanidade o futuro seja bem melhor.

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