Monthly Archives: janeiro 2014

Rolezinho dos periféricos não pode
   20 de janeiro de 2014   │     12:22  │  14

por Aprigio Vilanova*

O tema na mídia essa semana foi o rolezinho, movimento surgido nas periferias de São Paulo, e que está se espalhando por vários estados no país. O rolezinho, para além da mídia, envolveu rede de shopping centers, a justiça de São Paulo, a polícia militar e civil.

A justiça paulista concedeu liminar proibindo a entrada de pessoas nos estabelecimentos, estipulando multa diária para quem fosse enquadrado no famigerado rolezinho. Os shoppings centers passaram a proibir a entrada de pessoas enquadradas na liminar do ‘rolezinho’. E aí entra a questão do preconceito e do racismo que se manifesta escamoteadamente no Brasil

O mito da democracia racial no país é frágil e se desfaz ao menor movimento oriundo da periferia no Brasil. Os negros tiveram seus direitos negados desde a origem do país e ainda sofrem as conseqüências oriundas da mentalidade escravagista que impera no Brasil ainda nos dias atuais, o rolezinho escancara o racismo na sociedade brasileira.

Na cidade mineira de Tiradentes, durante o período em que vigorou a escravidão, os negros eram proibidos de transitar nas ruas que os brancos freqüentavam. O ‘rolezinho’ dos negros estava proibido nas principais ruas da cidade. Tiradentes é cortada por becos, construídos exclusivamente para o transito dos escravizados na cidade. As ruas principais da cidade eram de transito exclusivo dos senhores brancos.

O movimento é espontâneo e surgiu das periferias de São Paulo. Os membros deste movimento querem na verdade é dá um rolê, mas os espaços da cidade estão concebidos para esconder o role da periferia. Por isso são periféricos, nos projetos das cidades brasileiras este é a região destinada aos pobres, pardos e pretos. O Brasil esconde a sua pobreza e proíbe sua movimentação, primeiro foram as senzalas e depois da abolição veio o processo de favelização.

* é estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto – Ufop

Em Penedo e Marechal Deodoro alguém foi treinado?
   15 de janeiro de 2014   │     5:22  │  0

por Aprigio Vilanova *

O Ministério da Cultura (Minc) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) assinaram um termo de cooperação em outubro de 2013 com objetivo de cumprir as ações relacionadas ao Programa de Aceleração do Crescimento (Pac)  Cidades Históricas.

O Minc repassou R$ 200 mil para o Iphan apoiar a capacitação das equipes locais para a execução do programa e acompanhar e monitorar as atividades nas 44 cidades contempladas pelo programa do governo federal.

O termo de cooperação assinado entre o Minc e o Iphan expirou em 31 de dezembro de 2013. O final do ano passado foi o limite estabelecido com o Iphan para a conclusão das ações de capacitação das equipes locais e de acompanhamento da elaboração dos projetos básicos e processos licitatórios.

A presidenta Dilma Roussef afirmou, em agosto de 2013, em Minas Gerais, que já existiam 119 projetos prontos e que seriam licitados a partir de então. Tendo em vista que são no mínimo 425 imóveis beneficiados pelo programa, faltam pelo menos 306 projetos serem apresentados para abrirem as licitações.

Pac – cidades históricas

O Programa de Aceleração do Crescimento (Pac) Cidades Históricas disponibilizará R$1,6 bilhão para projetos de restauro e conservação de construções históricas em 44 cidades até 2015.

A liberação dos recursos no programa está condicionada a execução das obras, a medida que as obras forem progredindo os recursos vão sendo liberados. Os recursos só serão disponibilizados após a aprovação dos projetos apresentados ao Iphan e de acordo com o andamento da execução das obras.

Alagoas

As cidades alagoanas contempladas pelo programa foram Marechal Deodoro e Penedo. Os recursos dos dois municípios somam R$ 29,85 milhões, R$ 6,6 milhões a menos que a cidade mineira de Ouro Preto, segundo dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Em Alagoas existem seis cidades com patrimônios reconhecidos pelo Iphan por sua importância histórica. Palmeira dos Índios, Piranhas, Porto Calvo e União dos Palmares são cidades que também estão na lista com bens culturais inscritos no livro de bens tombados pelo Iphan e, portanto, poderiam receber verbas do programa. Mas ficaram de fora do programa do governo federal.

Penedo

Em Penedo serão 11 intervenções nos monumentos da cidade. Estão entre os projetos a restauração do Teatro 7 de Setembro e do Cine Penedo, a requalificação urbanística do Largo de São Gonçalo, a recuperação do Cais da Marina de Penedo, e a implantação do Museu de Lapinhas e Religiosidade, na Igreja de São Gonçalo.

Além da restauração dos galpões da orla do rio, da Casa de São Francisco e do Chalet dos Loureiros os projetos preveem a implantação da Escola Náutica, do Conservatório de Música e do Centro de Referência do Rio São Francisco, nos prédios respectivamente.

* é estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto – Ufop

Maria solidária
   11 de janeiro de 2014   │     16:48  │  0

por Aprigio Vilanova*

Maria é centenária, natural dos Estados Unidos, está em atividade desde 1912, desfila pelo ramal 1, da Estrada de Ferro Oeste de Minas, inaugurada por D. Pedro II, em 1888, que liga São João Del Rei a Tiradentes por 12 km de trilhos. Maria é a mais antiga em funcionamento no Brasil e a única no mundo a rodar em bitola de 76 cm, apesar de centenária permanece com o mesmo pique de sempre, fazendo seu desfile em 35 minutos aproximadamente, com velocidade média de 30 km/h.

Ela é chama, é brasa, ela é fogo. Com suas 30 toneladas é soberana em seu bailado, todos param para vê-la passar.  A passagem de Maria é um acontecimento, é de parar o trânsito literalmente. Maria já sentiu fortes emoções, presenciou e protagonizou as transformações sociais e urbanas por onde passou. Os descendentes dos Baldwins, fabricante americana de Maria, visitaram a estação de São João Del Rei, na década 1980, e ficaram impressionados com o número de Marias Baldwin’s conservadas em um só lugar.

A ela se deve o passeio de muita gente. Crianças, estudantes, trabalhadores, brasileiros e estrangeiros de todos as partes, turistas dos mais variados países. Com a mesma vitalidade de sempre vai margeando a Serra de São José e o caminho velho da Estrada Real, caminho que remete ao início do povoamento na região e que serviu de escoamento do ouro até o Rio de Janeiro, em direção a Portugal.

Maria é história, foi protagonista na revolução industrial. Transformou a comunicação, encurtou distâncias, promoveu encontros e despedidas, sua aparição foi um acontecimento e deu trilhos de ferro a Revolução Industrial. Ela traz lembranças de chegadas e partidas, carrega sonhos e tragédias, mas impossível não se encantar instantaneamente ao lhe conhecer.

Algumas peculiaridades são marcantes em Maria. A fumaça que levanta sempre que passa em suas viagens, o seu canto imponente carregado de história, além é claro, do seu balanço inconfundível, parece bailar por entre os trilhos que a sustentam. Ela desfila em meio a paisagens encantadoras, serras com caminhos tortuosos, trilhos que cortam paredões, cachoeiras brotando das pedras que a margeiam, o cenário que ela transita é mágico e nos leva a momentos importantes da história nacional.

Seu nome oficial é Baldwin, de origem americana. Mas só no Brasil ela virou Maria, Maria Fumaça.  Impossível ficar imune a Maria.

*estudante do 4º período de Jornalismo na Universidade federal de Ouro Preto – Ufop

Locomotiva Baldwin (1912) a mais antiga em funcionamento no Brasil

Locomotiva Baldwin (1912) a mais antiga em funcionamento no Brasil

Quem nasceu primeiro em Alagoas: o coco ou a cana?
   4 de janeiro de 2014   │     14:40  │  9

Das 27 usinas de açúcar que existiam até meados da década de 1980 em Alagoas, mais da metade apagou o fogo. Faliu.

E as que restaram foi porque os seus proprietários diversificaram a atividade ou se expandiram para outros Estados em busca de terra plana e produtividade.

O ciclo da cana-de-açúcar chegou ao fim em Alagoas somente agora porque até então não havia a atuação do Ministério Público do Trabalho – o que permitia a contratação dos “corumbas”.

Os “corumbas” são os trabalhadores avulsos, e a esmagadora maioria de sertanejos, que vinham trabalhar no corte da cana num regime de semi-escravidão imposto pelos empreiteiros – que arrendavam as terras das usinas.

Eis aí um dos motivos de se ter mantida a seca fora do controle, embora o município sertanejo alagoano mais distante da beira do Rio São Francisco diste só 80 quilômetros em linha reta.

É que, se resolvessem o problema da seca no Sertão não teria mão-de-obra para cortar a cana, pois a estiagem no Sertão coincide com o inicio da moagem da cana.

A fiscalização do Ministério Público do Trabalho pesou mais no custo de produção porque o problema da baixa produtividade sempre foi compensado com a “warrantagem” – que é uma espécie de subsídio que o governo federal paga aos produtores nordestinos cuja produtividade é inferior ao Sudeste e ao Sul.

Os empreiteiros ou gatos foram diminuindo porque a ação do Ministério Público do Trabalho minimizou os seus lucros; todo empreiteiro possuía um barracão que mantinha o peão sempre devendo e esse sistema foi combatido – além de se exigir a Carteira assinada.

Os usineiros alagoanos alegam que gastam 1 mil real para produzirem uma tonelada de cana e recebem apenas 850 reais – ou seja, eles afirmam que acumulam o prejuízo de 150 reais por tonelada de açúcar.

Parece que Alagoas somente agora está entrando numa nova Era, e que vai haver uma nova depuração e daquelas 27 usinas que existiam até meados da década de 1980 só deverá sobreviver meia-dúzia.

Enquanto isso, Estados sem tradição canavieira, como o Piauí e Goiás, estão expandindo a produção e tudo dentro dessa modalidade de capitalismo onde o que impera é a tecnologia e a terra plana.

O interessante é que ocorre agora com a cana ou que ocorreu com o coco. E não por coincidência, depois do pau-brasil, foram os dois primeiros produtos agrícolas da história de Alagoas.

Nem o coco nem a cana são produtos originários de Alagoas; sequer são produtos brasileiros, mas é difícil de saber quem chegou primeiro no Estado – se o coco ou a cana.

E assim como o ciclo do coco selecionou naturalmente os que deveriam sobreviver, também a cana-de-açúcar fará o mesmo.

E, infelizmente, deixando um rastro de desemprego e ruínas.

Dilma cai na real, para salvar o Real
   2 de janeiro de 2014   │     11:47  │  2

Não dá mais pra segurar…explode coração! E explodiu: a política de redução do IPI é uma faca de dois gumes que a presidente Dilma manteve afiada enquanto pôde.

Mas não deu mais e o ano novo começou com o aumento da alíquota do IPI dos carros, senão, o governo não vai fechar as contas no final de 2014.

Num momento, a redução evitou o desemprego, mas a expansão do consumo levou à derrota da previsão do governo para a inflação.

E a inflação é esse monstro que nunca morre; apenas adormece e qualquer sacolejo ou turbulência na economia ele se acorda.

O governo da presidente Dilma é o primeiro, dos últimos três ( Collor/Itamar, FHC e Lula ) que terá de se virar sozinho.

Collor abriu o mercado interno e cortou o cordão umbilical que ligava o empresariado brasileiro às tetas do governo; se hoje a sociedade pode comprar computador e celular no supermercado, e os automóveis nacionais deixaram de ser carroças, isso se deve ao Collor.

Também o Plano Real não seria possível em 1994,  se o Collor não tivesse deixado a reserva cambial de quase 60 bilhões de dólares – o que lastreou a nova moeda e permitiu a paridade com o dólar de 1 para 1.

O governo FHC deixou para o Lula a estabilidade econômica e o Lula, que não é bobo, não mexeu na política econômica.

Sábio Lula.

Mas e o que a Dilma herdou?

Herdou a expansão do consumo, que num certo momento teve de ser estimulado para se manter o nível de emprego; e herdou a expansão da máquina administrativa para se atender às demandas da base aliada.

Os números da economia projetados pelo governo, como não poderia deixar de ser, não se confirmaram. O país cresceu menos do que se previu e a inflação cresceu mais do que se imaginava.

E agora chegou o momento de cair na real, senão o real vai pro brejo.