Um médico de verdade especialista em gente!
   20 de julho de 2013   │     12:22  │  5

Tenho um amigo médico aqui em Brasília com uma história profissional tão bonita e rica, que decidi contá-la.

É o dr. Francisco de Assis, médico-chefe do Serviço Médico do Ministério do Planejamento, e que me parece fazer parte de uma espécie em extinção de tão rara na medicina brasileira.

Seguinte: o dr. Francisco se formou em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em meados da década de 1970. Depois de formado, ele decidiu passar três anos como médico-residente do Hospital Souza Aguiar.

Casou-se com uma colega de turma e, após a residência de três anos, os dois decidiram vender o apartamento em Ipanema e em 1980 desembarcaram em Rondônia – que na época ainda era território administrado por um general.

Por que Rondônia, Chico? Perguntei-lhe.

Eu e minha mulher escolhemos um lugar no mapa aleatoriamente. A gente queria praticar a medicina na sua plenitude.

Uma vez em Porto Velho, os dois procuraram a Secretaria de Saúde e 48 horas depois de desembarcarem lá estavam empregados. Os dois se destacaram e seis meses depois o general Jorge Pacheco, interventor de Rondônia, mandou chamá-los.

O general pediu-lhes um projeto para a saúde pública em Rondônia, e em menos de 1 mês o Chico e a esposa entregaram-lhe o projeto.

–  Mas isso é um absurdo! É muito caro! Reagiu o general-interventor.

Com a calma e a paciência dos gênios, o dr. Francisco explicou:

General, caro é tratar a doença. Com esse projeto o senhor vai reduzir os gastos pela metade, porque nós estaremos prevenindo as doenças.

O general se convenceu, o projeto foi implantado e ainda hoje, passados todos esses anos, o sistema de saúde de Rondônia ainda é o mesmo que o dr. Francisco e a sua equipe projetaram.

O dr. Francisco ganhou prestigio e logo o chamaram para Brasília. Ele é o primeiro médico do trabalho perito em cardiologia, no Distrito Federal, e hoje, aos 62 anos, espera a aposentadoria porque se desiludiu.  Apaixonado pela língua francesa, ele fez vestibular para a UnB e é o aluno mais velho da instituição – ele cursa Letras (Francês).

Ontem nós nos encontramos como de costume no mesmo local e eu, caroneiro, fico conversando com ele para beber-lhe a sabedoria. O Chico fala inglês, francês e alemão fluentemente, mas sua paixão é a língua francesa.

Meu amigo Roberto, desculpe aí, viu, mas estou indo para Quebec. Vou passar 48 dias lá treinando meu francês fora da França. Cansei!

Mas, Chico, e esse projeto aí do governo para trazer médicos estrangeiros?

Não quero nem saber. Cansei! O que pude fazer já fiz. Mandei um e-mail para os meus colegas no Ministério da Saúde e da Educação. Se quiserem me responder, tudo bem. Senão, tudo bem também porque agora eu sou estudante da UnB.

O dr. Francisco cansou porque a medicina preventiva que ele defende não dá dinheiro, só dá trabalho. E o que prevalece é a medicina curativa e esta sim, as fontes de rendas estão em várias partes, desde o paciente até à industria farmacêutica.

Quando eu disse que existe o profissional que vive da saúde e o que vive da doença, eu apenas me reportei a Hipócrates e Galeno.

Hipócrates vivia da saúde, mas o imperador romano Marco Antônio não gostava do seu método porque os soldados feridos demoravam a se recuperar e o império precisava de soldados. Foi aí que apareceu Galeno com a proposta da cura rápida da doença, o que deu origem à alopatia.

Ou seja: Hipócrates tratava a causa para curar o enfermo; Galeno tratava a doença para levantar o enfermo na porrada.

A história do amigo Chico foi reforçada agora com o desabafo do médico Adib Jatene, quando disse que o Brasil precisa de médicos especialistas em gente.

O que é verdade, embora muitos não gostem de ouvir. Problema deles, mas  que tem que ser dito e alertado à população sobre essa prática médica nefasta, isso tem.

COMENTÁRIOS
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  1. Evandro

    Pois é, uma vez tomando café lá na bodega do sertão, ouvi uma filha de médicos, aluna de medicina por acaso, dizendo que queria trabalhar em qualquer área da medicina, menos a que dê trabalho, porque ela queria qualidade de vida, que queria pouco contato com gente, pediatria ou geriatria, estavam totalmente fora, ela disse que essa pessoas eram problemáticas, pois é, não é vocação não, é só ganhar dinheiro, da maneira mais fácil, e o paciente ? Há lembrei que médico precisa de paciente, esse que se lasque, afinal muitos pensam como ela “esses tais de pacientes são todos problemáticos um pé no saco”, coitados de nós.

  2. Wilson Braga Junior

    Médicos especialistas em gente existem a rodo pois não passamos de 9 a 15 anos estudando somente para ser melhor do que alguém. O objetivo da medicina no Brasil é tratar e não prevenir. Esta escolha é política, como bem explicado no artigo quando o político achou “muito caro”!
    Precisamos, sim, de POLÍTICOS ESPECIALISTAS EM POVO, preocupados com a saúde da GENTE, que invista dinheiro na medicina preventiva, diagnóstica e curativa também!
    Por que será que o Dr. Francisco cansou? Cansou do quê? Cansou da falta de interesse que os políticos têm pelo povo que os elegeram e nem preciso dar exemplos disso. E cansou porque é um ser humano que deve ter tentado melhorar as coisas e não conseguiu.
    Por que não conseguiu? Preciso dizer mais alguma coisa ou quer que eu desenhe?

  3. Agenor

    Parabéns pela franqueza ao escrever. Os médicos tem que entender que eles não são mais que ninguém, e que quem tem que estar no topo da pirâmide é o doente, não eles.

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