O café que o presidente da Câmara, Eduard Cunha, promoveu para a imprensa, em Brasília, foi antes da degustação a demonstração de que ele está preocupado em se manter no noticiário político para o contraponto com o noticiário policial no qual está envolvido juntamente com a esposa e a filha.
Cunha não é de servir café nem se confraternizar com quem não pertence ao seu grupo, mas foi aconselhado a fazê-lo ainda que se aproveitasse para se queixar do tratamento da imprensa. A queixa, obviamente, está relacionada às denuncias que vieram da Suíça sobre depósitos bancários suspeitos e que o impede de viajar ao exterior.
Não se trata de impedimento oficial, mas cauteloso, como ocorreu com o presidente afastado da CBF, Del Nero, que teme ser preso e faltou a várias reuniões da FIFA.
No desespero, Cunha está provocando o próprio Supremo Tribunal Federal. Para ele, o pedido de impeachment da presidente Dilma que aprovou é a última cartada de que dispõe para desviar o foco dos processos a que responde. Cunha só aprovou o pedido de impeachment quando teve a comprovação de que o governo nada faria para salvá-lo.
Daí se dizer que o impeachment é golpe, e é mesmo golpe; no caso de Cunha, também é vingança por ter sido abandonado pelo governo.
No ano que não vai terminar no dia 31, no que se refere à política, o presidente da Câmara sabe que é o primeiro na linha de frente para ser punido por quebra do decoro parlamentar. E o desespero é tamanho que os seus asseclas já admitem que ele mentiu no depoimento no Conselho de Ética, mas foi uma mentira “não oficial” porque se ofereceu para depor – ou seja, não foi convocado a depor.
Trata-se de argumento pífio, mas é o único que lhe resta.
Enquanto isso, o presidente da Câmara vive o pesadelo com a possibilidade de a esposa e a filha serem presas por envolvimento direto nas denúncias do Ministério Público da Suíça. O outro pesadelo se refere a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal considerar o pedido de impeachment da presidente Dilma extemporâneo.
E tudo isso, sem que ele tenha uma voz, uma voz sequer, gabaritada para defendê-lo.