Monthly Archives: maio 2013

Querem acabar comigo
   23 de maio de 2013   │     9:06  │  3

Os deputados federais Carlos Sampaio (PSDB-SP), Márcio Bittar (PSDB-AC) e Ruy Carneiro (PSDB-PB) prometem entregar hoje no protocolo da Câmara a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) acabando com a pensão vitalícia para ex-governadores e prefeitos.

Pense na peleja que foi para os três tucanos juntarem o número regimental de assinaturas apoiando a PEC!

Mas conseguiram. Ufa!…

Todavia, há quem acredite ser mais fácil o sargento Garcia prender o Zorro do que a PEC ser aprovada. A farra das pensões para ex-governadores e ex-prefeitos não satisfaz apenas os atuais beneficiados, mas também os que sonham tê-la um dia.

Por dever de justiça devemos dizer que o ex-governador Fernando Collor foi o único no país a se recusar a recebê-la. Mas o exemplo não prosperou e agora os três deputados tucanos, tais quais os três mosqueteiros, pretendem decepar o privilégio definitivamente.

E o quer dirão os beneficiários?

– Querem acabar comigo. E isso eu não vou deixar.

Dilma, a Comissão da Verdade e a verdade de Lobão, o cantor
   22 de maio de 2013   │     13:55  │  3

Não partiu de um militar, mas de um cantor engajado a critica mais contundente até agora à Comissão da Verdade – que foi criada para apurar os crimes durante os governos militares.

Trata-se do Lobão, o roqueiro, que disparou referindo-se à presidente Dilma.

-“ Ela já foi terrorista. Ela sequestrou avião, ela pode ter matado. Como ela pode criar uma Comissão da Verdade e, como presidente, não se colocar? (para ser investigada) Deveria ser a primeira pessoa a ser averiguada”.

Lobão comprou uma briga feia, com essa entrevista que concedeu à Folha de S. Paulo.

Embora a abrangência da Comissão da Verdade venha de antes do golpe de 1964, o foco da investigação tem sido mesmo o pós-64 e, especialmente, o governo Medici e Geisel.

Foi nesse período que a repressão política foi mais violenta, mas há de se convir que se tratou de reação às ações mais ousadas dos opositores do regime – que chegaram à guerra de guerrilha.

Os excessos foram das duas partes.

A guerrilha do Araguaia, por exemplo, foi uma irresponsabilidade que os responsáveis não assumem.

Aqui em Brasília conheci o hoje oficial da reserva do Exército e na época 2º sargento de Artilharia, que prendeu o José Genoíno.

Ele diz que não é modéstia, mas conserta:

“Eu não prendi ninguém. Ele (José Genoíno) estava sentado embaixo de uma árvore, na beira da estrada, pedindo para ser preso.”

Depois de preso, o Genoíno foi colocado num helicóptero e entregou todo mundo. Esse amigo é sincero e procura fazer justiça, quando retira dos guerrilheiros a culpa pela morte de um sargento do Exército.

-“Quem matou o sargento (diz o nome) não foram os guerrilheiros não. Nós levantamos tudo; quem matou o sargento foi um mateiro conhecido por ( diz o nome ), porque o sargento estava tendo um caso com a mulher dele (mateiro). Foi coisa de chifre e nada tem a ver com a guerrilha.”

Foi sim uma época pesada, porque o mundo ainda estava dividido pela Cortina de Ferro e a guerra fria prosperava criando o verdadeiro clima de paranoia internacional.

Vários soldados do Exército foram assassinados enquanto tiravam guarda, e era simples recrutas que prestavam o serviço militar obrigatório.

E muitos jovens embalados pelo ideal marxista-leninista sonhavam mudar o país, sem perceberem que estavam segurando o rabo do foguete.

Há muito o que se apurar nessa Comissão da Verdade, mas já se sabe que há esse limite tácito que não convém ultrapassar.

Claro, é  preciso apresentar um culpado. E esse é o xis da questão: mas quem?

Crack quem te pariu? Quem foi o craque que te pariu?
   21 de maio de 2013   │     18:37  │  3

A hipocrisia e o fingimento estão para o ser humano assim como os pés estão para andar, o nariz para respirar e o ouvido para ouvir.

Todos nós temos um pouco, e uns têm muito, de hipocrisia e fingimento. Fingimos com convicção, na base do “é melhor fingir que não estamos vendo”.

Muitas vezes vemos o erro à frente, mas fingimos não vê-lo porque apontá-lo significa arrumar trabalho ou encrenca.

Entra nisso a covardia e o comodismo.

Costumamos usar o “não tenho nada com isso” como desculpa para nossas omissões, para depois aparecermos com a cara (falsa) de indignação.

Todos nós também temos um pouco do político oportunista e carreirista que costumamos criticar – aliás, nós costumamos criticar no outro o nosso lado (ainda) oculto.

É por isso que, uma vez no lugar do outro que era criticado, o ser humano que o criticava costuma repeti-lo.

Exemplos disso não faltam.

Ninguém viu o que estava acontecendo no Brasil em relação ao consumo de drogas, especialmente o “crack”. Somente agora é que se descobriu que o trem está feio; que o caos se instalou.

Para mim isso se dá como forma de “mea-culpa” dos que viram antes os erros e fingiram não vê-los por comodismo ou covardia.

Ah! Que triste! O “crack” está aí nos quatro Pontos Cardeais!

O cinismo de alguns irrita, mas não é pelo cinismo em si. É pela hipocrisia e o fingimento.

Esses indignados de agora se lembram muito bem do “fenômeno” que na década de 1980 foi registrado no Rio de Janeiro, com latas de Leite Ninho grandes cheia de maconha dando costa à praia.

Era a novidade. O genial Gilberto Gil compôs a música Novidade, que diz assim:

A novidade veio dar à praia

Na qualidade rara de sereia

Metade o busto de uma deusa Maia

Metade um grande rabo de baleia

A novidade era a guerra

Entre o feliz poeta e o esfomeado.

Por feliz entenda-se os que “tinham a sorte” de encontrar a novidade, ou seja, a lata de Leite Ninho. E o esfomeado era o azarento.

A imprensa, sem investigar direito, adotou a versão da polícia, segundo a qual as latas de Leite Ninho tinham sido atiradas no mar pela tripulação de um navio para escapar da abordagem policial.

Era mentira.

Sem explicação para o “fenômeno” da “novidade” a polícia inventou essa estória e a imprensa engoliu sem cogitar de que não se exporta maconha.

A verdade era que, com o temor do “crack” e na tentativa de evitar que o “crack” chegasse aos morros, os traficantes cariocas decidiram dar um presente aos clientes.

Foi um protesto que não deu certo, porque o “crack” venceu a reação até dos traficantes – que capitularam.

E venceu também o aparato policial que não dá conta de barrá-lo. E, igual ao poema do cubano Silvio Rodrigues, a polícia mata e aparece outro maior.

Até que fique tudo pedra sobre pedra. Literalmente.

Ou então, até que se mude o sistema que ainda vigora, apesar de ter dado errado; apesar de ter contribuído para a degradação que se vê hoje pelos quatro Pontos Cardeais sem distinção de raça e posição social.

Se o problema das drogas fosse caso de polícia, o “crack” não teria sido inventado. Nem a polícia e a sociedade estariam sendo derrotadas diariamente.

É ou não?

Apareceu a Margarida, olê, olê, olá!
     │     9:47  │  3

Bastou o governo anunciar a contratação de 6 mil médicos estrangeiros, e o Conselho Federal de Medicina encontrou a panaceia para os males da saúde pública brasileira.

Contrário à importação de médicos, o Conselho distribuiu nota oficial sugerindo ao governo criar a carreira específica de médicos do Sistema Único de Saúde.

Pronto! Está resolvido o problema.

Está não. A questão não é a qualificação dos médicos estrangeiros, mas a concorrência. Ninguém está preocupado com qualificação e bom atendimento ao público.

A proposta do governo é abrir as portas para os médicos cubanos, portugueses e espanhóis que desejam trabalhar onde os médicos brasileiros não querem estar.

É preciso dizer que, nos Estados Unidos, trabalham 190 mil médicos estrangeiros e na Grã Bretanha quase 50 mil; lá é comum o paciente ser atendido por indianos, por exemplo.

Já inventaram de tudo; inventaram que os médicos cubanos são na verdade guerrilheiros que vêm “fazer a cabeça” dos pacientes para a revolução comunista e já disseram que os cubanos vêm trabalhar para a reeleição da presidente Dilma.

Agora surge a proposta miraculosa, que é a carreira de médico do SUS. Sinceramente, não dá para acreditar por dois motivos:

1) Se é a solução preconizada agora, por que nunca foi apresentada antes?

2) O problema da saúde pública no Brasil é exatamente a cultura do ganho fácil, o que o SUS não garante. Logo: a carreira de médicos do SUS significa mais grevistas nas ruas.

Com os médicos estrangeiros o contrato de trabalho inicial de 3 anos deixa amarrado o compromisso de ele estar onde o povo – e não apenas o cliente particular – estiver.

Ou seja: nas capitais e cidades consideradas grandes, onde os médicos brasileiros se concentram e esbarram uns nos outros, não tem vaga para os estrangeiros.

E o povo precisa de médicos onde os médicos brasileiros não querem estar – e essa é a questão crucial.

Presidente do Supremo diz que partidos políticos são de mentirinha
   20 de maio de 2013   │     18:17  │  5

O ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, defendeu o voto distrital como forma de resolver os problemas da falta de representatividade no Parlamento e da sua submissão ao Executivo.

– “Temos partidos (políticos) de mentirinha” – disparou o presidente do Supremo, ao falar para os participantes de um curso jurídico em Brasília.

A fala do presidente do Supremo chegou ao Congresso Nacional, mas ficou pelos corredores. Ao afirmar que os partidos não têm representação e que o Congresso Nacional é submisso ao Executivo, Barbosa falou a verdade que muitos não gostam de ouvir.

O Congresso Nacional tem a proposta de Reforma Política adormecida; nas vezes em que se  tentou discuti-la esbarrou-se na reação dos que não querem reformar nada, porque fora do modelo atual eles não têm chance de se eleger e se reeleger.

Como estabelecer representatividade partidária, se isto implicaria na dificuldade de se criar partidos de aluguel?

E como tornar o Congresso efetivamente independente do Executivo, se é na negociação da aprovação da Medida Provisória que se tem a chance de barganhar com o governo?

A fala do presidente do Supremo é um puxão de orelha no Parlamento, mas essa discussão tem passado ao largo do Congresso Nacional. Ninguém é trouxa para aprovar leis que lhes dificultem a vida, e assim caminhará a sociedade com no máximo o direito de aqui e ali ouvir uma crítica de alguém do porte do ministro Joaquim.

Mas é só.

Há de se convir que tudo isso é consequência de uma origem republicana fisiológica e oportunista. Não podemos esquecer que foram os monarquistas que proclamaram a República brasileira e que, acima dos partidos políticos, estiveram sempre os “coronéis”.