Crack quem te pariu? Quem foi o craque que te pariu?
   21 de maio de 2013   │     18:37  │  3

A hipocrisia e o fingimento estão para o ser humano assim como os pés estão para andar, o nariz para respirar e o ouvido para ouvir.

Todos nós temos um pouco, e uns têm muito, de hipocrisia e fingimento. Fingimos com convicção, na base do “é melhor fingir que não estamos vendo”.

Muitas vezes vemos o erro à frente, mas fingimos não vê-lo porque apontá-lo significa arrumar trabalho ou encrenca.

Entra nisso a covardia e o comodismo.

Costumamos usar o “não tenho nada com isso” como desculpa para nossas omissões, para depois aparecermos com a cara (falsa) de indignação.

Todos nós também temos um pouco do político oportunista e carreirista que costumamos criticar – aliás, nós costumamos criticar no outro o nosso lado (ainda) oculto.

É por isso que, uma vez no lugar do outro que era criticado, o ser humano que o criticava costuma repeti-lo.

Exemplos disso não faltam.

Ninguém viu o que estava acontecendo no Brasil em relação ao consumo de drogas, especialmente o “crack”. Somente agora é que se descobriu que o trem está feio; que o caos se instalou.

Para mim isso se dá como forma de “mea-culpa” dos que viram antes os erros e fingiram não vê-los por comodismo ou covardia.

Ah! Que triste! O “crack” está aí nos quatro Pontos Cardeais!

O cinismo de alguns irrita, mas não é pelo cinismo em si. É pela hipocrisia e o fingimento.

Esses indignados de agora se lembram muito bem do “fenômeno” que na década de 1980 foi registrado no Rio de Janeiro, com latas de Leite Ninho grandes cheia de maconha dando costa à praia.

Era a novidade. O genial Gilberto Gil compôs a música Novidade, que diz assim:

A novidade veio dar à praia

Na qualidade rara de sereia

Metade o busto de uma deusa Maia

Metade um grande rabo de baleia

A novidade era a guerra

Entre o feliz poeta e o esfomeado.

Por feliz entenda-se os que “tinham a sorte” de encontrar a novidade, ou seja, a lata de Leite Ninho. E o esfomeado era o azarento.

A imprensa, sem investigar direito, adotou a versão da polícia, segundo a qual as latas de Leite Ninho tinham sido atiradas no mar pela tripulação de um navio para escapar da abordagem policial.

Era mentira.

Sem explicação para o “fenômeno” da “novidade” a polícia inventou essa estória e a imprensa engoliu sem cogitar de que não se exporta maconha.

A verdade era que, com o temor do “crack” e na tentativa de evitar que o “crack” chegasse aos morros, os traficantes cariocas decidiram dar um presente aos clientes.

Foi um protesto que não deu certo, porque o “crack” venceu a reação até dos traficantes – que capitularam.

E venceu também o aparato policial que não dá conta de barrá-lo. E, igual ao poema do cubano Silvio Rodrigues, a polícia mata e aparece outro maior.

Até que fique tudo pedra sobre pedra. Literalmente.

Ou então, até que se mude o sistema que ainda vigora, apesar de ter dado errado; apesar de ter contribuído para a degradação que se vê hoje pelos quatro Pontos Cardeais sem distinção de raça e posição social.

Se o problema das drogas fosse caso de polícia, o “crack” não teria sido inventado. Nem a polícia e a sociedade estariam sendo derrotadas diariamente.

É ou não?

COMENTÁRIOS
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  1. S.F.LIMA

    REALMENTE HOJE AS CONDIÇÕES DO BRASIL É DIFERENTE DE CINQUENTA ANOS ATRÁS,AS MULHERES ESTÃO CADA VEZ MAIS PARINDO FILHOS QUE JÁ NASCEM DROGADOS E DOPADOS PELO CRACK.NINGUÉM QUER MAIS EDUCAR SEUS FILHOS,ENTREGAM AS PROFESSORINHAS DA REDE PÚBLICA DE ENSINO,DIZENDO TOME CONTA ,DÊ EDUCAÇÃO PARA ELE COMO SE FOSSE SEU PRÓPRIO FILHO.E O MAIS INTERESSANTE AS EDUCADORAS TORNAM-SE TAMBÉM VERDADEIRAS MÃE ADOTIVAS PARTICIPATIVAS SEM NO ENTANTO SEREM REMUNERAS DE MANEIRA PELO MENOS REGULAR. AVANÇA BRASIL.

  2. fred

    A NOVIDADE É H´FRAQUEZA DA CLASSE POLITICA, QUE NÃO TEM POLITICA DE COMBATE AS DROGAS, E ENTÃO SOBRA SEMPRE PARA A CLASSE POBRE.

  3. Noélia Costa!Membro do Conselho Estadual de Políticas Sobre Drogas

    Um Estudo realizado acompanhou 131 dependentes de crack em clínicas de reabilitação e concluiu que usúarios de crack correm risco de morte oito vezes maior que a população em geral.Cerca de 18,5% dos pacientes morreram após cinco anos.destes,cerca de 60% morreram assassinados,10% morreram de overdose e 30% em decorr~encia de aids.Estatísticas demonstram um aumento
    percentual do consumo de crack em relação às outras drogas,vindo seus usúarios tanto de camadas sociais mais variadas.Comprovadamente estamos numa epidemia,então todos precisam se envolver com o tema,muito triste essa situação.Parabéns pelo artigo!

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