Depois de ter sido chamado a Brasília às pressas, por Bolsonaro, e redigido a nota de retratação do presidente, Michel Temer interrompeu o ostracismo e se aventurou ir jantar num restaurante em São Paulo, sendo aplaudido pelos presentes.

A nota de retratação de Bolsonaro, com o pedido de desculpas ao ministro Alexandre de Moraes, o “terror” do governo no Supremo Tribunal Federal, foi redigida por Temer, e só beneficiou ao redator.

Falando, Bolsonaro é incapaz de formar uma frase e, escrevendo, dizem que é um desastre, e deve ser mesmo. Interessante é que a carta que o Temer escreveu para a Dilma, quando comandou o golpe que derrubou a presidente, não foi ele quem redigiu, mas o Moreira Franco. Mas, Bolsonaro optou por acreditar no Temer.

Isso porque o Temer, na avaliação do Bolsonaro, é o único que pode “segurar” o ministro Alexandre de Moraes, que foi ministro da Justiça e indicado para o Supremo por Temer. Trata-se, sem duvida, de avaliação equivocada, embora esteja em curso o novo acordo, com Supremo e tudo, em busca da “terceira via” na disputa presidencial.

Essa busca pela terceira via saiu dos bastidores e ganhou pela primeira vez as ruas, com as manifestações promovidas por ex-bolsonaristas, à frente o MBL (Movimento Brasil Livre) e VPR (Vai Pra Rua), neste domingo. Esse movimento é anti-Bolsonaro e anti-Lula, chegando ao cumulo de os oradores destacarem nos seus discursos que “o PT se recusou a participar porque o Lula prefere enfrentar o Bolsonaro.”, o que naturalmente é uma falácia.

O PT não participou, nem participará, porque quer o protagonismo e, também, porque sabe que essa manifestação é de uma dissidência do bolsonarismo, que já tem candidato a presidente em 2022 – que pode até ser o Temer, mas na lista consta como prioridade o governador de São Paulo, João Dória.

Além de governar o estado mais importante da federação, Dória, um bolsonarista arrependido, é a principal opção da direita e da centro-direita que odeia o Lula e não quer vê-lo de volta à presidência, e se decepcionou com Bolsonaro e não quer reelegê-lo, por temer o agravamento da crise econômica e política.

O protesto dos arrependidos, neste domingo, 12, não deve ser analisado pelo número de adesões, ou baixo número de participantes, mas pelo significado da mensagem nas entrelinhas. De um lado, Temer, especialista em tramar nos bastidores e um dos comandantes do chamado “centrão”, que é a escora que mantém Bolsonaro no poder. Do outro lado, o Dória, que pilota a locomotiva do Brasil e sonha ser presidente da República.

A terceira via surgiu com o protesto dos bolsonaristas arrependidos e só tende a crescer, porque Bolsonaro se tornou vítima do próprio ódio que fomentou. E não por coincidência, os que ainda lhe seguem padecem do mesmo mal – que é causado pela frustração, pela ignorância, pelo analfabetismo e pelo recalque.

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