Por enquanto, o crime tem compensado sim!
   13 de novembro de 2013   │     10:09  │  0

Brasília – O poeta satírico Gregório de Matos era mais que um poeta; era um profeta satírico, pois imagine o que ele escreveu no século 17:

Nesse mundo é mais rico quem mais rapa ( rouba )

Quem mais limpo se faz tem mais carepa (sujeira)

Ao nobre a língua o vil decepa

E o velhaco maior sempre tem capa.

Mostre o brio da nobreza o mapa,

Quem tem mãos de agarrar ligeiro trepa

E quem dinheiro tiver pode ser papa.

O poeta Gregório de Matos escreveu isto nos meados dos anos 1600, pouco mais de um século depois de Cabral ter “descoberto o Brasil”. É ou não é um profeta satírico?

Muito tempo depois, no começo da década de 1960, o músico e poeta satírico Juca Chaves compôs uma música que diz assim:

Vamos fazer contrabando/ contrabando de café/

Vou montou um novo bando/ Vou dizer como é que é/

Basta ser homem de idade/ Do ex-distrito federal/

Frequentar a sociedade e a coluna social/

Contrabando nessa terra/ É negócio de colher/

Político sempre erra/ Isto é: quando ele quer/

Brasileiro de malícia/ Deve ser contrabandista/

Quem apanha da polícia/ É estudante e comunista/

Sinceramente, se a corrupção e se os desvios de conduta estão no cancioneiro popular, será que ainda dá para se indignar com essa avalanche de denúncias de irregularidades no serviço público brasileiro?

Será que ainda tem algo demais para alguém se indignar com a Assembleia Legislativa de Alagoas, envolvida em seguidos atos escusos?

Ou é recomendável se indignar com a impunidade?

Parece-me que todos nos contaminamos pela indecência. Uma senhora colocou o filho no colo só para furar a fila do banco; o filho que ela exibia no colo, tão logo foi atendida, ela colocou de volta no chão para correr a aprontar nas peraltices pela agência enquanto, quem sabe satisfeita pela esperteza, imaginava que atrás de si tinha um bando de otários e otárias.

A outra, e também era uma mulher, não ligou a seta para indicar que ia entrar à direita nas proximidades do Rádio Center e atropelou um cidadão que confiou que ela iria passar direto pela W 3.

São exemplos de pessoas que, com certeza, vivem a criticar os políticos. E esses exemplos não são exclusivos de Brasília; tem muita gente assim também em Alagoas e no resto do país.

Não sei se é assim, mas eu acho que nós estamos apontando para o alvo errado seja por desconhecimento ou por covardia. Ninguém jamais haverá de  evitar o crime, mas me parece que está faltando alguém que demonstre que o crime não compensa.

Porque, até agora, está compensando.

O que é o constrangimento de ser preso temporariamente se o motivo da prisão já rendeu uma mineradora, 35 apartamentos em São Paulo, fazenda, hotéis, carros de luxo e apartamento em Nova Iorque e Miami?

Não é nada.