Será que a violência não começa em casa?
Há muito que perdemos a inocência e hoje sabemos o quanto que eram “bandidos inocentes” aqueles heróis da crônica policial na década de 1960, e até meados da década seguinte.
O “Fura Pacote”, que os mais velhos se lembram, era mesmo apenas um mito que a imprensa criou com a conivência da polícia – que, a priori, já tinha um culpado para tudo.
Roubaram isso, foi o “Fura Pacote”; roubaram aquilo, foi o “Fura Pacote”, assim como até bem pouco tempo era o tal de “Sandrinho” o autor de todos os maus feitos em Maceió.
Mataram o “Sandrinho” e os maus feitos não cessaram; pelo contrário, só aumentaram em gravidade.
A violência se disseminou pelo país e com mais perversidade. Em São Paulo, uma dentista foi queimada viva porque só dispunha de 30 reais na conta bancária.
E onde é que começa toda essa violência que ninguém consegue controlar?
Não dá mais para usar o estereótipo do bandido pela discriminação que muitos ainda exercem pela cor ou posição social. Preto e pobre não são mais suspeitos; há bandidos em todas as classes e profissões.
Mas se chegamos a tal ponto é porque a falha é conjunta, e não apenas do poder público. A violência começa em casa com o pai corrupto que ensina ao filho que o dinheiro não é mais fruto do trabalho, e sim da esperteza.
Ser chamado de ladrão não é mais ofensa e sim promoção. Ladrão virou sinônimo de esperteza, vivacidade, artimanha e – pasmem – inteligência.
Não se cobra a origem das riquezas que afrontam, porque afronta mesmo é não tê-las. Criamos o “bandido no bom sentido”, como a fábula do “bom ladrão”.
E se a violência começa em casa, é por isso que ela encontra guarida no poder público e justifica a omissão, a inércia, o desleixo e até a conivência daqueles que deveriam agir céleres e com rigor para punir os que delinquem.
Que cena macabra essa exibida com o flagrante do assassinato de uma pessoa lá no Conjunto José Tenório. E quão degradante saber que o suspeito é um agente público que age fria e abertamente para atirar pelas costas.
Quem sabe depois de matar à traição até soprou o cano da pistola fumegante e a pôs no coldre, e foi para casa assistir pela televisão o crime que praticou. E concluir:
– “Poxa! Seis tiros e só acertei quatro?! Preciso melhorar. Da próxima vez prometo não errar mais!
Bravo!
Mas, por favor me digam: finalmente, de que lado vem a violência?