Os 53 anos de uma rádio que parava Alagoas
   6 de outubro de 2013   │     1:00  │  3

A Rádio Difusora, pioneira, fez história na radiodifusão alagoana pelas novelas e os programas de auditório comandados por Odete Pacheco e Luiz de Barros, mas só a Rádio Gazeta teve o poder de parar Alagoas quando colocava no ar as edições extraordinárias do “Correspondente Bentes”.

– E atenção muita atenção porque vamos repetir a notícia…

E o controlador colocava no ar a característica das edições extraordinárias, aquela famosa música “Washington Post”, que foi escolhida pelo saudoso Jorge Vilar e se tornou marca registrada da Rádio Gazeta.

Comecei no Jornalismo na Rádio Gazeta, na sede antiga na Rua do Comércio. Na época a rádio tinha um quadro especial no Departamento de Jornalismo, com plantões e edição de noticias locais enviadas pelos plantonistas no antigo HPS ( Hospital de Pronto Socorro ), IML e Delegacia de Plantão.

O noticiário nacional e internacional chegava pelas agências de notícias UPI e AJB; era característico aquele barulhinho na redação com as máquinas imprimindo as notícias que a gente transcrevia para o noticiário de hora em hora.

Ao meio-dia havia o grande jornal e à meia-noite o “Seu Redator Chefe”, com o apanhado de todo o noticiário. Havia um locutor especial para o noticiário que produzíamos.

O Ailton Villanova, meu primo-irmão, o Roberto Carvalho, o Gilson Gonçalves e o Ielson Ávila eram os destaques como noticiaristas.

O Departamento de Esportes era o que tinha de melhor no mercado: Márcio Canuto, Valdemir Rodrigues, Jurandir Costa, Natan Oliveira, Antônio Avelar, Sabino Romariz, Edson Mauro, Natan Oliveira, Jorge Lins, João Malta, Antônio Torres, Arivaldo Maia, Reinaldo Cavalcante, Arnoldo Chagas, com o França Moura nos plantões comunicando o resultados do jogos no resto do país.

No horário da tarde se destacavam o Pedro Macedo, com o programa “Saudade que a Jovem Guarda” e o Jalon Cabral com o programa de música regional. As manhãs eram do saudoso Edécio Lopes.

Pelo Departamento de Jornalismo passaram os companheiros Batista Pinheiro ( diretor), José Elias, Flávio Gomes de Barros, Jose Bartolomeu, Fernando Araújo, Francisco Alves, Jurandir Tobias, Juarez Oliveira, Jaime Feitosa…

Alguns fatos pitorescos marcaram essa época de ouro do rádio alagoano. Um deles se deu com o Edécio Lopes.

O programa do Edécio era patrocinado pelo Café Emecê. Um dia, o Edécio estava entrevistando o então senador Luiz Cavalcante. Numa pausa da entrevista, o Edécio chamou o comercial dizendo:

Tragam um café Emecê para o senador!

Depois do intervalo o Edécio quis arrancar uma opinião do major Luiz sobre o café e perguntou-lhe o que achou do sabor.

Muito bom esse Café Afa, Edécio – respondeu o major Luiz. O Café Afa era o concorrente do Emecê.

Outro caso envolveu a mim, o Zé Elias e o Jurandir Tobias. Um vereador chamado Adalberto Leão Viana apresentou um projeto colocando o padre Cícero como padroeiro de Maceió e o Tobias, que era o diretor de Jornalismo, ficou indignado.

Maceió já tem padroeira. Isso é um absurdo – reagiu o Tobias, para pedir que eu escrevesse um editorial para abrir o jornal do meio-dia.

E eu mandei ver. Ficou pesado e a repercussão foi grande. Aí o Zé Elias propôs que a gente passasse um trote. Descemos até a antiga Livraria Villas-Boas, que ficava vizinha ao prédio da Gazeta, compramos envelope e papel ofício e redigimos uma carta como se fosse o vereador Adalberto Leão Viana. Deixamos a carta no birô do Tobias, que costumava chegar à redação às 17 horas.

O Tobias leu e sem desconfiar do trote ligou para o Ailton Villanova, que era assessor da Secretaria de Segurança, pedindo para ele ( Ailton) vir urgente à rádio pois estava sendo ameaçado.

Na carta, eu dizia que tinha sido desmoralizado em plena hora do almoço e na vista dos meus filhos. O Adalberto tinha um filho problemático e o Tobias temia que ele viesse tomar satisfação.

Quando o Ailton chegou logo descobriu que se tratava de trote. O envelope não tinha o timbre da Câmara Municipal, e nós ( eu e o Zé Elias ) decidimos confessar a brincadeira. Foi pior; o Tobias ficou irado e passou a fazer charme.

Trouxe a escritura da casa dizendo que ia fazer o testamento, pois iria morrer; e espalhou todo tipo de remédio para acalmar os nervos sobre o birô. Foi aí que pedimos a intervenção do saudoso José Otávio Rocha, pois o Tobias parecia irredutível, dizendo que ia processar a gente.

Mas era só uma onda; só pra nos assustar.

O saudoso Jurandir Costa também gostava de perturbar o Tobias. Um colega nosso, o Juarez Oliveira, tinha mania de prometer emprego. Pegava as carteiras de trabalho dos interessados, segurava uma grana  (mixaria) e se enrolava todo porque o emprego nunca saia e o interessado o procurava na Gazeta todos os dias.

O Tobias ficava puto da vida com o Juarez. Aí, o Jurandir Costa, orientava os interessados a procurar o Tobias na cada dele, na Ponta Grossa, logo depois do antigo Cinema Lux. O Jurandir Costa dava todas as coordenadas e recomendava que a pessoa insistisse pelo emprego.

O Juarez não tem condições de arranjar emprego, quem tem condições é o diretor. Vá lá, na casa dele, que é diretor e peça o emprego. Ele vai negar, mas você insista. Só saia de lá com o emprego.

Cara, não dava meia hora e o Tobias aparecia na rádio virado numa fera e querendo pegar o Juarez – que levava a culpa.

Vou pedir ao Zé Barbosa para demiti-lo!

Mas era só kahô; o Tobias tinha um coração maior do que ele e era incapaz de prejudicar alguém. E o Juarez apenas ficava de castigo com os plantões seguidos aos domingos, o que muito nos agradava, pois antes ele do que nós no plantão dominical.

Aliás, as manhãs do domingo eram diferentes com o Reinaldo Cavalcante e o “Hoje é Dia de Praia”.

E as tardes do domingo também, com as transmissões esportivas e, antes delas, com o programa “Ora Bolas” produzido pelo Jorge Vilar e que contava com verdadeiros atores amadores iguais ao Ailton Villanova, Jalon Cabral, Geraldo Lopes, e o próprio Jorge Vilar.

A Rádio Gazeta tem uma peculiaridade: o diretor Gilberto Lima é o mais antigo executivo de rádio a se manter no cargo; é também o executivo de rádio que foi sendo promovido por merecimento e passou por vários cargos na emissora.

Aos 53 anos de existência, a Rádio Gazeta se confunde com a história de Alagoas e se consolidou como patrimônio alagoano. A todos que fizeram e fazem a Rádio Gazeta, os nossos agradecimentos e homenagens.

COMENTÁRIOS
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  1. Mano Alves

    Quanta saudade desse tempo companheiro eu era menino e sempre fui ouvinte da Radio Gazeta e sempre ouvir esses grandes nomes do rádio alagoano. Aprendi muito muito com vocês.

  2. Ebenézer Nascimento (Bené)

    Prezado Roberto…
    Leio seu comentário com alegria. Também fiz parte da Rádio Gazeta, com muito orgulho. Aliás, a Gazeta foi meu primeiro emprego. Com a saída do Valdemir Rodrigues (contratado pela Difusora) eu o substituí no Plantão Esportivo e assim iniciei minha vida profissional. A data é também inesquecível: 4 de janeiro de 1973. Tive o prazer de trabalhar com quase todos os profissionais aqui citados (exceção apenas a Jorge Villar, Geraldo Lopes, Jalon Cabral). Ainda acrescentaria nos nomes de José Carlos Campos, Antônio Torres, Arivaldo Maia, Antônio Avelar, Penedo e outros que foram meus mestres no rádio alagoano. Hoje sou Superintendente Regional da EBC/TV Brasil- no Nordeste. A Gazeta é uma referência em minha vida e sou grato à ela e a todos esses profissionais fantásticos que me ajudaram a ser o profissional que sou hoje. Saudações

  3. Neide Pinheiro

    Excelente comentário! A Rádio Gazeta realmente marcou época na era do rádio AM. Primeiro foi a Rádio Difusora, depois a Rádio Progresso e por fim a Rádio Gazeta. Complementando, chegou a Rádio Educadora Palmares. E durante muitos anos foram apenas essas quatro emissoras de rádio em Maceió, numa época em que ainda não tínhamos emissoras de televisão. A disputa no futebol e no jornalismo era entre Gazeta e Difusora. A Progresso funcionava mais com uma programação musical, tipo hoje a das rádios FM. Mas a Progresso chegou a ameaçar a audiência das concorrentes a época da “ProJovem”.
    Quanto a permanência do Gilberto Lima a frente da Rádio Gazeta, isso é positivo porque faz com que o diretor conheça melhor os melindros da emissora. O problema da Rádio Difusora é a ingerência politica que faz com que cada governo indique um diretor diferente.
    Parabéns pela matéria. Nota 1000!

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