O alagoano rei do carnaval de São Paulo
   4 de março de 2014   │     8:00  │  0

Por Aprígio Vilanova*

Jorge Costa, Amália Marangoni e Wilson Simonal

Jorge Costa, Amália Marangoni e Wilson Simonal

São Paulo – O alagoano Jorge Costa é lembrado sempre como um sambista paulistano. Seus sambas foram gravados por cantores como Noite Ilustrada, Angela Maria, Demônios da Garoa, Germano Mathias, Bezerra da Silva, Jair Rodrigues, Benito de Paula, Beth Carvalho,entre outros nomes da música popular brasileira.

Em sua estada no Rio de Janeiro, morou no morro da Mangueira e integrou a ala dos compositores da Verde e Rosa. Nesta época foi amigo de Nelson Cavaquinho. Chegou a São Paulo na década de 50 e se consolidou em São Paulo a ponto de ser reconhecido como sambista paulista.

Os sambas de Jorge Costa abordam a temática urbana e social. Músicas como: Ladrão que Entra na Casa de Pobre Só Leva Susto, Baile do Risca Faca, Triste Madrugada, Maria Simplicidade (clique para escutar as músicas) são algumas das canções do compositor alagoano radicado em terras paulistas.

A história da composição de Triste Madrugada, um dos sambas mais conhecidos do alagoano, remete ao caso em que o Chico Buarque perde o violão na Galeria Metrópole, lugar onde Jorge se apresentava e que Chico frequentava no início da carreira.

Em 1968, Jorge Costa dividiu a abertura do carnaval de Catanduva – SP, com Amália Marangoni e Wilson Simonal. Jorge Costa compôs a música Baiano Capoeira em parceria com Geraldo Filme, um dos principais sambistas de São Paulo.

Jair Rodrigues gravou Triste Madrugada em 1967 tendo grande repercussão e sendo um dos maiores sucessos da época. Jorge Costa gravou dois discos que hoje são considerados raridades: Samba Sem Mentira (1968) e Jorge Costa e Seus Sambas (1973).

O cantor e compositor João Borba, um dos principais representantes da Velha Guarda do samba paulista gravou, em 2007, o álbum João Borba canta Jorge Costa. O cantor e compositor alagoano morreu em 1995.

Vinicius de Moraes errou

A afirmação de Vinicius de Moraes de que São Paulo é o túmulo do samba está mais do que equivocada. O samba em São Paulo está vivo e não é preciso muito esforço para enxergar a vivacidade do ritmo na pauliceia desvairada.

O modernista Mario de Andrade, na década de 20 do século passado, encontrou em Pirapora do Bom Jesus, cidade a 54 km da capital, o samba rural. Esta manifestação é considerada a raiz do ritmo no estado.

Mas para além do registro feito por Mario de Andrade o ritmo no estado remete a própria presença dos escravizados negros nas plantações de café. Os negros nas senzalas paulistas já se faziam uma batucada.

Na capital alguns bairros com presença marcadamente negra são redutos do ritmo e testemunham a vivacidade do samba nos dias atuais. O Bixiga e a Barra Funda, só para citar dois bairros, escancaram o absurdo afirmado por Vinicius de Moraes.

No ano passado (2013), o Concresp, órgão municipal de proteção ao patrimônio histórico, cultural e ambiental, declarou o ritmo como patrimônio imaterial de São Paulo.

Na famosa avenida São João, imortalizada na canção Sampa de Caetano Veloso, um prédio passa por restauro para abrigar o museu do samba paulista.

O que diriam Adoniram Barbosa, Geraldo Filme, Paulo Vazolini, Germano Mathias, Jorge Costa,Caco velho, Hélio Sindô, Eduardo Gudin da afirmação equivocada de Vinicius de Moraes? Sem falar em Toquinho parceiro do próprio Vinicius.

samba

*é estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto – MG