Seu cara, para o bom repórter a pauta nunca fura!
   14 de março de 2014   │     11:44  │  1

Brasília – Minha vontade era ser agrônomo; não sei se teria sido um bom agrônomo, mas vontade não me faltava.

Mas havia obstáculos: em Alagoas não existia curso de Agronomia e quando finalmente foi criado eu já era jornalista e – pior – existia a absurda e imoral lei apelidada de “Lei do Boi”, que dava aos filhos de fazendeiros a vantagem de 20 pontos sobre os filhos dos sem terra.

Como meu pai só tinha terra nas unhas, eu me aquietei.

Mesmo assim, em 1974 eu estava me preparando para fazer o vestibular em Pernambuco quando o saudoso Freitas Neto me chegou com a proposta para substituí-lo como correspondente do jornal Estado de São Paulo.

O Freitas Neto tinha sido convidado pelo engenheiro Dilton Simões, que havia sido indicado prefeito de Maceió, para ser o assessor de imprensa.

Com o empurrão do meu primo-irmão Ailton Villanova, que me levou para o Departamento de Jornalismo da Rádio Gazeta, e a indicação do saudoso Freitas Neto, eu virei jornalista.

A Agronomia nacional deve ter se livrado de um imbecil e pior para o Jornalismo, que ganhou um idiota. Mas fazer o quê?

Trabalhando no Departamento de Jornalismo da Rádio Gazeta, eu aprendi a técnica de redação de tanto reescrever o noticiário das agências France Press, UPI e AJB. E da rádio para o impresso foi um salto, e logo eu estava na redação da GAZETA convocado pelo Valmir Calheiros – que era o secretário de redação, junto com o igualmente saudoso Alves Feitosa.

Por isso, na minha Carteira Profissional, tem duas assinaturas da mesma fonte empregatícia: uma como redator da Rádio Gazeta e outra como repórter-especial da GAZETA, com muito orgulho.

E com muito orgulho também recordo o apoio e os ensinamentos dessas três pessoas que marcaram a minha vida profissional e que, infelizmente, já não estão entre nós. Duas por absurdos acidentes: o Feitosa vítima de uma tragédia automobilística quando vinha de Salvador para Maceió e o Freitas vítima da tragédia aérea com o avião que caiu na baía de Santiago de Cuba.

Lá se foram dois pedaços da minha história profissional e, se isso não me bastasse, lá se vai outro pedaço com a morte do Valmir.

Resta-me o conforto de que um dia nos reencontraremos. Só espero que sejam novamente mais pacientes com o aprendiz e generosos na pauta.

Siga em paz, amigo Valmir! Foi você que me disse uma vez: para o bom repórter, a pauta não fura nunca e eu só entendi o recado muito tempo depois.

É verdade: para o bom profissional, a pauta não fura nunca!

COMENTÁRIOS
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  1. Diógenes

    Belo relato “seu cara”!
    O pior defeito do ser humano é a ingratidão. E, ao que se nota, você não o possui.
    Em tempo, foi melhor para você não seguir a agronomia! Acredite! O Homem Lá de Cima sabe tudo!!!

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