No dia em que os comunistas tomaram Maceió. Parte 1
   15 de março de 2014   │     1:00  │  1

Brasília – Faltando um mês para o golpe militar de 1964, uma operação militar realizada em Alagoas chamou a atenção por envolver tropas do exército e da polícia militar e, também, pela definição do treinamento: os comunistas invadiram Maceió – era a tônica do exercício conjunto, que se realizou em Satuba.

E como coincidência não existe, porquanto nada coincide com nada, tome-se o nome da operação militar conjunta como um recado à proposta para o grande comício que os sindicatos convocaram com a presença do então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, e do líder Francisco Julião.

Meu pai era secretário do Sindicato dos Ferroviários e ficou preocupado com a notícia de uma ordem para bombardear a ponte ferroviária na divisa de Alagoas com Pernambuco, caso os ilustres pernambucanos tentassem chegar de trem.

Felizmente, não vieram e a manifestação programada para a Praça Sinimbu foi dissolvida pelos bombeiros. Conta-se que economista Evilásio Soriano, que foi meu professor na Ufal, era um líder estudantil secundarista e bradava na época tentando arrefecer os bombeiros:

Bombeiro também é povo! Bombeiro também é povo!

Em vão; a manifestação foi dissolvida, alguns manifestantes presos e entre eles o “seu Vavá”, um vizinho nosso lá no bairro do Bom Parto e que era funcionário da Petrobrás e dirigente sindical da categoria.

Toda operação militar tem um nome, mas aquela se apresenta hoje como um aviso: o secretário de Segurança Pública de Alagoas era um general, o comandante do 20º Batalhão de Caçadores, hoje 59º Bimtz, era o coronel Carlindo Rodrigues Simão, e o governador do Estado era um general reformado que ficou conhecido na política como major.

O papel de Alagoas foi fundamental para o êxito do golpe, e não por acaso o general Lyra Tavares, comandante do IV Exército, veio inspecionar o treinamento militar e até liberou cantis e armamentos para a PM.

Em 1964 eu tinha 12 anos de idade e a imagem que ficou diverge da ameaça que apregoavam: “seu Vavá”, o André, o Rocha, presos políticos, não eram nada daquilo que diziam, e a correria do meu pai e do meu avô para se livrarem das edições do jornal “A Voz do Ferroviário do Nordeste”, que meu pai editava juntamente com o hoje procurador de Justiça Luciano Chagas – que na época era um estudante secundarista.

E assim se passaram 50 anos.

COMENTÁRIOS
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  1. Roberto Theodosio Brandão

    Boas lembranças de 50 anos atrás. Tudo que você relembrou é a pura verdade. Aguardo o restante da publicação de suas memórias com ansiedade.Na época foi o motorista militar do Coronel Carlindo Rodrigues Simão no 20BC.

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