Brasília – Começa nesta quinta-feira 25 a contagem regressiva para encerrar o ciclo do Partido dos Trabalhadores no poder. O final dar-se-á de forma melancólica, mas isso não apaga o feito inédito desde 1889 quando se proclamou a República – é que nunca, na história deste País, um partido político conseguiu permanecer por tanto tempo no poder.
Da eleição do Lula em 2002, a reeleição em 2006, a eleição da presidente Dilma em 2010 e a reeleição em 2014 formam o ciclo de 14 anos, que nenhum outro grupo político conseguiu.
Proclamada com um golpe em 1889, a República brasileira coleciona pelo menos mais 20 golpes entre golpes militares e civis, ou em conjunto. Quem perde a disputa nas urnas costuma tomar o poder à força ou mediante tramas, nas quais se criam os meios de se burlar a lei e a própria Constituição – que, na prática, consagra o blefe quando proclama que todo poder emana do povo e no nome do povo será exercido.
Conversa.
O poder emana mesmo de quem se junta para exercê-lo de qualquer forma, inclusive à força. Vejam o exemplo do Senado, onde alguns senadores que não obtiveram voto algum porque são suplentes que estão no exercício do mandato alheio vão cassar os votos de 54 milhões de eleitores.
E tudo assim, muito simples e rápido, com apenas um sim quando for chamado a votar e anular os 54 milhões de votos legítimos e que dizem ser soberanos e não é. Como explicar que alguém que não obteve voto algum possa anular o voto do cidadão que cumpriu com o dever cívico de ir às urnas e agora descobre que o voto dele nada vale?
É complicado para entender.
Nada mais há para fazer por parte da presidente Dilma, a não ser arrumar a bagagem, porque o fato já está consumado desde o dia seguinte à divulgação do resultado da eleição no segundo turno em 2014. A demora se deve à criação do meio pelo qual se pode dar aparência de legitimidade ao ilegítimo.
O que vai acontecer no dia seguinte é difícil de prever porque se o novo governo colocar em prática as medidas duras que estão aguardando apenas o desfecho da votação do afastamento da Dilma, a reação não virá apenas do PT e simpatizantes, mas especialmente da classe média que vaiou o Michel Temer no Maracanã e defende uma solução diferente para o impasse político.
Não é fácil. Temer terá a tarefa hercúlea para se desincumbir, que é atrair a atenção da nação e conquistar a classe média que o vaiou no Maracanã. E sobre as vaias, repasso aqui a memorável lição do então presidente Juscelino Kubistchek e que o Temer, quem sabe, pode tomá-la como inspiração.
Durante uma solenidade no Rio de Janeiro, o presidente Juscelino Kubistchek não conseguiu iniciar o seu discurso devido às vaias. Ele não desistiu e permaneceu no palanque; calou-se, ouviu as vaias até quando os que o vaiavam cansaram.
E como quem diz: cansaram? O Juscelino pegou o microfone e falou:
– Feliz a nação que pode vaiar o seu presidente!
Conclusão: foi aplaudido. Sim, tem o detalhe: o Juscelino Kubistchek foi eleito pelo voto popular; ele não foi içado ao poder e isso faz a diferença, mas, quem sabe na República brasileira com mais de 20 golpes, um golpe a mais ou a menos é “bronca safada”.
Deus salva então o Brasil!