O estudante Jymmi Lima, que convocou o protesto em Brasília, não resistiu e chorou.
– Por que tá chorando, Jymmi.
E ele, emocionado e entre soluços:
– Cara, eu pensei que só tinha mil amigos. E são mais. São cinco, dez…vinte mil, cara!
Os mil amigos que o Jymmi contava para ele é o número de amigos que ele mantém adicionados no Facebook, e para os quais postou o convite para o primeiro protesto em Brasília na semana passada.
E vieram mais de 5 mil, segundo a própria polícia.
Esses protestos que eclodiram em todo o país deixaram as autoridades perplexas, não só pelo ineditismo de não ter sido convocado por partidos políticos, mas porque é o primeiro com base na mobilização pelas redes sociais da Internet.
E, ainda mais, convocado concomitantemente com a realização de um evento futebolístico que, no passado recente, se tornaria empecilho ao êxito do protesto. Caiu por terra, então, o conceito de que o brasileiro só reclamava na derrota da seleção brasileira.
As autoridades brasileiras sentiram que não é mais assim; sentiram que o caso é serio. E não sabem como reagir porque a pauta de reivindicações traz implícita uma insatisfação generalizada com os poderes constituídos – os três poderes.
Ou podres poderes.
O Executivo, o Legislativo e o Judiciário que estão aí decepcionaram a sociedade, que decidiu contratacar protestando nas ruas.
A presidente Dilma despachou o secretário Gilberto Carvalho para discutir com o Congresso Nacional a “mudança de prioridades” nas obras do governo.
Ora, se uma das reivindicações das ruas é educação e saúde de qualidade, e se o governo admite mudar as suas prioridades, então a educação e a saúde nunca foram prioridades para o governo.
Era tudo balela; era tudo promessas vãs de campanha.
A insatisfação generalizada passa pelo governo (Executivo) que não prioriza as ações sociais, pelos políticos (Legislativo) que não cumprem o que prometem, e pela justiça (Judiciário) que é demasiadamente lenta e tardia.
E nos três poderes há ainda a corrupção, que tanto envolve o político que superfatura obras, como o delegado envolvido com crimes e o juiz que vende sentença. Os três poderes estão igualmente atolados nesse mar de lama.
As autoridades estão assustadas e isto é bom para o país que se pretende construir. Porque enquanto os homens exercem seus podres poderes, a sociedade padece com a falta de saúde pública, educação de qualidade e honestidades nos poderes.
Que estão sim podres.
É apenas o começo. A verdadeira mudança só acontecerá quando o povo for às ruas. E é o que está acontecendo.