Tenório Cavalcante, Márcio Canuto e enfim o jornalista
   19 de julho de 2014   │     13:48  │  8

Brasília – Em 1974, o poderoso Grupo Gerdau, que havia adquirido a Comesa em Alagoas, enviou convite aos principais jornais dos Estados onde tinha investimento para que indicasse um repórter para cobrir a inauguração do forno 2 da Cosigua, em Santa Cruz, no Rio de Janeiro.

Em Alagoas o convite foi endereçado à GAZETA e, para minha surpresa, o indicado foi eu – logo eu, que era um foca e nunca tinha viajado de avião, e ainda mais para o Rio de Janeiro.

Na ocasião a Organização Arnon de Mello estava no processo de expansão, com a proposta de criação da televisão e rádio FM, e o senador Arnon de Mello trouxe o filho dele, Fernando, para comandar esse processo.

Pouca gente sabe, mas o Fernando Collor era então repórter da sucursal do Jornal do Brasil em Brasília;  por conseguinte, tinha o faro jornalístico e visionário, de modo que descobriu o potencial do Márcio Canuto – que até então era apenas um repórter esportivo do rádio; foi o Márcio quem comandou essa transição da GAZETA para o sistema off set.

Mas o Márcio era mais do que isso e tanto é que se encontra hoje na Globo em São Paulo – aliás, até hoje apenas dois profissionais oriundos do rádio em Alagoas saíram diretos para o sucesso na Globo ( rádio e TV ); o primeiro foi o Edson Mauro e o outro o Márcio. E nunca mais saiu ninguém.

Pois bem, o Márcio me indicou para ir ao Rio de Janeiro cobrir o evento a convite do Grupo Gerdau. Não esqueço jamais esse dia, até porque a primeira namorada e a primeira viagem de avião ninguém esquece.

A GAZETA ( rádio e impresso) funcionava no prédio na Rua do Comércio. Lembro-me do Márcio Canuto, que poderia ele mesmo ir na condição de editor, ao me indicar:

Já andasse de avião? Não tem problema. É como um grande ônibus que voa.

E lá fui eu na minha primeira viagem pelo ar, para o Rio de Janeiro e, se isso não bastasse, para cobrir um evento importantíssimo.

Quando cheguei em Santa Cruz avistei ao lado do então governador do Rio de Janeiro, Negrão de Lima, uma figura que me era conhecida desde a época de menino. Uma figura que virou folclórica e que minha avó paterna, Jovetina Tenório Vilanova, costumava aconselhar quando ele aparecia em Maceió disfarçado.

Natalício, o que é que você está fazendo aqui, Natalício! Vai embora homem. Está pensando que as pessoas não lhe reconhece não, é?!

O Natalício acostumava aparecer em Maceió disfarçado, a barba grande e usando uma jaqueta. Falava um português corretíssimo e gostava de usar  o verbo na segunda pessoa do plural. Lembro-me de uma passagem dele descalçando a bota e a minha avó a observar as meias carentes de lavagem.

– “Não tem fedentina nenhuma, Jovem” – respondia simplificando o nome da minha avó, que se chamava Joventina.

Ao avistar aquela figura que na minha infância ficou guardada para sempre na memória eu tomei coragem e beneficiado pelo crachá de repórter da GAZETA me aproximei e disse-lhe:

O senhor é o Tenório Cavalcante, não é?

Ele leu no crachá a minha identidade com o nome da GAZETA e o meu nome, e chamou o assessor e espécie de lugar-tenente, Abelardo.

Abelardo!  ( E segurando-me pelo braço completou) Não é sicário não, é jornalista. É conterrâneo.

Mais que isso, além de conterrâneo, o Tenório Cavalcante era o Natalício que a minha avó ousava aconselhar quando ele aparecia disfarçado em Maceió, e, para a minha alegria completa, o Abelardo, o seu lugar-tenente, era  irmão do meu avô José Aprígio Tenório e, por conseguinte, meu tio-avô. Chamava-se Abelardo Tenório e residia em Belfor Roxo.

Depois de me fazer algumas perguntas sobre a família eu me antecipei para dar as provas do parentesco e torná-lo mais seguro. Citei alguns nomes que me vieram à mente como resquício de criança que fica no adulto.

Meu avô se chamava José Aprígio Tenório, seu irmão, o senhor tem outro irmão que se chama Manoel Tenório e foi administrador da Fazenda Frios, em União dos Palmares; e tem também o Francisquinho Tenório, de Quebrangul e Caldeirões, que se não me engano era da Aeronáutica, dona Amália, a mãe dele, e o Vaneuso, irmão.

Pronto, o gelo foi quebrado. O Tenório Cavalcante tinha rádio e jornal em Caxias, no Rio de Janeiro, que esse meu tio-avô me franqueou para o dia em que pensasse em sair de Maceió e tentar a sorte profissional no Rio.

Não sei se deveria ter ido; só sei que não fui porque ainda imaginava ser agrônomo. Em 1974 eu ainda tinha esse sonho que, não se realizou, porque não existia curso de Agronomia na época em Alagoas e também porque, mais tarde, o Freitas Neto me indicou para substituí-lo como correspondente do jornal “O Estado de São Paulo” enquanto permanecesse como assessor de imprensa do prefeito de Maceió, Dilton Simões.

Esse texto de recordações vem a propósito. Estamos em 2014, quando completo 40 anos de profissão, e neste mês de julho são também 40 anos desse encontro histórico com o Natalício, que a minha avó repreendia por se expor aos riscos, e o Abelardo Tenório Cavalcante – o cunhado que a minha avó dizia ser igualmente “não ter um pingo de juízo”.

COMENTÁRIOS
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  1. Amigo do Povo

    Voces não viram nada, me lembro do Flavio Cavalcante sendo obrigado a pular na piscina do Tenório lá em caxias !

  2. Edson Bezerra

    ….meu caro Roberto, há tempo que não te lia (falta de tempo, leituras, coisas de professor). Mas, por acaso entrei em teu Blog e encontro esta pérola de texto. Uma cônica gostosa de ler….Devias escrever mais, pois até quando escreves loucuras – as vezes em demasia – são coisas gostosas de ler pelo inusitado. Abraços e tudop de bom…

    1. Roberto Villanova Post author

      Caro professor Edson: obrigado pela leitura e pelo comentário. Sinto-me lisonjeado e eternamente gratificado. Um abraço e sempre às ordens.

  3. Gean Carlos Gomes Tenório Júnior

    Lembro-me que antes de meu avô morrer me mostrou foto do mesmo com o Grande Tenório Cavalcanti. Eram primos legítimos, meu vô Nasceu em SP, mais logo foi morar em Quebrangulo e serviu ao Exército Brasileiro, Gerson Tenório Cavalcanti era o nome dele.
    Abraços!
    Gean Tenório.

  4. Marcio Canuto

    Se de uma coisa posso me orgulhar, nos inesquecíveis tempos da nossa Gazeta de Alagoas, foi reconhecer e estimular o seu ilimitado talento, Roberto Vilanova. Abraçãããão do Márcio Canuto.

    1. Roberto Villanova Post author

      Valeu Márcio: obrigado por tudo e quem ensinou tanto e tão bem só poderia estar onde se encontra hoje. Somos de uma mesma geração e na mesma geração há sempre os que se destacam pelo talento nato e incomensurável.

  5. Observador

    O último nome de Natalício de Albuquerque Tenório Cavalcanti, o “homem da capa preta”, se grafa com “ti” e não “te”… Natural de Palmeira dos Índios, ele costumava afirmar que os Cavalcante com “te” não eram “originais”

    1. roberto vilanova

      É verdade caro Observador. É com “i” mesmo e não com “e” conforme grafei. Grato pela correção.

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