Monthly Archives: junho 2013

Congressistas temem votar a PEC 37. É melhor jogar no lixo
   20 de junho de 2013   │     16:10  │  5

A votação da Proposta de Emenda Constitucional 37 está mantida para o dia 26, quarta-feira que vem, mas já não há mais tanta certeza de que a data será cumprida.

A maioria dos congressistas aconselha não alimentar mais a chama das ruas; a derrubada da PEC 37 é um dos itens de reivindicação dos manifestantes, e a tendência no Congresso é pela aprovação.

A PEC 37, também conhecida como “PEC da Impunidade”, impede o Ministério Público de continuar investigando e fixa a investigação como privilégio exclusivo da polícia, ou seja, do delegado.

Foi criada uma comissão para discuti-la e, depois de longos debates, o texto que vai à votação mantém o poder do Ministério Público de investigar, mas só nos casos considerados especiais.

Ninguém soube definir exatamente o que é “caso especial”, até porque todo crime deve receber o mesmo tratamento investigatório.

Oriunda da bancada dos policiais na Câmara Federal, a PEC é considerada um retrocesso. E, no momento atual com as manifestações populares em todo o país, muitos veem como risco a sua aprovação.

A sociedade perdeu a confiança nas instituições públicas e o Ministério Público, juntamente com os Bombeiros, são (ainda) as duas únicas instituições em que a sociedade confia.

A polícia não tem dado o resultado que a sociedade exige no combate a criminalidade e um exemplo bastante ilustrativo está em Alagoas, com o Gecoc. Se não fosse o Gecoc, muitos crimes não estariam sendo apurados.

Apesar da data para votação estar mantida, há uma corrente que defende a transferência para depois do recesso do meio do ano, ou seja, agosto ou setembro.

Mas, pelo que se está vendo nas ruas do país, o prudente seria jogar esse PEC no lixo.

Ufa! O povo não quer mais só o circo. Quer pão também
   19 de junho de 2013   │     19:24  │  4

No livro “Os Carbonários”, do ex-guerrilheiro carioca e hoje ambientalista Alfredo Sirkis, ele conta que o que mais frustrou a luta armada foi ver a população passiva diante da copa do mundo de 1970.

Enquanto eles lutavam nas ruas, eram mortos ou presos e torturados, a população só pensava na seleção brasileira de futebol.

O próprio Sirkis conta que vivia na clandestinidade no Brasil e ao descer do ônibus em Copacabana viu a multidão em torno da vitrine de uma loja, onde a televisão reproduzia o jogo da seleção brasileira.

Foi nesse momento que se desiludiu e indagou para si mesmo: o que é que estamos fazendo?

Nesta quarta-feira, 19, eu me lembrei do livro do Sirkis e me preparei com um olho na televisão que passava o jogo do Brasil contra o México, e outro no noticiário sobre essa manifestação de rua que eclodiu em todo país por iniciativa exclusiva da cidadania.

E soube que o prefeito de São Paulo, Fernando Hadadd, que tinha dito que não voltaria atrás sobre o reajuste no preço das passagens dos ônibus e metrô, finalmente recuou.

Agora é tarde.

Se foi para desfazer por que fez?

Outra coisa: a questão não é o reajuste das passagens, ou seja, não é 20 centavos, nem 30, nem 50. A questão, ou o buraco, é muito mais embaixo.

Para eles o brasileiro era mesmo aquele fantoche de quem se falava e, com banana e bolo se engana os tolos. Para eles, bastaria o circo, ou seja, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo e tudo estaria sob controle.

Agora esteja.

E até mesmo no Ceará, onde o jogo da seleção foi realizado, a população saiu às ruas como nunca se viu. Acho que o Alfredo Sirkis está agora a imaginar: o que é que está se passando que ninguém soube?

Gente! Esta é a primeira manifestação popular no país que foi organizada sem a participação de políticos. Alguns ainda insistem em erguer estandartes de partidos e são apupados; observem que esses estandartes ficam lá na periferia do movimento.

Esses manifestantes já não acreditam nos partidos políticos, mas foram levados aos protestos pelos sucessivos erros de avaliação das autoridades. Ninguém entende, até agora, como pode a corte maior de justiça do país condenar alguém à prisão, e ninguém ser preso.

Como é que pode? Onde já se viu isso?

Armou-se aquele circo, com retóricas contundentes e palavreados técnicos para impressionar, e a sociedade descobriu que apenas era a plateia – cuja função é aplaudir sem reclamar.

E aí eles cansaram de ser geraldinos e arquibaldos e passaram a ser os protagonistas do show, que ninguém sabe quando vai parar, porque a questão não é 20 centavos nem o reajuste no preço das passagens.

A questão é muito mais profunda.

Em tempo: os carbonários foram manifestantes italianos que tomaram as ruas. O livro do Alfredo Sirkis foi escrito após a volta dele do exílio, com a anistia, no final da década de 1970. E quanta ironia agora para os Sirkis, porque os carbonários que ele imaginava naquela época só surgiram agora, depois de 40 anos de filosofia, políticas e lutas.

O temor agora é se a seleção brasileira não for campeã
     │     10:54  │  5

A Copa do Mundo de 1958 pode servir de marco para a guinada que o futebol iria dar, até chegar a esse império que é hoje movimentando bilhões de dólares.

A copa de 58 foi na Suécia e os suecos são reconhecidos pela polidez, pela educação e pela honestidade. Mas foram forçados a sacanear a seleção brasileira.

Seguinte: as cores das camisas das duas seleções eram iguais, e, para a seleção brasileira, a cor amarela tinha um sentido de livramento do mal, do azar das copas de 50 e 54.

É que a camisa do Brasil era branca e alguém definiu que o branco dava azar, pois o país tinha perdido duas copas. Na Suécia, o Brasil estreou a camisa amarela – que é a cor principal até hoje.

E com a camisa amarela a seleção brasileira estava se dando bem na copa da Suécia, pois chegara à final contra os donos da casa.

A seleção sueca admitiu no primeiro momento que não iria jogar com a camisa amarela, o que deixou a seleção brasileira tranquila. Mas, faltando dois dias para o jogo, mudou de ideia.

A correria na delegação brasileira foi grande para comprar camisa com outra cor, e optou-se pelo azul – que é o segundo uniforme do Brasil.

Compraram as camisas e a comissão brasileira varou a noite cortando os escudos da camisa amarela e pregando na camisa azul.

E o Brasil venceu por 5 a 2. Foi campeão do mundo.

Em 1962 a copa foi realizada no Chile e novamente a seleção brasileira teve de enfrentar adversários invisíveis. O Pelé só jogou a primeira partida e a metade da segunda, e o Garrincha foi expulso de um jogo – o que gerou a discussão sobre se poderia jogar a partida seguinte.

E o Brasil foi bi-campeão. Era praticamente o mesmo time de 58, com exceção do Mauro, que substituiu o Beline; do Zózimo, que substituiu o Orlando e do Amarildo, que substituiu o Pelé.

O interessante é que o Mauro foi convocado porque o Beline já estava “velho”, e o Amarildo, que era reserva, substituiu o Pelé – que estava contundido.

Já o Zózimo substituiu o Orlando porque ele (Orlando) não jogava no Brasil; depois da copa de 58 o Orlando foi vendido para o Boca Júnior.

Na copa de 1966 o governo militar brasileiro tentou escalar a seleção. Foram convocadas quatro seleções, e nenhuma deu certo.

Em 1970, novamente o governo militar tentou influenciar na convocação da seleção impondo o jogador Dario. O técnico João Saldanha não aceitou e se demitiu.

E o Brasil foi campeão porque o time tinha a consciência de que era a última oportunidade que aquela geração teria.

Felix, Carlos Alberto, Brito, Wilson Piazza, Everaldo, Gerson, Jairzinho e Pelé já estavam na linha final da carreira.

E o feito foi usado pelo governo militar para embalar a irrealidade do milagre brasileiro.

Em 1978, o governo militar argentino entrou em desespero para se manter no poder e promoveu a copa do mundo com a exigência de a Argentina ser campeã.

Por ironia, a seleção argentina ficou na dependência de vencer o Peru pelo escore superior a cinco gols. E o Peru era uma seleção fortíssima, e treinada pelo brasileiro Didi, duas vezes campeão do mundo (58 e 62).

Mas perdeu por 6 a 1.

E assim o futebol passou a ser o instrumento pelo qual os governos, de qualquer tendência, usam para aplacar a ira ou elevar a estima dos súditos.

Daí, gente, a grande preocupação agora é quanto à seleção brasileira na Copa das Confederações.

Se não for campeã, a estima baixa e a ira aumenta. Trocando em miúdos: o torcedor pode deixar o estádio e se juntar aos protestos pelas ruas do país.

Se a PEC 37 passar, agora só quem investiga é o sargento Garcia
   18 de junho de 2013   │     19:18  │  8

Essa é um a prova de fogo, vocês terão de dizer se foi mesmo tudo pra valer ou não. A votação da PEC 37, aquela que institui a impunidade mediante emenda constitucional, está na pauta para ser votada na semana que vem.

Se for aprovada, adeus esperança!

Hoje, só duas instituições públicas (ainda) têm a confiança da sociedade: o Corpo de Bombeiros e o Ministério Público.

E a PEC 37 retira do Ministério Público o direito de investigar, que passa a ser exclusividade dos delegados. A alegação é de que os promotores “não tem formação policial e não conhecem os mecanismos da investigação policial.”

E daí? E os delegados que sequer conseguiram aprovação no exame da OAB e permanecem como rábulas, têm condições de apurar alguma coisa?

Se só os delegados têm esse “preparo” então porque o país chegou a essa guerra interna que mata inocente todos os dias? Porque em Alagoas, por exemplo, tem quase 4 mil inquéritos policiais que não foram concluídos?

E o mais grave: inquéritos forjados!

A comissão que trata da questão no Congresso Nacional propôs uma saída, que é reservar ao Ministério Público apenas as “investigações especiais”.

E o que é investigação especial? Quem vai definir o caráter de especialidade da investigação?

Taí outra pauta para manifestação. Se a PEC 37 passar o caos se instalou definitivamente no país, porque com a polícia que temos quem vai investigar tudo é o sargento Garcia.

O que é muito bom para o Zorro. Mas só para ele.

E os sertanejos universitários não cantaram Geraldo Vandré
     │     13:44  │  4

Não! Eles não repetiram aquele bordão enfadonho que diz assim:

O povo/ Unido/ Jamais será vencido…

Também não cantaram aquela guarânia desgastada do Geraldo Vandré, que diz assim:

Vem vamos embora/ Que esperar não é saber/ Quem sabe faz a hora…

Não! Eles são outros jovens e cantaram assim:

Eu/ Sou brasileiro/ Com muito orgulho/ Com muito amor…

E quando o senador Eduardo Suplicy insistia pra que apontassem quem era o líder da manifestação que cercou o Congresso Nacional, eles repetiam:

Eu/ Sou brasileiro/ Com muito orgulho/ Com muito amor…

Nunca, na história deste país, houve uma manifestação popular de tamanha dimensão. Nunca, na história deste país, houve uma manifestação popular sem a participação de políticos.

Querem comparar a manifestação desta segunda-feira ao movimento pelas eleições diretas e o impeachment do presidente Fernando Collor, mas não tem nada a ver.

O movimento pelas diretas e o afastamento do Collor foram organizados, tramados e manipulados pelos políticos.

E esse movimento que eclodiu concomitantemente em nível nacional foi da iniciativa única e exclusiva da cidadania, especialmente da cidadania jovem e, para desgosto da patrulha nacional, com a participação maciça e decisiva dos “sertanejos-universitários”.

Muitos dos jovens que cercaram o Congresso Nacional, e digo que a maioria esmagadora, estava no show do Gustavo Lima.

Burros?!

Burros são os integrantes da patrulha nacional que os chama de burros, só porque eles nãon aceitam ser filiados a partidos, não aceitam ser militantes nem cumprir tarefas.

Esquerda? Direita? Tô fora.

Ideologia? Eles querem uma para viver e como não há na prateleira, eles mesmos estão cuidando de traçá-las sem apelar para “líderes” e “ideólogos”.

São da geração Facebook, que não precisa de doutrinas. Às favas os compêndios de ideologias fracassadas e de puras teorias que não podem ser praticadas.

No lugar das bandeirolas com foice e martelo, o que estamos vendo é a Bandeira do Brasil tremulando. No máximo, uma bandeira branca pedindo paz!

Ih…mas isso me lembra John Lennon, quando pedia para darem uma chance a paz.

Peace!

Grande John Lennon, felizmente meu líder e guru, o sonho não acabou!