Último exilado brasileiro em Paris era alagoano
   22 de abril de 2014   │     17:14  │  2

Brasília – Da serie os 50 anos do golpe de 1964 temos hoje que o último exilado político brasileiro em Paris era alagoano, de tradicional família de União dos Palmares – a família Sarmento.

Sua história gerou o Sebá, o personagem que o Jô Soares interpretava no programa humorístico da Rede Globo, na década de 1980, para se referir ao último exilado brasileiro que, apesar da Lei da Anistia, não pode retornar porque tinha outra acusação penal-militar.

Apareceu um se dizendo o Sebá, mas é mentira; nenhum dos exilados políticos brasileiros tinha duas graves acusações – uma de ordem política e outra de ordem militar, e esta não o contemplava na Lei da Anistia.

Pois bem; esse alagoano fez o maior sucesso na bienal do livro em Brasília, que se encerrou na segunda-feira. Sua palestra foi uma das mais concorridas juntamente com o fenomenal Ariano Suasuna.

O nome dele é Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, de família alagoana tradicional e radicado desde pequeno no Rio de Janeiro.

A história do Carlos Eugênio é fantástica e também marcada por sofrimentos; a mãe, dona Maria Sarmento, foi presa e torturada para dar conta do filho que tinha virado guerrilheiro.

Com o codinome Clemente, ele se transformou no lugar-tenente do Carlos Marighela – o líder político de esquerda assassinado pela repressão.

Mas, quando não estava na guerrilha, ele era o soldado Sarmento servindo no quartel do Forte de Copacabana – de onde fugiu levando o  FAL ( Fuzil Automático Leve) para a revolução, e daí não poder voltar logo para o Brasil mesmo beneficiado com a Anistia.

É que a Lei da Anistia contemplava os crimes políticos, mas o Carlos Eugênio estava enquadrado em outro crime – o que o condenou por ter fugido com o FAL.

O Carlos Eugênio não tinha opção; quando os superiores começaram a desconfiar de que também era guerrilheiro nas horas de folga no quartel, só lhe restava fugir;  e levou com ele o FAL para a guerrilha tão carente de armas.

Ele só pode voltar para o país depois que resolveu essa pendência com o Exército, o que não foi fácil.

Em 1981 eu fui para o Rio de Janeiro fazer o estágio anual que o Jornal do Brasil promovia com os correspondentes e fiquei hospedado no apartamento do Carlos Eugênio, na aristocrática Senador Correia.

Um apartamento grande, numa área nobre do Rio, mas que não tinha energia elétrica; eu achei estranho e o Carlos Eugênio deve ter percebido porque tratou logo de explicar: a Ligt continuava proibida de religar a energia.

O apartamento tinha sido considerado um aparelho e, apesar da Anistia, ainda permanecia como aparelho – que era como se chamava o local  de reunião da esquerda na luta contra o governo militar.

PS – O Carlos Eugênio é irmão da Valquiria Sarmento, que foi diretora do IZP no governo Ronaldo Lessa.

COMENTÁRIOS
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  1. Pedro

    Bob, comente sobre o julgamento do Collor, amanhã, dia 24, aí em Brasília.
    Quais as chances de ser condenado ou inocentado, etc. Obrigado

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