Brasília – A bem da verdade, o presidente Michel Temer fez de tudo para salvar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, da punição que deve levá-lo à cassação do mandato por ter mentido no depoimento ao Conselho de Ética.
Mas, a pressão popular, com as manifestações calorosas nas redes sociais deixaram o Temer numa sinuca de bico.
O poder e a influência de Cunha sobre o governo Temer são ( ou eram? ) tão grandes que, na história da República, Temer é o primeiro presidente que não teve direito nem condições de escolher o próprio líder do governo na Câmara.
Quem escolheu e impôs foi o Cunha.
Temer permanece em silêncio e vai continuar mudo acerca do futuro tenebroso de Cunha, porque existe o temor de que Cunha abra a boca e conte tudo o que sabe. As investigações contra ele retroagiram a 2007.
No primeiro aperitivo das delações que envolvem Cunha saiu a doação de R$ 5 milhões para Temer, de acordo com a confissão do delator Leo Pinheiro.
Temer nega, mas a sujeição a Cunha e aos caprichos dele reforçaram as dúvidas.
Dizem que o estopim da bomba que Cunha carrega está em Curitiba, mais precisamente com o juiz Sérgio Moro, que poderá provocar a explosão caso decida pela prisão da esposa de Cunha. O temor de que Cunha abra a boca é perceptível para os que tem visitado o Palácio do Jaburu.
Daí a pergunta recorrente é: o silêncio tumular de Temer é mesmo o medo de que o Cunha acunhe na delação na Lava Jato?
Brasília – O general do golpe apelidado de impeachment estava convicto de que teria o apoio do presidente Michel Temer para escapar da cassação por quebra do decoro parlamentar.
O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, mandou vários recados para Temer e o Temer estava empenhado em salvá-lo da cassação, por isso o seu processo é o mais longo da história do Legislativo brasileiro.
Mas, dois fatos seguidos esta semana sacramentaram o futuro incerto de Cunha. O primeiro fato foi a decisão de entregar ao juiz Sergio Moro a investigação contra a esposa de Cunha, fiel beneficiária do dinheiro de propina que ele mantém depositado ilegalmente na Suíça.
O segundo fato foi a própria denuncia – mais uma -, contra o Cunha na Operação Lava Jato, pelo recebimento de propina da empreiteira OAS.
Temer foi aconselhado a imitar Pilatos e fê-lo com muita propriedade.
Até poucas horas antes de começar a reunião no Conselho de Ética tinha-se como certo que o resultado seria favorável a Cunha, que escaparia do pedido de cassação do mandato com os votos dos deputados e “irmãos de fé” Tia Eron (PRB-BA) e Wladimir Costa ( SD-PA), que mudaram os votos e traíram o Cunha.
Alertado de que deveria abandonar Cunha para se livrar definitivamente do fardo pesado, Temer entregou o anel para salvar o dedo. Mas, não pense que o Temer está tranquilo! Há o temor de que Cunha decida abrir a boca e vomitar o que sabe de maus feitos.
E nos maus feitos de Cunha, o próprio Cunha garante, o Temer não é coadjuvante; pelo contrário, é peça importante juntamente com pelo menos entre 160 a 200 deputados que o Cunha controla como se tivesse colocado neles um chip.
Brasília – Os portadores foram Guilherme Leal e Alfredo Sirkis, que pediram dinheiro via caixa 2 para a campanha da candidata a presidente da República, Marina Silva, na eleição em 2010.
Sorrateira, disse o delator Léo Pinheiro, sócio da OAS, que a Marina exigiu que seu nome não constasse como beneficiária da doação. Quem sabe, sabe.
E assim foi feito.
Detalhe: Guilherme Leal é sócio da Natura e foi o candidato a vice-presidente da República na chapa de Marina, e Sirkis é o fiel escudeiro de Marina no Rio de Janeiro.
Nada de novo no front de uma campanha eleitoral, se a Marina não continuasse a insistir em passar a imagem de imaculada.
Apagada a imagem, dir-se-á: até tu, Marina?
Sim, até a Marina porque ninguém é de ferro. Logo: José Serra também está na delação do Léo Pinheiro e se não figura nos escândalos que a mídia golpista alardeia é porque os alardes não são para macular os da mesma laia e sim os da laia diferentes.
E o Michel Temer também está na denúncia do Léo Pinheiro? Também. Mas, também o Michel Temer não é para ser alardeado, pelo contrário, é para ser preservado assim como a crise que antes era da culpa exclusiva da Dilma, agora é da culpa exclusiva da retração do mercado externo.
Mas, nem tudo são flores para o Michel Temer. Além de estar enclausurado há 30 dias e sem poder sair às ruas, um monstro tem assombrado ao Temer. E o pior é que o monstro existe e se chama Eduardo Cunha.
Cunha não pediu não; o Cunha determinou: o Temer salva-o da cassação por ter mentido no depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, ou ele detona o Temer.
Como é que é? Detona o Temer e todo mundo? Que mundo é esse?
Ah, é o mundo do golpe.
Enquanto isso, as pesquisas de intenção de votos para presidente da República em 2018 e que antes eram divulgadas quase que toda a semana sumiram das manchetes. Sumiram, foi?
Sumiram. Imaginem se eles iriam alardear a última pesquisa, realizada na semana passada, com o Lula liderando a disputa presidencial!
Mas, voltando às ameaças de Cunha para perguntar: o que é que o Cunha sabe de tão grave que o Temer teme tanto assim o Cunha?
Brasília – Sem justificativa plausível, fica então a pergunta ainda sem resposta:
Por que o Michel Temer cancelou a viagem que faria ao Nordeste?
Falta de tempo não é; falta do que fazer também não é – pelo contrário, Temer tem mais é que aparecer em público.
Há 30 dias enclausurado no Palácio do Planalto, Temer não está podendo sequer ir para a sua casa em São Paulo. A rua onde ele mora virou uma espécie de trincheira com várias viaturas e policiais bivacados protegendo-o da plebe vítima do golpe apelidado de impeachment.
Para completar tem a abertura das Olimpíadas e Temer já foi avisado de que será hostilizado. Na história das Olimpíadas, será o primeiro mandatário a ser execrado pela população que não concorda com o golpe apelidado de impeachment.
E o pior é que ele não pode fazer nada. Resta-lhe ir à execração e engolir calado a humilhação internacional ou designar um representante, o que não pegará bem diante de tantas visitas de mandatários internacional ilustres.
É o preço do golpe.
Mas, as dificuldades de Temer não se resumem a incapacidade de ele se dirigir ao público e participar de manifestações públicas. Para agravar a situação tem as ameaças do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que exigiu proteção contra a ameaça de cassação do mandato.
Cunha, que já nomeou ministro de Temer e até escolheu o líder do governo na Câmara, exige que Temer o defenda e o impeça de ser cassado. Senão…
Senão, o quê?
Senão o Cunha abre a boca e conta tudo o que sabe.
Diga aí! É ou não é a República das safadezas futebol clube?
Brasília – Parecer jurídico não é sentença de ciências exatas, logo, parecer jurídico se compra e cada um tem um jurista para chamar de seu. É só pagar o parecer.
O exemplo mais recente é o parecer da jurista Janaína Paschoal, que ela mesma disse ter vendido por R$ 40 mil, favorável ao golpe apelidado de impeachment.
Na mesma sessão que votou favorável ao golpe apelidado de impeachment, lá pela madrugada, o senador Randolphe Rodrigues desmascarou a farsa. Depois de citar um exemplo de pedalada fiscal, o senador perguntou a Janaína se também era crime e ela respondeu que sim.
Randolphe agradeceu e lembrou que o exemplo dado se referia às pedaladas praticadas pelo vice-presidente Michel Temer, no exercício da presidência, e desmontou Janaína na sua argumentação.
Agora, surgem mais duas opiniões contundentes; uma esposada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso e outra pelo ministro aposentado do STF, Joaquim Barbosa – e ambos concordando que não existe argumentação jurídica factível para o impeachment da presidente Dilma.
– O impeachment ( da Dilma ) não tem legitimidade – sentenciou Barbosa.
Como é que é? Se o impeachment não tem legitimidade, então é golpe. Se é golpe, então o governo Temer é ilegítimo; se o governo Temer é ilegítimo, então só existe uma saída moral – que é se convocar nova eleição presidencial.
A argumentação de que a convocação de eleição presidencial é inviável não se sustenta, porque este ano tem eleição municipal e bastaria acrescentar no painel de votação o nome dos candidatos a presidente.
Mente quem diz que isso demandaria tempo e dinheiro. Tal argumento é desculpa de quem tem medo da manifestação pública nas urnas, ou seja, é argumento de golpista.
Na entrevista que concedeu à TV Brasil e que foi exibida na marra, porquanto à revelia do governo que fez de tudo para impedir a sua transmissão, a presidente Dilma prometeu, se voltar ao governo, convocar o plebiscito.
Foi um chute nos golpistas.
E para reforçar a convicção de que se deu realmente um golpe, tem-se agora a demonstração explícita da trama golpista com o recada que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, mandou para o Temer determinando – atentem bem: determinando -, que ele ( Temer ) interceda em seu favor para barrar a sua cassação.
E o Temer já caiu em campo pedindo que salvem o Cunha. O problema que deixou Temer preocupado é que o ministro do STF, Teori Zavascki, deu prazo de cinco dias para Cunha se defender quanto ao pedido de prisão dele.
E o prazo de cinco dias termina exatamente na terça-feira que vem, no mesmo dia que o Conselho de Ética vai votar sobre a sua cassação por quebra do decoro parlamentar. Isto, sem falar na decisão do juiz Sérgio Moro, que aceitou investigar a mulher de Cunha por uso de dinheiro da corrupção depositado em contas bancárias ilegais na Suíça.
Que País é esse? É o Brasil com “s”, dos golpes, das trapaças e dos pareceres jurídicos sob medida.