A lição de Renan lembra o episódio com o Noaldo Dantas
   22 de maio de 2014   │     19:18  │  2

Brasília – Ao assumir a presidência do Senado eleito com uma votação que revelou o apoio maciço da Casa, o senador Renan Calheiros colocou em prática as medidas que muitos achavam necessárias e urgentes, e poucos acreditavam que fosse adotá-las.

São medidas necessárias, sem dúvida, mas antipáticas quando o costume é tergiversar ou contemporizar. E Renan mostrou que seria diferente nessa nova passagem pela presidência da Casa.

Primeiro, ou seja, antes mesmo da eleição que o levou novamente à presidência, o senador Renan enfrentou os adversários ocultos na própria base aliada do governo, e aí se inclui o próprio PT, que tentou usar até mesmo a presidente Dilma contra a sua candidatura.

Deu-se até o episódio interessante com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que é senador licenciado. Cumprindo uma tarefa desse setor do PT, Dilma chamou Lobão e sugeriu que ele voltasse ao Senado e se candidatasse à presidência e ouviu de Lobão o que não esperava ouvir.

Lobão disse à Dilma:

Eu volto (para o Senado). Mas para votar no Renan pra presidente.

A presidente então lavou as mãos e a ala do PT ouriçada quedou-se; a volta do senador Renan à presidência da Casa era inevitável para esses que lhe faziam oposição camuflada porque sabiam que muita coisa iria mudar no Senado e de fato mudou.

E o que mais tem doido nessas mudanças tem causa no fim dos desperdícios, das sinecuras e nos super-salários cujo teto é o infinito – ainda que a Constituição Federal estabeleça o limite.

Para colocar em prática as suas propostas, o presidente do Senado cercou-se de assessores da sua confiança e nas questões mais polêmicas, como o corte dos supersalários, ele mesmo tratou de cuidar para respaldar juridicamente as ações que seriam adotadas visando o fim das regalias indevidas.

Antes de dar a ordem para acabar com os abusos dos super-salários, o senador Renan teve o cuidado de conversar com o ministro Marco Aurélio Mello para discutir o procedimento cabível para manter as suas medidas de austeridades e ouviu do ministro do Supremo Tribunal Federal que a liminar favorável aos servidores atingidos pelas medidas apenas cumpria um rito.

Ou seja: o ministro do Supremo queria ouvir as alegações dos envolvidos ou atingidos pelas medidas adotadas por Renan.

Atendidas essas exigências, o ministro Marco Aurélio Mello se deu por satisfeito e disse isso ao senador Renan – que chegou a anunciar no plenário o resultado da conversa para preparar os espíritos sobre os cortes dos super-salários.

O senador Renan esperava que o diretor-geral do Senado, Helder Medeiros, que é seu amigo há mais de dez anos, seguisse à risca a sua determinação de não mais pagar os super-salários e se surpreendeu quando os jornalistas o abordaram para perguntar se tinha mudado de ideia, ou seja, se havia autorizado o pagamento dos super-salários.

Surpreso e intrigado com a desobediência a sua ordem, o senador Renan não teve outra escolha senão demiti-lo.

Isto me lembra a história que o saudoso jornalista Noaldo Dantas contava sobre a demissão dele do cargo de diretor do jornal União, da Paraíba, e que pertence ao Estado.

Foi assim:

Em pleno governo militar e na sucessão do general Medice, o jornal deu a seguinte manchete: “ General Orlando Geisel é escolhido presidente da República”.

Não foi o general Orlando, mas o irmão dele, Ernesto Geisel, o escolhido. E se não bastasse a barrigada, para a Paraíba tinha outra implicação porque o general Ernesto Geisel tinha sido interventor na Paraíba quando ainda era tenente.

O governador Ernane Sátiro era amicíssimo do Noaldo Dantas, mas não pode segurá-lo no cargo de diretor do jornal. O Noaldo contava que o governador o chamou e disse-lhe:

Para uma notícia dessas de repercussão nacional, só outra notícia de repercussão nacional. Infelizmente, Noaldo, você está demitido.

E foi assim que o  Noaldo Dantas se mudou para Alagoas, para sorte de Alagoas, que ganhou uma excelente figura humana e um profissional competente – o fundador de jornais.

COMENTÁRIOS
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  1. Noaldo Dantas Filho

    Roberto. Você tem uma memória privilegiada pois este evento foi há muito tempo. Agradeço o elogio de que foi bom para Alagoas, terra que ele passou a ter no coração. Ele dizia ” vou para a Paraíba de costas para não perder Alagoas de vista”. Abraço Noaldo

  2. Vitor Angelin

    Senador Renan Calheiros fez mais do que certo, missão dada, missão cumprida, todo funcionário ou agente público tem que ser imparcial nas suas atribuições e cumpri com o que lei determina.

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