A árvore está podre, mas o pulso ainda pulsa
   29 de maio de 2013   │     9:53  │  2

A árvore está doente e produzindo frutos ruins. Aí, eles internam os frutos para tratamento e punem a árvore.

A punição não vai impedir a árvore de continuar a produzir frutos ruins e o internamento dos frutos, para tratamento, não vai impedir que se reproduzam.

Essa é a lógica ululante.

Pois assim também é o projeto que a Câmara Federal aprovou sob a falsa ilusão de solução para o problema das drogas no país.

Há dois aspectos a se considerar na lei, um de natureza logística e outra de natureza social. Na questão logística pergunta-se: onde estão os hospitais equipados para tratamento dos viciados?

Ou dos frutos da árvore podre.

Alguém sabe?

E na questão social só os negros e pobres serão internados compulsoriamente, embora a questão das drogas há muito tempo que deixou de ser exclusividade da classe pobre.

Há muito, mas há muito tempo mesmo que a drogas desceram dos morros e se instalaram no asfalto, nas chamadas “zonas chiques”, onde moram viciados que dificilmente serão alvos dessa lei de internação involuntária.

E 5, ou 8 ou mais anos de cadeia para o traficante, ou para a árvore doente, tanto faz como tanto fez porque se a cadeia por si só resolvesse o problema não teria tomado a dimensão em que se encontra.

Além disso, a capacidade carcerária do país é de 300 mil presos. Mas já somam mais de 500 mil apenados, o que levou ao acumulo de 412 mil mandados de prisão que não podem ser executados porque não há vaga nas cadeias.

Vamos então construir cadeias, no lugar de escolas?

É o que alguns parecem defender sem levar em conta que agindo dessa forma serve de adubo para a árvore doente. Ou seja: alimenta-se esse ciclo no qual a polícia prende ou mata e aparece outro maior.

Num exemplo pontual de Maceió, muitos maceioenses não conhecem os conjuntos residenciais das quebradas, tipo Carminha, Freitas Neto, Denisson Menezes…e outros. E não conhecem até porque temem ir até lá.

Mas seria muito bom que fossem para entender essa violência que ninguém controla. Lá nas quebradas está uma juventude ociosa e, ao mesmo tempo, incitada ao consumo.

Uns se resignam e outros não. Pelo dia se drogam e à noite descem para a orla para tomar do turista ou do nativo bem aquinhoado o que o poder público lhe negou – que foi: educação e perspectiva.

Procura-se um pedreiro em Maceió e é difícil de encontrar; o mesmo acontece com um serralheiro, marceneiro, pintor e outros profissionais liberais.

Ao mesmo tempo em que também se procura o poder público com ações garantindo a perspectiva para essa população e não se encontra.

A árvore está doente e produzindo frutos podres. Para se curar a árvore e impedir que continue produzindo frutos podres só existe um caminho – que leva à raiz.

Fora desse caminho é atalho que não leva a lugar nenhum.

COMENTÁRIOS
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  1. M Silva

    Como seria louvável se os que estão em seus gabinetes, protegidos da violência, aos se atreverem criar leis ou regras, fizessem tal qual um ator que vai interpretar uma nova personagem, fosse fazer laboratório. Acredito que suas leis, seriam mais próximas do que realmente a “população doente” precisa.

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