Fico de cá imaginando a reação de dona Esmeralda lá nos cafundós do município de Canto do Buriti, no sertão do Piauí, quando uma equipe do PSF ( Programa Saúde da Família ) liderada por um médico cubano bateu à porta de sua casa.
Ela entendeu perfeitamente o que o médico dizia e o estranho mesmo ficou por conta do susto causado pelo ineditismo: um médico em pessoa, vivinho, na sua porta perguntando como ela estava de saúde.
Milagre!
Médico naquele cafundó de Canto do Buriti, como por extensão nos cafundós nacionais, só passa pela televisão. Para aventurar ser atendida por um médico, dona Esmeralda tinha de se deslocar para São Raimundo Nonato.
E nem sempre conseguia na primeira viagem.
E agora ela estava vendo um médico na porta de casa perguntando como ela estava se sentindo de saúde. Dona Esmeralda ficou tão perplexa, tão surpresa, que se esqueceu de enumerar todos os sintomas de doenças que imagina ter.
Mas não há de ser nada; o médico cubano vai voltar. Ele estará sempre por perto para cumprir fielmente com o juramento de Hipócrates e deixando dona Esmeralda ainda mais embasbacada, pois médico para ela sempre foi uma miragem.
Naquele sertão seco, com o sol à pino, um médico de fala ainda carregada, mas perfeitamente entendível, caminha sobre veredas e visita casas humildes onde nenhum outro médico jamais chegou!
Milagre!
Um milagre que dona Esmeralda logo ficou sabendo do nome do santo, quando perguntou ao médico cubano:
– Doutor, quem chamou o senhor?
E o médico cubano respondeu em português fluente, apesar do pouco tempo:
– Foi a Dilma e o Lula.