Brasília – Ao ver o jurista Hélio Bicudo sendo ovacionado pelo que de mais retrogrado existe na República brasileira, eu fiquei a indagar: o que leva um homem, ao fim da vida, a desempenhar um papel que macula a sua história de vida?
Senilidade?
Oportunismo?
Vindita?
Ou o quê?
Outrora defensor da legalidade, Bicudo se prestou ao papel de algoz da Constituição e se nivelou à escória golpista brasileira. De arauto da legalidade a herói dos golpistas, a caminhada de Bicudo agora enlameia sues passos.
É verdade que em tempos bicudos não se deve esperar a solidariedade de todos; seria exigir demais da fragilidade do caráter humano que, igual aos ratos no naufrágio, que são os primeiros a pular do navio, também o homem abandona a dignidade.
Para quem já viu e ouviu o jurista Afonso Arinos apunhalar o Direito Constitucional para justificar a injustificável posse do Sarney, quando o Tancredo Neves morreu antes de prestar juramento e tomar posse na presidência da República, nada mais deveria indignar.
Mas, ainda indigna.
Escudados no Hélio Bicudo, os golpistas têm agora o estandarte que precisavam para dar aparência de legalidade a uma imoralidade constitucional.
Os golpistas apelidaram o golpe de impeachment e tramam contra a nação como ratos sequiosos pelo queijo. E se faltava alguém para dar aparência – apenas aparência, nada mais – de legalidade à trama covarde, agora não falta mais.
Ou seja: apareceu o Hélio Bicudo.
Que pena porque o Hélio Bicudo tem todo o direito de se insurgir contra o governo, mas não tem nenhum direito de estimular o golpe. E isto porque, até bem pouco, era um homem que a história brasileira respeitava e admirava como arauto do Direito e da ordem constitucional.