O que é uma instituição nacional com sede no Rio de Janeiro?
   28 de novembro de 2013   │     14:15  │  1

Brasília – De todos os esportes com bola não há outro igual ao futebol, porque o futebol reuniu duas “necessidades” humanas: a continuidade, ainda que de forma civilizada, do espetáculo nas arenas do Império Romano e o júbilo dos generais no triunfo das batalhas.

Não por acaso, no futebol tem o artilheiro, tiro de meta, tiro livre, o atacante, o ponteiro, o lateral, a linha de frente, a linha de defesa e o pênalti – que é a reprodução civilizada do paredão de fuzilamento.

E tudo isto sujeito a tática. A tática de uma guerra com uma bola semelhante à bala de canhão, só que de couro no lugar do ferro. Na guerra se mata o adversário; no futebol se ultrapassa com o drible para “fuzilar” ou “disparar um petardo” contra um “sentinela” solitário – que é o único que pode pegar a bola com as mãos.

E, ainda assim, no limite da sua guarita. Digo: grande área.

Tem outra peculiaridade no futebol, que lhe é exclusiva: o talento. Assim como não se ensina um guerreiro, e sim se treina, no futebol não se ensina a jogar. O guerreiro e o jogador de futebol já nascem guerreiro e jogador de futebol.

Daí, onde só o talento predomina o tamanho não é documento. E tanto é assim que os escravagistas não admitiam o negro no futebol porque eles “poderiam” exibir talento e, dessa forma sutil, provar em campo que somos todos iguais.

Coube ao Vasco da Gama quebrar o tabu e contratar o primeiro negro para jogar no seu time.

Esse fascínio pelo futebol se alastrou. Na minha geração da década de 1960 o futebol só existia na América Latina e na Europa; hoje, se expandiu por todos os Continentes e, chegando ao Islamismo, juntou-se à crença católica romana, ortodoxa, anglicana, protestante e umbandista.

E dentro dessa instituição internacional que é o futebol surgiram os apêndices, que são os clubes, que se tornaram instituições nacionais do futebol. O Flamengo é uma dessas instituições; o Flamengo não é simplesmente um clube de futebol.

O Flamengo é uma instituição de futebol com sede no Rio de Janeiro – essa definição é minha e eu uso para aplacar a ira dos adversários.

E, pelo que se costuma chamar de feliz coincidência, há entre o Flamengo e Alagoas uma relação histórica muito forte na minha cabeça. Eu nasci em 1951 quando o Flamengo foi campeão carioca, em 52 eu completei 1 ano e o Flamengo foi bi-campeão, em 53, com 2 anos de idade o Flamengo foi tri-campeão.

Mais ou menos com 6 anos de idade, meu pai apontou-me o quadro do Flamengo tri-campeão carioca ( 51, 52, 53 ) pendurado na parede e ditou para mim a formação que eu tenho ainda hoje em mente.

Anibal, Pavão e Tomires; Dequinha, Jadir e Jordan. Joel, Paulinho, Evaristo, Dida e Zagalo.

E meu pai, duas vezes orgulhoso, apontava para o Tomires e dizia-me:

– “Esse é nosso vizinho”.

O Tomires morava no bairro do Bom Parto, mas o orgulho não era apenas esse; além dele, tinham mais dois alagoanos: o Dida e o Zagalo.

O Dida saiu do CSA direto para o Flamengo; o Zagalo saiu de Maceió aos 6 anos de idade e se iniciou no Rio de Janeiro, mas o pai dele foi quem construiu a fábrica de tecidos que deu origem ao bairro do Bom Parto.

Essa é a minha homenagem a todos os flamenguistas!

COMENTÁRIOS
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  1. Gustavo Gomes

    Oxalá, Jesus, Buda Alá.
    Que homenagem!
    Sou Flamengo e este é um dos poucos textos mais brilhantes sobre o referido e amado clube.
    O “envolvimento” com Alagoas aqui costurado é que me deixa de queixo quedado e de joelhos no chão para agradecer ao “meio-de-campo” acima pelo lampejo na minha vida de me tornar Flamengo.
    Saiba, este texto tô copiando (Ctrl/C) e colando (Ctrl/V) nos meus arquivos pessoais.
    Valeu Villa. Saúde e sexo para tu por muito tempo.

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