Ufa! O povo não quer mais só o circo. Quer pão também
   19 de junho de 2013   │     19:24  │  4

No livro “Os Carbonários”, do ex-guerrilheiro carioca e hoje ambientalista Alfredo Sirkis, ele conta que o que mais frustrou a luta armada foi ver a população passiva diante da copa do mundo de 1970.

Enquanto eles lutavam nas ruas, eram mortos ou presos e torturados, a população só pensava na seleção brasileira de futebol.

O próprio Sirkis conta que vivia na clandestinidade no Brasil e ao descer do ônibus em Copacabana viu a multidão em torno da vitrine de uma loja, onde a televisão reproduzia o jogo da seleção brasileira.

Foi nesse momento que se desiludiu e indagou para si mesmo: o que é que estamos fazendo?

Nesta quarta-feira, 19, eu me lembrei do livro do Sirkis e me preparei com um olho na televisão que passava o jogo do Brasil contra o México, e outro no noticiário sobre essa manifestação de rua que eclodiu em todo país por iniciativa exclusiva da cidadania.

E soube que o prefeito de São Paulo, Fernando Hadadd, que tinha dito que não voltaria atrás sobre o reajuste no preço das passagens dos ônibus e metrô, finalmente recuou.

Agora é tarde.

Se foi para desfazer por que fez?

Outra coisa: a questão não é o reajuste das passagens, ou seja, não é 20 centavos, nem 30, nem 50. A questão, ou o buraco, é muito mais embaixo.

Para eles o brasileiro era mesmo aquele fantoche de quem se falava e, com banana e bolo se engana os tolos. Para eles, bastaria o circo, ou seja, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo e tudo estaria sob controle.

Agora esteja.

E até mesmo no Ceará, onde o jogo da seleção foi realizado, a população saiu às ruas como nunca se viu. Acho que o Alfredo Sirkis está agora a imaginar: o que é que está se passando que ninguém soube?

Gente! Esta é a primeira manifestação popular no país que foi organizada sem a participação de políticos. Alguns ainda insistem em erguer estandartes de partidos e são apupados; observem que esses estandartes ficam lá na periferia do movimento.

Esses manifestantes já não acreditam nos partidos políticos, mas foram levados aos protestos pelos sucessivos erros de avaliação das autoridades. Ninguém entende, até agora, como pode a corte maior de justiça do país condenar alguém à prisão, e ninguém ser preso.

Como é que pode? Onde já se viu isso?

Armou-se aquele circo, com retóricas contundentes e palavreados técnicos para impressionar, e a sociedade descobriu que apenas era a plateia – cuja função é aplaudir sem reclamar.

E aí eles cansaram de ser geraldinos e arquibaldos e passaram a ser os protagonistas do show, que ninguém sabe quando vai parar, porque a questão não é 20 centavos nem o reajuste no preço das passagens.

A questão é muito mais profunda.

Em tempo: os carbonários foram manifestantes italianos que tomaram as ruas. O livro do Alfredo Sirkis foi escrito após a volta dele do exílio, com a anistia, no final da década de 1970. E quanta ironia agora para os Sirkis, porque os carbonários que ele imaginava naquela época só surgiram agora, depois de 40 anos de filosofia, políticas e lutas.

COMENTÁRIOS
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  1. Carlos

    A constatação eh a seguinte: ‘O gigante acordou’ – frase usada em um comercial de Tv sobre a Copa de 14, mas que estah servindo como ‘mote’ para os manifestantes. O povo que vai as ruas não eh o mesmo que recebe as ‘bolsas’ do governo, mas a ‘nova’ classe media, que, vendo o seu poder aquisitivo diminuindo a cada mês, não aguenta mais, e cobra as melhorias prometidas pelo mesmo governo que pretende se eternizar no poder. Por menos coisas que estas, Collor foi destituído do cargo de presidente. E mais perto de nos, o governador Suruagy caiu em desgraça, dando vez ao vice Mano provar que a politica de governar Alagoas a época, estava errada e com consequências ate os dias de hoje.

  2. JOAO MIGUEL

    BOB, VOCÊ COMO SEMPRE MUITO OBJETIVO. DE FATO OS BRASILEIROS AGORA COM TAIS MANIFESTAÇÕES ESTÃO MOSTRANDO PARA OS CACIQUES POLÍTICOS QUE COMANDAM O NOSSO PAIS QUE ESTÃO CANSADOS E COM MUITO FOME. FOME DE TUDO. PRINCIPALMENTE DE HONESTIDADE NO TRATO COM A COSIA PUBLICA.
    JOÃO MIGUEL

  3. Adriel Batista Correia de Melo

    Maceió,20/06/13
    Prezado Sr. Roberto Villanova

    Dá um desgosto terrível observar que o povo brasileiro valoriza demasiado o futebol.o País tem prejuizo enorme com as paralisações
    somente para torcer por ele.O gasto público dom estádios é imoral,mas
    os homens querem,pois ao invés de lutarem por melhores condições
    de vida,torce por futebol.Qual é a riqueza para a nação que esta moda-lidade de esporte trás ?.Nada !

    ADRIEL BATISTA CORREIA DE MELO

    PS:Os medicos e professores merecem ganhar o que o NEYMAR ganha.

  4. Observador

    Eu sempre achei estranho o fato da situação da Educação, Saúde, Segurança e Transporte ser crítica e o índice de popularidade da presidenta Dilma ser lá em cima! E alguns ainda me criticavam. Não é querendo ser “a mãe dos pobres” e distribuindo “bolsa disso, bolsa daquilo, vale disso e vale daquilo” e só ter metas para a classe paupérrima que vai se acabar com a pobreza. E classe média baixa como é que fica ? O resultado está aí : Com o preço das coisas aumentando pouco a pouco, começou a pesar nos bolsos dos estudantes, professores, comerciários, comerciantes, ambulantes, empregadas domésticas, motoristas, autônomos de um modo geral, e trabalhadores assalariados de um modo geral. Por isso que a presidenta ficou “uma fera” quando lhe perguntaram por que a inflação estava subindo. Só espero que as manifestações sejam pacíficas e que não descambem para a violência!

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