Brasília – Os dois Zés, o Genoíno e o Dirceu, têm em comum uma história não muito comum de heróis que escaparam incólumes sem darem um tiro sequer.
Na guerrilha do Araguaia, o grupo do Genoíno pode ter matado alguém, mas ele mesmo não chegou a trocar tiro com as forças do governo.
Pelo menos, foi o que o próprio sargento que o prendeu deixou entender.
O sargento me disse e repetiu na presença do companheiro jornalista Borjão, que o Genoíno estava sentado embaixo de uma árvore na beira da estrada e se entregou sem reação.
– “Nós colocamos ele ( Genoíno ) no helicóptero, e ele ( Genoíno ) entregou todo mundo” – disse-nos o sargento – que hoje é reformado como capitão.
E o Dirceu foi para Cuba, mas entre o treinamento de guerrilha pesada, no mato, ele optou pela burocracia, ou seja, o Serviço de Inteligência Cubana e lá se especializou.
Voltou para o Brasil transformado, inclusive fisicamente, e se instalou como empresário no Paraná. Por lá se casou e viveu por mais de 10 anos com outra identidade, até que, uma noite no Jornal Nacional da Globo ele se viu verdadeiro num folheto com as fotos dos brasileiros exilados – que retornavam com a anistia.
– “Eu sou esse aí” – disse ele à esposa.
– “Como assim, você é esse aí?” – reagiu estupefata a esposa.
Era o próprio. E rapidamente José Dirceu ascendeu ao topo, o que levou a acreditar que poderia chegar também à presidência da República.
Os dois Zés agora agonizam politicamente, tudo indica que finalmente conseguiram fazer o aborto político deles.
Mas, pensando bem, não haveria mesmo de terminar bem essa história comum de dois guerilheiros que não deram tiro algum.
E agora resta só uma bala para cada um. Para Genoíno, tem a aprovação do pedido de aposentadoria da Câmara Federal – que lhe garante a retirada de R$ 26 mil mensais, brutos.
E para Dirceu, o pedido simplório para que a Justiça lhe permita ser administrador do San Peter, um hotel cinco estrelas aqui em Brasília que pertenceu ao falecido deputado federal Sergio Naia.