A frase da vice-ministra da Saúde de Cuba, Márcia Covas, soou igual ao grito no desfiladeiro – que ecoa até onde o vento encosta o cisco.
Ela disse:
– “Nós não exportamos médicos; nós exportamos serviços de saúde”.
E lembrou que os médicos cubanos que aderiram ao programa Mais Médico, do governo brasileiro, têm emprego em Cuba e decidiram vir por solidariedade.
Os médicos estrangeiros que desembarcaram em Recife vão trabalhar em cidades e lugarejos onda a população jamais viu um médico.
E esses médicos estrangeiros não podem montar consultório nem trabalhar em hospital particular, até porque seria tremenda incoerência.
É natural a reação da classe médica, afinal, a demanda de pacientes para as capitais e os grandes centros urbanos será inexoravelmente reduzida – e isto significa a baixa no bolso.
A outra questão é que o governo brasileiro instituiu um piso nacional de R$ 10 mil. Isto também representa perdas.
Vejamos o exemplo de uma cidade a 60 quilômetros do Distrito Federal, onde o prefeito estava contratando um médico com salário de R$ 17 mil.
Ao tomar conhecimento do programa Mais Médico, o prefeito optou por inscrever o município para obter o médico a R$ 10 mil, e pagos pela União.
A reação contrária ao programa Mais Médico se dá por motivo econômico. Há os que reagem porque acham que os médicos cubanos são guerrilheiros – e esses são líricos pirados; a massa maior da reação se dá mesmo é porque a classe médica brasileira vai sair perdendo.
O discurso de que estão preocupados com a “qualidade” dos médicos estrangeiros é blefe; se houvesse mesmo a preocupação com a população não se teria deixado essa população à míngua, ao ponto de obrigar o governo a importar médicos.
E por falar nisso, em Recife 16 crianças morrem em cada 1.000 partos. Em Cuba, apenas 4 por 1.000 partos.
Das duas, uma: a medicina em Recife não presta serviços de saúde; a medicina cubana é melhor do que a medicina brasileira.
Acho que é por aí; a medicina brasileira é extremamente capitalista e mercantilista, e, sendo assim, é cara e discriminadora.
E para os que acham que os médicos cubanos são guerrilheiros que vão fomentar a revolução comunista no país – e tem louco pra tudo! – o senador Cristovão Buarque destacou que o Canadá é um país capitalista.
– “Mas lá (no Canadá) não tem medicina privada; toda a medicina lá (no Canadá capitalista) é pública”.
Alvíssaras! Acho que chegou o dia que o governo brasileiro despertou para a realidade: a saúde é um serviço público e não um privilégio privado.