Dilma devolve o poder a João Goulart, amanhã de manhã
   10 de dezembro de 2013   │     8:28  │  4

Brasília – A presidente Dilma devolverá amanhã “in memória” o mandato do presidente João Goulart, usurpado por um golpe militar-civil em 1964.

Isto porque o Congresso Nacional de hoje considerou o ato que o afastou do governo ilegal.

Para a solenidade foi convidado o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal.

Para quem testemunhou a época, ainda que igual a mim contasse com 13 anos de idade, é uma volta à reflexão da história para a contabilidade dos erros e acertos.

Meu pai, o Tenório, era secretário do Sindicato dos Ferroviários de Alagoas e junto com o hoje procurador de Justiça, Luciano Chagas, e na época um jovem secundarista, editava o jornal “A Voz do Ferroviário do Nordeste”.

O pai do Luciano, “seu Claudino”, era um dos gerentes da Refesa em Alagoas e o Luciano, além de procurador de Justiça, é também jornalista.

Pois bem. Os ferroviários lutavam pelas reformas de base prometidas pelo presidente João Goulart e, especialmente, pelo reajuste de 110% que ele havia prometido à categoria.

Em 1963, acho que uns sete meses antes do golpe, os ferroviários realizaram o III Congresso Nacional da Categoria, em Fortaleza. Meu pai, brizolista e janguista, foi e o jornal que ele e o Luciano Chagas editavam fez o maior sucesso.

Na volta do Congresso, lembro-me bem que numa reunião com os amigos ele contava das propostas apresentadas e que levavam à reação armada para defenderem as reformas de base – e, no caso dos ferroviários, também o reajuste de 110%.

– “O Jaime Miranda foi o único que pedia calma, que apontava para outras saídas e que alertava sobre as provocações” – contava o Tenório.

Um dos amigos de meu pai, que eu conheci e lembro-me apenas como Jota Jota, era mecânico da Rede Ferroviária na oficina de Jaboatão.

O Jota Jota já havia protagonizado um episódio interessante na eleição em 1961. Foi o seguinte: meu pai era ator amador de teatro e trabalhava numa peça promovida pelo saudoso professor Coelho Neto, em benefício da Federação Espírita de Alagoas. Meu pai fazia o papel de um padre.

O Jota Jota saiu de Jaboatão para conseguir às pressas uma batina emprestada, pois o Miguel Arraes iria fazer um comício em São José do Egito e lá o padre era adversário; mais que isto, durante a homilia pregava contra Miguel Arraes.

O Jota Jota era uma figura magérrima, tabagista inveterado, e de estatura menor. A batina da peça não lhe caiu bem, mas ele não voltou sem cumprir a missão. Não foi por falta de um padre que o Miguel Arraes deixou de fazer o comício em São José do Egito.

Meu pai apelou para o sobrinho e meu primo-irmão, Ailton Villanova, que era afilhado do padre Brandão Lima, e conseguiu convencê-lo a emprestar a batina. Não sei qual foi o argumento usado pelo Ailton, mas como padre Brandão Lima gostava muito dele, não foi difícil de convencer.

E, para felicidade geral, a batina do padre Brandão Lima coube na medida no corpo do Jota Jota, que sabia Latim – na época ( 1961) a missa era celebrada em latim – e dizem que fez o maior sucesso no comício.

E quando o pároco de São José do Egito descobriu que aquele padre que elogiou tanto Miguel Arraes num palanque, na verdade, não era padre, o Miguel Arraes já tinha sido empossado governador de Pernambuco.

Com a devolução simbólica do poder ao presidente João Goulart, nesta quarta-feira, 11, o que me vem na memória foi a conclusão do meu pai muito tempo depois:

– “O Jaime Miranda tinha razão: havia outros meios de se lutar sem precisar de armas, igual à batina que o Jota Jota vestiu para ajudar a eleger o Miguel Arraes”. 

COMENTÁRIOS
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  1. Joilson Gouveia Bel&Cel RR

    Jango “assumirá” ao governo – há mesmo um? – como se houvesse!
    Sei que Sir Bob, the bobo or El bobito, crer piamente que a loucura não exista, mas… os fatos mostram ao contrário ao que ele pensa… E, contra fatos não há argumentos!
    Entrementes, quem sabe se o zumbi exumado e nunca mumificado não “governe” mais que a atual “governança” e consiga “desenvolver” ou desengavetar os tais PAC’s ou que ele decida preservar nosso Erário que tem sido DOADO aos séquitos esquerdistasPATAS de outras ditaduras desse mundo afora.
    Notem que ele confessa os intentos de sua corja de comunas e que desdenhavam “conselhos” lúcidos e coerentes de alguns deles, mas, ainda assim, resolveram ser guerrilheiros subversivos, terroristas, sequestradores, assaltantes, assassinos de inocentes e, também, ” justiçaram” aos próprios colegas que pensaram em desistir da LUTA ARMADA e “DESAPARECERAM” com eles…
    Idiotas, imbecis, néscios de ideias fixas que não conseguem entender que “ninguém se banha nas mesmas águas do mesmo rio”, sobretudo nas águas do rio da história!
    Abr
    JG

  2. nelson

    esse desenterra jango, enterra jango, nâo passa de mais uma peça teatral ridicula, dessa politica ridicula, nesse país ridiculo chamado brasil. ou entâo é uma armaçâo de idenizaçâo aonde muita gente vai sair rica com o dinheiro de quem produz a riquesa desse país. a unica vantagem de um morto assumir o governo é que os mortos nâo roubam….. pra quê pedro alvares cabral decobriu a porcaria desse brasil, pra quê meu deus !!!!!!!!!

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