Quem inventou o analfabeto e ensinou o alfabeto ao professor?
   8 de maio de 2013   │     13:12  │  5

Uma das postagens aqui no blog referiu-se à situação de um gênio igual a Graciliano Ramos, que se vivo fosse não poderia ensinar Português porque não é formado, não fez mestrado nem doutorado.

Imaginem! Ainda hoje no país não tem ninguém, formado, com mestrado e doutorado, capaz de suplantar Graciliano Ramos no conhecimento da língua. Pode existir alguém igual, mas melhor que ele não há e jamais haverá.

E o que dizer de Pontes de Miranda, que conhecia a Matemática melhor que conhecia o Direito. Se vivo fosse, Pontes de Miranda também não poderia ensinar Matemática porque não era formado, não tinha mestrado nem doutorado.

É triste, mas é verdade.

Minha geração foi feliz; nós não tivemos professores profissionais. Fiz o curso científico que hoje chamam de 2º grau no Colégio Moreira e Silva e os meus professores de Química e de Biologia eram acadêmicos de Medicina da Ufal; os professores de Física eram acadêmicos de Engenharia.

Todos muito bons; todos com muita vontade de ensinar.

Mas aí veio a profissionalização do ensino e o que seria para melhorar piorou; ficamos mais burros e sujeitos a greves que, igual ao Carnaval, todo ano tem na escola pública.

Com a profissionalização veio o corporativismo e a reserva de mercado. Para ser professor tem que se formar professor, embora ninguém no mundo até hoje saiba explicar quem inventou o analfabeto e ensinou o alfabeto ao professor – como indaga o gênio Chico Buarque de Holanda.

Se um gênio igual a Graciliano Ramos foi gênio por si só, isto quer dizer que títulos não devem ser levados em conta na formação do conceito de quem os detém. O fato de alguém ter mestrado ou doutorado não deve servir para abrir portas, porque Graciliano Ramos, Pontes de Miranda, e outros não precisaram de nada disso.

Eu defendo a tese de que o estudante de universidade pública retribua à sociedade ensinando nas escolas públicas mediante uma bolsa. Já pensou o seu filho na escola pública tendo aula com um acadêmico de Medicina ou de Engenharia!

Com todo o respeito, o acadêmico é melhor que o professor profissional porque está imune à acomodação. Não sendo profissional, o foco dele é repassar o que aprendeu a partir do princípio fundamental segundo o qual ensinando se aprende mais fácil.

Que bom que seria! Não haveria greve e, melhor, a reciclagem seria automática e anual; a partir de formado o acadêmico seria substituído pelo colega que ascendeu a sua série e assim sucessivamente.

Pois gente, não é que isso existe nos Estados Unidos? Fiquei boquiaberto ao ler a revista Veja com a entrevista nas páginas amarelas com a norte-americana Wendy Kopp, chamada de “a missionária da educação”.

Ela lançou a ideia nos Estados Unidos e a ideia já se espalhou por 25 países sérios. É o mesmo sistema que a minha geração vivenciou no Moreira e Silva.

A “missionária da educação” convocou universitários para ensinar em escolas públicas nos Estados Unidos, com resultado positivo incomparável com o sistema do professor profissional vigente no Brasil.

Na América do Sul, já aderiram à ideia a Argentina, o Peru, o Chile e a Colômbia. No Brasil a experiência inicial no Rio de Janeiro não deu certo, sabe por quê?

Porque o sindicato dos professores caiu em cima e impediu os universitários de lecionarem. Moral da história: quando você ouvir alguém pregar “mais investimento na educação”, não aprove. É golpe.

Investimento na educação só tem servido para fortalecer o corporativismo, que não tem compromisso com a qualidade de ensino e sim com o recheio do contracheque.  E que só tem servido mesmo é para expandir o analfabetismo.

COMENTÁRIOS
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  1. Júnior

    Tá certo que existem alguns professores com comodismo e didática péssima em relação a alguns que não são formados. Mas não vamos generalizar, qualquer um fica desmotivado com as péssimas condições de trabalho que o sistema oferece no ensino público de hoje. Salas com mais de 30 alunos, baixos salários, alunos que não querem nada com nada, estruturas sucateadas etc.
    Ora Roberto Villanova, você está falando de uma coisa a qual você não vive no seu dia-a dia. Lembro que quando o professor me dava uma bronca, eu ia para casa transtornado porque fiz uma coisa errada e o professor ficou com raiva. Hoje em dia tem alunos que batem espancam e humilham seus docentes. Fora o comodismo, manda-se a tarefa de casa e no outro dia menos de 10% trazem a mesma feita. Na minha época e olhe que não tem muito tempo eu recebia a tarefa de casa, e, mesmo sem saber ensinar, meus pais me mandavam fazer e eu ia, coisa que não acontece na maioria das famílias da classe menos favorecida de hoje. Existe a ausência da educação familiar que é levada para dentro da escola e o professor não deve exercer esse papel. Professor transfere conhecimento, família educa (Podemos até ajudar, mas não é nosso papel), o que nos deixa mais sobrecarregados e passivos de doenças como o estress.
    E a culpa é do professor? A culpa é desse sistema falido que o estado nos proporciona. Mas é isso que eles querem. Como dizia Paulo Freire “Seria uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que permitissem às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica”!!! Devemos lembrar ao Roberto Villanova que estamos em décadas diferentes e momentos diferentes. Vamos repensar os conceitos antes de escrever inverdades e besteiras.

  2. João Anderson

    Muito pertinente seu texto caro Roberto Villanova, é evidente que existe um grande rol de personalidade, escritores e gênios com os citados acima que não precisaram de títulos para serem historicamente inesquecíveis. Mas em discordância de suas sensatas palavras, sou favorável ao profissionalismo em todas as áreas, principalmente na educação. Imagine, um professor de forma alguma pode colocar um jaleco e medicar, mesmo sabendo os procedimentos básicos, caso dos seus professores da inesquecível Escola Moreira Lima, antes das politicas de sucateamento da educação, não só de nossa querida Alagoas, mas de todo o Brasil.
    O problema da educação não esta nos profissionais apenas, mas no incentivo a permanecia do alunado na escola, além da valorização do educador. Infelizmente isso é papel do Estado de Alagoas que através de seus gestores apenas se preocupam em divulgar propagandas enganosas. E finalizando meu caro, essa politica de colocar acadêmicos nas salas de aulas de Alagoas já existe, através da precária politica de monitoria realizado pela Secretaria de Educação a um bom tempo.

  3. CICERO

    Muito boa a vossa análise, contudo, ela lança luz sobre umas partes envolvidas, em outras palavras, é como se dissessemos que a única forma de acabar com a pobreza, seria acabar com os pobres. Ou como já diziam os mais vividos: “O buraco é mais embaixo”.

  4. NETO BARROS

    DITO ISTO, FICA COMPROVADO QUE O SISTEMA QUE NOSSO GOVERNO IMPLANTA , NÃO PASSA DE UMA FARSA, SOMOS INDUZIDOS A ACEITAR COISAS QUE NÃO FUNCIONA, OS AUTODIDATAS POR EXEMPLO, TEM A SUA PECULIARIDADE, FAZEM QUESTÃO QUE ALGUÉM APRENDA , SÓ PELO PRAZER DE PASSAR O QUE SABE, ISSO É UM LADO MUITO BOM. ENQUANTO OS DITOS INTELECTUAIS, QUEREM DESTAQUE SEM AO MENOS SE IMPORTAREM SE O ALUNADO VAI OU NÃO APRENDER. TER DIPLOMA AQUI NO BRASIL , É OSTENTAR UM TROFÉU PRECIOSO, VALE MAIS O ORGULHO HIPÓCRITA, QUE UMA SABEDORIA REPASSADA , É COMO FUNCIONÁRIOS EFETIVOS QUE PASSAM NOS CONCURSOS DE HOJE, POUCO INTERESSA SE A POPULAÇÃO É OU NÃO BEM ATENDIDA POR ELES,”ABSURDO” .
    LEMBREI AGORA DO SAUDOSO EDÉRCIO LOPES, NÃO ERA RADIALISTA E NEM JORNALISTA DE FORMAÇÃO, MAIS QUE DEU BANHO EM MUITOS FORMADOS NAS PROFISSÕES.

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