Monthly Archives: setembro 2013

Tem um médico na minha porta. Deve ser milagre
   17 de setembro de 2013   │     10:17  │  8

Fico de cá imaginando a reação de dona Esmeralda lá nos cafundós do município de Canto do Buriti, no sertão do Piauí, quando uma equipe do PSF ( Programa Saúde da Família ) liderada por um médico cubano bateu à porta de sua casa.

Ela entendeu perfeitamente o que o médico dizia e o estranho mesmo ficou por conta do susto causado pelo ineditismo: um médico em pessoa, vivinho, na sua porta perguntando como ela estava de saúde.

Milagre!

Médico naquele cafundó de Canto do Buriti, como por extensão nos cafundós nacionais, só passa pela televisão. Para aventurar ser atendida por um médico, dona Esmeralda tinha de se deslocar para São Raimundo Nonato.

E nem sempre conseguia na primeira viagem.

E agora ela estava vendo um médico na porta de casa perguntando como ela estava se sentindo de saúde. Dona Esmeralda ficou tão perplexa, tão surpresa, que se esqueceu de enumerar todos os sintomas de doenças que imagina ter.

Mas não há de ser nada; o médico cubano vai voltar. Ele estará sempre por perto para cumprir fielmente com o juramento de Hipócrates e deixando dona Esmeralda ainda mais embasbacada, pois médico para ela sempre foi uma miragem.

Naquele sertão seco, com o sol à pino, um médico de fala ainda carregada, mas perfeitamente entendível, caminha sobre veredas e visita casas humildes onde nenhum outro médico jamais chegou!

Milagre!

Um milagre que dona Esmeralda logo ficou sabendo do nome do santo, quando perguntou ao médico cubano:

Doutor, quem chamou o senhor?

E o médico cubano respondeu em português fluente, apesar do pouco tempo:

Foi a Dilma e o Lula.

 

 

 

Sim, mas o que é mesmo o “mensalão”?
   16 de setembro de 2013   │     19:02  │  1

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire, qualifica-o como o “maior escândalo da história da República brasileira.”

Menos, Roberto Freire. Menos.

O maior escândalo da história da República brasileira quem promoveu foi o Rui Barbosa, quando era ministro da Fazenda.

Rui Barbosa poderia ter sido enquadrado por estelionato, formação de quadrilha e golpe contra o sistema financeiro, mas escapou ileso.

E sabe quem o salvou? A nulidade; aquela mesma nulidade que Rui Barbosa sentenciou porque, de tanto vê-la triunfar, o cidadão sentirá vergonha de ser honesto.

O “mensalão” é apenas a prática corriqueira que vigora num sistema político onde tudo se negocia.

O eleitor negocia o voto; o governo negocia a base; o deputado negocia as emendas; o empreiteiro negocia a comissão; o fornecedor negocia o contrato e assim tem sido.

Temos uma constituição de inspiração Parlamentarista, para vigorar no sistema Presidencialista, e o que não daria certo em outro lugar, aqui, tem dado.

De vez em quando pipocam uns escândalos, mas a velocidade como se repetem sempre remete o primeiro escândalo ao esquecimento. Não há tempo sequer para se indignar, tantas são as repetições dos erros.

E queríamos o quê?

Precisa-se de uma reforma política, e não se faz; precisa-se de uma reforma do judiciário e uma reforma tributária e também não se faz porque a reforma implica em ceder – e ninguém quer ceder nada.

Claro, ceder não é um bom negócio.

Rui Barbosa estimulou a venda de ações de empresas que não existiam para segurar o dinheiro de quem possuía.

E o “mensalão” usou um mecanismo de manipulação de dinheiro para segurar o apoio de uma base política que sempre existiu dessa forma pecaminosa.

A novidade me parece ser o Brejo da Cruz, onde ninguém pergunta onde essa gente vai. O “mensalão” não é uma invenção do PT nem do PSDB, ainda que tenha se robustecido a partir de Minas Gerais num governo tucano.

O “mensalão” é uma invenção dessa relação pecaminosa entre os poderes constituídos, e isto vem desde o dia em que os monarquistas proclamaram a República brasileira.

Tem algo mais insólito do que uma República proclamada por monarquistas?

Mas o que é mesmo que falta em Alagoas?
   14 de setembro de 2013   │     14:17  │  15

Embora tivesse sido inventado como prêmio à lealdade à Monarquia, por ocasião do levante republicano em Pernambuco, em 1817, Alagoas foi entregue ao controle político do Visconde de Sinimbu – que era filho da heroína republicana.

A mãe de Sinimbu dominava a região que hoje compreende o município de São Miguel dos Campos e armou um exército particular para lutar pela República.

Coisa de Alagoas, por certo.

São 196 anos de “emancipação” de Pernambuco, mas ainda hoje há quem duvide se não era melhor como antes. A parte ao Sul de Pernambuco, que reagiu ao levante republicano iniciado em Recife, se tornou “independente”.

Surgiu Alagoas em 27 mil quilômetros quadrados e mais de 50 lagoas. Um filé, que ninguém cuidou direito até hoje, embora possua um solo e subsolo privilegiados.

Existem no Brasil seis jazidas de sal-gema com valor comercial, e a mais importante dela está em Alagoas – mais precisamente, em Maceió. O teor de pureza é de 99%!

Existem no Brasil várias jazidas de gás natural, mas nenhuma se compara à reserva alagoana porque é a única que produz gás puro, ou seja, sem petróleo.

Mas a sal-gema é beneficiada mesmo na Bahia, assim como o gás natural, que segue pelo gasoduto passando por Itabaiana, em Sergipe, e chegando em Camaçari. Também tem outro gasoduto que vai da Chã do Pilar para o Cabo de Santo Agostinho, para alimentar a indústria pernambucana.

Interessante é que Pernambuco não tem gás, mas tem termelétrica. E de onde vem o gás que alimenta a termelétrica e a indústria pernambucana?

Adivinhe?

Vem de Alagoas, claro, que é a “vaca leiteira” que dá leite, mas não produz queijo nem manteiga. Quem produz é o vizinho.

Os mais antigos se lembram do bordão publicitário que dizia assim: se no Recife tem, na Casa do Colegial também tem. Essa dependência histórica não cessou com a “emancipação” e, nesses 196 anos, o que se viu foi a regressão.

Alagoas hoje é o último Estado do nordeste, apesar de toda essa prodigalidade do seu solo e subsolo. É o último também a irrigar o semi-árido, apesar da proximidade do Rio São Francisco.

E no Brasil, é o único estado que já foi governador por um estrangeiro. Logo após a “emancipação”  as forças políticas se desentenderam e, casado de esperar uma solução, o imperador nomeou um argentino para governar Alagoas.

É assim, o estado. Um litoral inigualável, um solo rico, um subsolo auspicioso, mas que continua nessa pindaíba. Nada por aqui cresce e, se não cresce, Alagoas foi perdendo espaço. Do “filé” que era quando surgiu, hoje é verdadeira carne de pescoço com uma dívida impagável, a violência incontrolável e a perspectiva anuviada pelas incertezas.

Mas, afinal, o que é que falta a Alagoas?

O policial sicário e os parentes da lei, que a todos protege
   12 de setembro de 2013   │     19:36  │  6

Policiais que fazem bico como sicários; parentes de delegados envolvidos com roubo e, na Fernandes Lima chega-me a notícia de que tá lá um corpo estendido no chão e eu indago: como alguém consegue escapar incólume na conturbada e abarrotada Fernandes Lima?

Deve estar sendo mesmo muito fácil para a criminalidade em Alagoas. É verdade que a violência é um produto nacional, mas também é verdade que em Alagoas os crimes parecem ser estimulados pela impunidade.

Alagoas é a terra dos inquéritos policiais forjados. Exemplo: a chacina de Roteiro e o assassinato do vice-prefeito do Pilar, Beto Campanha, onde os inquéritos são verdadeiras peças criminosas porque indiciam inocentes.

E o que é pior? Deixar o culpado solto ou prender inocentes?

Diante do exposto permanece a dúvida atroz: de onde vem o crime em Alagoas? Vem dos grotões onde habitam os rebotalhos humanos segregados ou vem do policial que recebe 30 mil reais para matar uma jovem grávida e sumir com o corpo?

Sem resposta para essas indagações, a sociedade alagoana continua traumatizada pelos crimes do cotidiano e pela impunidade dos atos criminosos.

Alagoas se transformou no Estado dos parentes e aparentados que podem matar ou roubar com a certeza de que nada vai acontecer, pelo menos antes de o crime prescrever.

Em Alagoas ou se espera a prescrição do crime para solenemente se arquivar os processos ou se espera pela imunidade parlamentar do acusado, para se dar a falsa ideia à sociedade de que se agiu conforme a lei mandando o processo para o Supremo.

São os Pilatos da corte. Quando se envia o processo para o Supremo é porque se estar lavando as mãos, e tal procedimento é o combustível do crime em Alagoas – que alimenta os parentes e aparentados, e estimula os segregados sociais a buscarem no trabuco o que o Estado lhes nega há tempo.

Há casos tipo assim: o prefeito Fulano de tal e o prefeito Sicrano de  tal praticaram os mesmos crimes de roubo, mas só o prefeito Sicrano foi preso porque o prefeito Fulano é aparentado da lei que deveria puni-lo.

E, em Alagoas, a lei não pune os aparentados. Só os desconhecidos.

Daí é besteira ficar discutindo a violência em Alagoas e pedir providências. Não se pode tomar providência numa terra onda o policial faz bico de sicário, o parente do delegado rouba e a lei tem parentes.

Arapiraca vira o centro da atenção eleitoral em 2014
   11 de setembro de 2013   │     12:29  │  3

Segundo maior colégio eleitoral de Alagoas, a eleição do ano que vem em Arapiraca vai colocar em xeque o “celismo” – que é o bloco da prefeita Célia Rocha.

Seu principal adversário é Rogério Teófilo, que tem dito não ser Célia Rocha a “dona de Arapiraca”. Rogério é candidato a deputado federal.

Célia e Rogério disputaram a prefeitura e Célia venceu, mas com a margem de votos muito abaixo do que havia projetado.

O candidato de Célia à Câmara Federal é o ex-prefeito Luciano Barbosa, que fez um trabalho considerado excelente e se revelou bom administrador, mas tem carência no trato com o eleitor.

Rogério é mais maleável, mas também precisa superar a própria carência de ser visto pelo eleitor como indeciso ou por demorar muito tempo nas suas decisões.

Aliás, esse é o único ponto que os adversários dele exploram para tirar-lhe votos.

Em 2014, estarão de olho em Arapiraca o governador Téo Vilela e os senadores Renan Calheiros, Fernando Collor e Benedito de Lira – que um dia já se beneficiaram do “celismo”, mas hoje só Renan e Collor estão juntos a Célia.

Há quem diga que Arapiraca vai dar o tom da campanha eleitoral em Alagoas, especialmente na disputa majoritária.

E tanto é assim, que o vice-governador José Thomaz Nonô, que um dia também se beneficiou do “celismo”, investiu pesado para tentar recuperar o terreno perdido na terra de Manoel André e cooptou o empresário Ricardo Barreto, desfalcando o senador Benedito de Lira.

A sucessão em Alagoas passa mesmo por Arapiraca porque, quem poderia fazer a diferença se perdeu no meio do caminho – que foi o ex-prefeito Cícero Almeida, hoje candidato proporcional.